Image
Crítica

Zopelar

: "Universo"

Ano: 2021

Selo: Apron Records

Gênero: Eletrônica, Jazz, Funk

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço, Guerrinha e Tui

Ouça: Back In Tha Game e Fire Pit

8.4
8.4

Zopelar: “Universo”

Ano: 2021

Selo: Apron Records

Gênero: Eletrônica, Jazz, Funk

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço, Guerrinha e Tui

Ouça: Back In Tha Game e Fire Pit

/ Por: Cleber Facchi 17/03/2021

Multi-instrumentista, produtor e importante agitador cultural da cidade de São Paulo, Pedro Zopelar tem uma capacidade única de transportar o ouvinte por meio da música. Basta um simples movimento dos sintetizadores ou uso estilizado das batidas para o público seja prontamente conduzido em direção ao passado. Canções que evocam as melodias funkeadas de veteranos da música brasileira, como Marcos Valle e Banda Black Rio, porém, partindo de uma linguagem deliciosamente atualizada, tratamento explícito durante o lançamento do ainda recente Joy of Missing Out (2020), lançado há poucos meses, mas que ganha ainda mais destaque nos temas eletrônicos e ambientações cósmicas que marcam o novo registro de inéditas do músico, Universo (2021, Apron Records).

Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, o registro apresenta parte dos elementos que serão explorados pelo artista logo nos primeiros minutos, na introdutória Process of Change. Entre camadas de sintetizadores que emulam arranjos de cordas e solos empoeirados de guitarras, Zopelar vai de encontro à produção dos anos 1980, lembrando os momentos de maior leveza de artistas como Yellow Magic Orchestra e Kikuchi Momoko. São melodias sintéticas que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, conceito que preserva parte da essência detalhista incorporada durante o lançamento do álbum anterior, porém, partindo de um novo direcionamento. Instantes em que o produtor rompe com qualquer traço de previsibilidade, mesmo mantendo a leveza da obra.

E isso se reflete com maior naturalidade na canção seguinte do disco, Back In Tha Game. São pouco mais de cinco minutos em que Zopelar brinca com a criativa sobreposição dos sintetizadores e batidas que vão do miami bass ao future funk de forma sempre labiríntica. Um lento desvendar de sensações que valoriza o uso de cada elemento apresentado pelo artista. Da construção das batidas ao tratamento dado às melodias e ambientações sintéticas, evidente é o esforço do músico em capturar a atenção do ouvinte. Esse mesmo cuidado pode ser percebido na composição seguinte, Cidade Jovem, música que alterna entre o funk, o city pop e o jazz, conceito que muito se assemelha ao som incorporado por Stephen Lee Bruner, o Thundercat, no ainda recente It Is What It Is (2020).

São justamente essas costuras instrumentais e canções que apontam para os mais variados campos da música que tornam a experiência de ouvir o álbum tão satisfatória. Como tem explorado desde a estreia em carreira solo, com Stepping Stone To The Future Of Space Exploration (2018), cada composição do disco parte sempre de uma base reducionista, porém, cresce na forma como Zopelar se permite incorporar diferentes abordagens criativas. Um misto de passado e presente, nostalgia e desconstrução, conceito que vai do diálogo com as pistas, em Fire Pit, faixa que evoca os momentos mais ensolarados da Teto Preto, grupo do qual faz parte, ao samba futurístico de City Heart, criação que transporta o ouvinte para um cenário à beira-mar, proposta que se reflete em outros momentos ao longo do trabalho.

Interessante notar que mesmo marcado pelas possibilidades, Universo, assim como os trabalhos que o antecedem, em nenhum momento soa como uma obra confusa ou consumida pelos excessos. Do momento em que tem início, em Process of Change, até alcançar a derradeira Break The Cycle, música produzida especialmente para a edição digital do álbum, Zopelar utiliza da base funkeada dos sintetizadores como um elemento de aproximação entre as faixas. É como se cada composição servisse de passagem para a faixa seguinte do disco, conceito que se reflete com maior naturalidade nos temas dançantes de Cruisin e Funny Game, dobradinha que aponta para a mesma sonoridade tropical de nomes como Todd Terje e Prins Thomas, mesmo preservando a identidade do produtor paulistano.

Ponto de equilíbrio entre o que há de mais acessível e torto na obra de Zopelar, Universo preserva o caráter delirante do artista, porém, estabelece no uso nostálgico dos arranjos, batidas e melodias empoeiradas um elemento de diálogo quase imediato com o ouvinte. São canções que parecem saídas de algum jogo de vídeo game, antiga trilha sonora ou memória enevoada, proposta que se reflete mesmo nos momentos de maior calmaria do trabalho e excessivo diálogo com a obra de outros artistas. Composições que costuram quatro ou mais décadas de referências em um precioso exercício criativo que continua a reverberar mesmo após o encerramento do álbum.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.