Disco: “A Idade dos Metais”, Os Sertões

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2012

Os Sertões
Brazilian/MPB/Alternative
http://www.ossertoes.rec.br/

Por: Cleber Facchi

Ao longo de toda a trilogia de registros em estúdio apresentados pelo Cordel do Fogo Encantado, a presença de José Paes de Lira, o Lirinha, parece se manifestar como a de maior relevância e impacto dentro da trajetória da banda. Talvez pelo posicionamento do artista como vocalista do grupo, fica estabelecido (de maneira involuntária) que todos os acertos que definem a história do coletivo se relacionam de forma quase direta com o cantor. Entretanto, para além da figura de destaque do artista pernambucano, parte do que traduz como acerto a carreira da falecida banda vem do bem estabelecido grupo de instrumentistas que acompanhavam Lirinha. Figuras essenciais como o violonista Clayton Barros que de uma forma ou outra dá continuidade aos inventos proclamados pela antiga banda.

Passados dois anos desde que o inventivo grupo de Arcoverde anunciou o fim das atividades – segundo o ex-vocalista ele e os companheiros de banda precisavam “trilhar novos caminhos” -, Barros parece partir exatamente de onde a Cordel parou com o maduro e sóbrio Transfiguração, de 2006. Último registro em estúdio do grupo pernambucano, o trabalho parece servir de base para boa parte do que o músico (acompanhado de uma trinca de novos colaboradores) desenvolve dentro do projeto Os Sertões. Menos regionalista que o projeto anterior do músico (e agora vocalista), mas ainda assim preso à cultura nordestina, o grupo brinca com o rock, o brega e diversos elementos da música local de forma atrativa, como um presente aos velhos seguidores da extinta banda do violonista.

Denominado A Idade dos Metais (2012, Independente) o registro de estreia do quarteto pernambucano amarra as pontas do que fora produzido em meados da década de 1970 (por nomes como Fagner e Zé Ramalho) com o que ecoa de mais sublime no romantismo contemporâneo. Lembrando por vezes como uma versão rústica da Banda Gentileza ou um Pélico passeando pelo solo quente do sertão, o registro estabelece as bases para o que o grupo deve converter em uma significativa trajetória, transformando versos honestos na premissa para cada uma das 10 faixas que costuram com lirismo todo o trabalho.

Mesmo que a relação com a antiga banda de Clayton Barros ainda seja constante durante toda a passagem da presente obra – a faixa instrumental Galope Rasante evidencia elementos bem típicos do que fora proposto no primeiro disco da CdFE -, basta uma passagem rápida pelo álbum para perceber que os rumos aqui são outros. Dos encaixes pop que passeiam pela inaugural (e romântica) Alamedas aos toques de reggae/Ska que se escondem em músicas como Da Infância e A Pedra, tudo puxa a banda (e principalmente Barros) para novos territórios. Em alguns momentos é até mais fácil aproximar o grupo de outros artistas, como Otto (do disco Certa Manha Acordei De Sonhos Intranquilos) e Siba (pré-Avante) do que da antiga banda.

Com uma produção de qualidade incontestável – e uma das capas mais belas que a cena nacional pôde fornecer nos últimos anos -, A Idade dos Metais acerta e cresce de forma notável pelo uso apurado da instrumentação. Se na faixa Em algum lugar temos a manifestação fina de um encontro entre Móveis Coloniais de Acaju e Roberto Carlos (da década de 1970), Cavaleiros da Ordem do Deserto e o clima brega festivo (temperado por uma soma competente de metais) eleva ainda mais essa percepção, com a banda transformando cada detalhe em um ponto necessário ao trabalho. A própria inclusão de duas músicas instrumentais, Galope Rasante e Silêncio, tornam claro o quanto as melodias por vezes têm uma influência muito maior do que as próprias letras expressas no registro.

Íntimo de uma proposta descomplicada e que parece dialogar com os mais variados públicos, a estreia da banda Os Sertões mantém uma diversidade de ritmos e possibilidades tão grandes que logo correspondem ao significado amplo do nome incorporado pela banda. Longe de propor quaisquer formas grandiosas de reformulações musicais, e até soando próximo de um resultado “convencional” em alguns momentos, o álbum assume as típicas funções de um registro de estreia, fornecendo subsídios para que a banda e o próprio público possam aos poucos se conhecer.

A Idade dos Metais (2012, Independente)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Siba, Otto e Banda Gentileza
Ouça: Silêncio, Cavaleiros da Ordem do Deserto e Alamedas

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.