Atoms For Peace
Electronic/Experimental/Alternative
http://amok.atomsforpeace.info/
Por: Cleber Facchi
Se há alguns anos a parceria entre Thom Yorke e Nigel Godrich parecia representar o que havia de mais inventivo no mundo da música – vide a atuação da dupla em obras clássicas do Radiohead como OK Computer (1997) e Kid A (2000) -, hoje ela entrega sinais claros de desgaste e profunda repetição. Uma série de colaborações pouco expressivas e que vem se repetindo desde o último grande ato do Radiohead, In Rainbows (2007), obra que reformulou não somente a sonoridade do grupo inglês, como parte da industria musical. Acomodados em uma temática que parece agradar principalmente ao duo, Yorke e Godrich dão sequência aos mesmos experimentos eletrônicos que vêm construindo há anos, fazendo de AMOK (2013, XL) não o primeiro disco do Atoms For Peace, mas um projeto de fachada para mais uma obra particular da dupla.
Partindo exatamente de onde o “Radiohead” estacionou no último disco, The King Of Limbs (2011), o registro praticamente oculta a presença de Flea, Joey Waronker e Mauro Refosco, também colaboradores da nova banda e figuras anunciadas com destaque durante todo o processo de construção do álbum. Com resultado, mais de 45 minutos de sonorizações previsíveis e maquiadas pela eletrônica convencional. Um trabalho que se orienta sem grandes transformações e serve especificamente para expandir o universo redundante cultivado por Thom Yorke desde o lançamento de The Eraser (2006). Já Godrich usa do disco para dar sequência às mesmas guitarras que carimbaram o trabalho de sua outra banda, a Ultraísta, projeto de acabamento bastante similar e que teve o primeiro álbum lançado em 2012.
Não há como negar que uma vez dentro do disco a dupla se concentra para aprisionar o ouvinte em uma sequência enérgica de sintetizadores, batidas eletrônicas e guitarras sequenciais que naturalmente hipnotizam. Músicas como Dropped e Default, por exemplo, são capazes de enganar sem muitas dificuldades qualquer espectador despreparado. Apostando em uma sonoridade que percorre de forma copiosa a fase solo de Thom Yorke, até mergulhar nas guitarras cíclicas do Krautrock (marca das produções recentes de Godrich), as canções até soam como um exemplar de pura novidade e transformação para quem passou os últimos anos preso às repetições do Indie Rock, entretanto, bastam ouvidos atentos para notar que tudo não passa de mais do mesmo e fórmulas já conhecidas – sem mínimo esforço em parecer diferente.
De formatação essencialmente sintética e faixas dotadas de forte proximidade rítmica, AMOK não se parece em nenhum momento com registro que saiu de estúdio, mas de uma fábrica escondida em algum laboratório caseiro de Godrich. Com um enquadramento musical sempre previsível, o álbum engata em uma sucessão de programações matemáticas que afetam profundamente os vocais de Thom Yorke – tratamento acústico identificado logo na primeira música do trabalho, Before Your Very Eyes. Em diversos momentos ao longo da obra, permanece a sensação de que a voz do britânico foi concebida graças ao auxílio constante de softwares ou programas específicos, um composto acinzentado que praticamente copia de forma artificial o que fora acertado em Kid A e não acrescenta em nada com o que Kraftwerk e outros representantes do gênero já não tenham experimentado de forma realmente satisfatória.
Ainda que se revele como um verdadeiro concentrado de soluções pré-programadas, em momentos rápidos espalhados pelo trabalho, a percussão e as batidas dos demais colaboradores fluem de maneira tão inventiva que praticamente se deslocam da linearidade sonolenta que toma conta do disco. São instantes raros como os que abastecem Stuck Together Pieces, em que Joey Waronker e o brasileiro Mauro Refosco finalmente mostram a que vieram. Mesmo a boa condução não consegue romper de forma definitiva com a massa eletrônica que se estabelece com o passar do disco, resultando em um trabalho de acabamento tão frio que deve causar arrependimentos em quem criticou The King Of Limbs.
Copioso e sem o esforço de acrescentar qualquer mínima invenção ao trabalho da dupla – independente de seus projetos particulares -, AMOK parece ser uma desculpa (falha) para que Thom Yorke e Nigel Godrich se enclausurem ainda mais na proposta redundante que parecem compartilhar atualmente. De maneira confusa, a presença dos demais colaboradores se manifesta como um reforço desnecessário, afinal, uma vez iniciada a obra, cada composição parece manifestar uma porção individual de seus dois maiores representantes. Da mesma forma que a execução de The Eraser respingou na produção do Radiohead, não restam dúvidas que com o Atoms For Peace o som do coletivo britânico pode ser abalado, o que faz com que o trabalho de uma das bandas mais inventivas das últimas décadas esteja próximo de desmoronar.
Thom Yorke quer te enganar, e não parece nem um pouco preocupado em esconder isso.
AMOK (2013, XL)
Nota: 5.5
Para quem gosta de: Ultraísta, Thom Yorke e Radiohead
Ouça: Stuck Together Pieces
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.