Disco: “Arabian Mountain”, Black Lips

/ Por: Cleber Facchi 21/05/2011

Black Lips
Garage Rock/Alternative Rock/Indie
http://www.myspace.com/theblacklips

Por: Fernanda Blammer

 

Se você acredita em discursos hipócritas de músicos oportunistas, que querem mudar a história da humanidade se valendo de versões vergonhosas de músicas do AC/DC, ou se você ainda acredita no rock como mecanismo de defesa de ideais ou causas, então passe longe de Arabia Mountain (2011),  sexto álbum de estúdio da descolada Black Lips. Defendendo como causa única a diversão, a banda de Atlanta faz de seu novo álbum um trabalho despojado e que cumpre a real tarefa do rock: a de divertir seus ouvintes.

Entre beijos e escarradas, socos e afagos, o quarteto formado em 1999 na capital da Georgia soube como poucos dosar o bom e velho rock garageiro com letras cômicas, acordes chapados e shows sempre tomados por sua intensidade. Depois de cinco álbuns, todos crescendo de forma assombrosa, tanto no quesito instrumental, quanto nas letras viajadas (sempre exaltando mulheres, porres homéricos e abusos de drogas), a banda atualmente composta por Cole Alexander, Jared Swilley, Ian Saint Pé e Joe Bradley faz de seu sexto disco um convite para que os ouvintes deixem suas vidas de lado e se entreguem de vez à folia e a descontração.

Desde que a banda passou a disponibilizar seus álbuns através do selo Vice – que hoje mantém o domínio sobre o trabalho de uma série de artistas, como o The Raveonettes, OFF!, Fucked Up e Chromeo – que a qualidade das composições, em vista do acesso a novos equipamentos e métodos de gravação, possibilitaram uma clara melhora nas criações do quarteto. Com o novo disco não é diferente. Graças ao suporte da gravadora, a banda trouxe ninguém menos do que o britânico Mark Ronson para a produção do álbum, que em parceria com os norte-americanos deu vida àquele que é o mais bem organizado disco da duradoura carreira da banda.

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Enquanto nos primeiros lançamentos o quarteto fazia de seus álbuns um concentrado de composições sujas, tomadas por gritarias desordenadas e uma climatização totalmente urbana, com Arabia Mountain é como se a banda fosse à praia, seguindo a direção tomada por um assombroso número de artistas nos últimos dois anos, mas sem que para isso precise cair em um mar de sonoridades clichês e ritmos enfadonhos. Toda a crueza encontrada nos antigos álbuns do grupo ainda estão presentes no novo trabalho, a diferença está no conjunto de inovadores instrumentos que vem para engrandecer ainda mais o som do Black Lips.

Normalmente um trabalho que contabilize mais de 12 ou 13 faixas acaba involuntariamente tomado por algumas composições mais fracas ou que poderiam claramente serem deixadas de lado, porém, isso não acontece com os lábios negros, que fazem com que suas 16 novas canções sejam todas essenciais. Ronson conseguiu que o quarteto mobilizasse sua energia de forma tão intensa quanto a encontrada nos primeiros álbuns da banda ou no já clássico Good Bad Not Evil (2007), complementando as faixas de maneira inovadora com arranjos de sopros e até pelo uso inusitado de um Theremin (tocado por Sean Lennon).

Em meio a tantos trabalhos tomados por uma maturidade excessiva ou aspirações desinteressantes, ter  Arabia Mountain como um mecanismo de escape é sem sombra de dúvidas um alívio. Nesses mais de dez anos de carreira é como se a banda ainda mantivesse o mesmo espírito e a intensidade jovial de sua estreia, temperando seus trabalhos pouco à pouco com pequenas doses de evolução, naquilo que de fato deve ser visto como “crescimento”.

Arabian Mountain (2011)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Wavves, Abe Vigoda e Best Coast
Ouça: Noc-A-Homa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.