Disco: “Abyss”, Chelsea Wolfe

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2015

Chelsea Wolfe
Experimental/Gothic/Alternative Rock
http://www.chelseawolfe.net/

Clima denso, doses exageradas de distorção, gritos, uivos e desespero. Bastam os minutos iniciais de Carrion Flowers para perceber que o som explorado por Chelsea Wolfe em Abyss (2015, Sargent House) é ainda mais perturbador do que qualquer outro registro entregue pela musicista. Uma obra controlada por pesadelos, guitarras sujas e a sempre voz melancólica da cantora, ainda íntima do mesmo catálogo de referências líricas que a apresentaram no final dos anos 2000, porém, dona de um material cada vez mais adulto, desafiador.

Longe de parecer uma extensão do último álbum da cantora, o também sombrio Pain Is Beauty (2013), cada faixa do presente disco soa como uma precisa desconstrução da curta trajetória de Wolfe. Nos versos, o mesmo caráter intimista e confessional originalmente exposto em The Grime and the Glow (2010). Entretanto, em se tratando dos arranjos e vozes, uma verdadeira explosão. Sentimentos e ruídos que arrastam o ouvinte até o último grito do trabalho.

Agressivo, Abyss potencializa uma série de conceitos e referências antes restritas dentro do trabalho de Wolfe. Da abertura com Carrion Flowers, passando por faixas como Iron Moon, Dragged Out e Survive, nítido é o interesse da cantora em brincar com diferentes aspectos do Rock Alternativo dos anos 1990 – principalmente Nirvana e PJ Harvey – sem necessariamente abandonar os tradicionais toques de música eletrônica incorporados no disco anterior.

Parte expressiva desse acerto está na escolha de John Congleton como produtor do disco. Mais conhecido pelo trabalho com a banda The Paper Chase, Congleton que já trabalhou com diferentes artistas como Swans, Nelly Furtado, St. Vincent e Sigur Rós assume a responsabilidade por manter a coerência dentro do álbum, amarrando todas as pontas soltas deixadas por Wolfe. Como resultado, o nascimento de uma obra tão íntima dos arranjos sombrios do Sun O))), quanto da eletrônica provocativa de Fever Ray.

Ao mesmo tempo em que diferentes gêneros são encaixados ao longo da obra, curioso perceber em Abyss o trabalho mais coeso, homogêneo, toda a carreira de Wolfe. Uma mesma paleta de cores e referências sóbrias, como se a cantora em nenhum momento ultrapassasse um restrito acervo de versos, arranjos e temas soturnos que se fazem evidentes ainda na primeira canção.

Do momento em que Abyss tem início, Chelsea Wolfe parece absorver e orquestrar o trabalho de artistas como The Cure, Karin Dreijer Andersson, Portishead e Swans de forma particular. A diferença em relação aos últimos discos está na expressiva representação da identidade da artista. Longe da personagem mística apresentada no álbum de 2013, com o novo disco Wolfe surge completamente exposta, mergulhando lentamente em dramas densos como em Iron Moon: “Meu coração é um túmulo / Meu coração é um quarto vazio / Eu o afastei / E nunca mais quero vê-lo”.

Abyss (2015, Sargent House)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Zola Jesus, Fever Ray e Swans
Ouça: Iron Moon, Survive e After The Fall

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.