Disco: “Audac”, Audac

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2013

Audac
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.audacmusic.com/

 

Por: Cleber Facchi

Audac

A primeira impressão ao mergulhar na estreia climática do Audac talvez seja a de perguntar: “De onde vem essa banda?”. A julgar pelos vocais em inglês e o clima sombrio que se esparrama confortavelmente pela obra, nada mais justo do que posicionar o grupo em algum lugar obscuro de Nova York nos anos 1980, ou mesmo Londres, no começo da mesma década. Um erro claro. Com os pés bem firmes na capital paranaense, Curitiba, o quarteto – formado por Alessandro Oliveira, Alyssa Aquino, Debbie e Pablo Busetti – ocupa os mais de 30 minutos do bem sucedido debut em um esforço de afastamento da cena nacional, sem necessariamente forçar a isso.

Do começo de carreira impulsionado pelas referências eletrônicas, ao resultado soturno que ocupa cada faixa da recente obra, a evolução se faz visível e constante no trabalho do quarteto. De natureza hermética e intencionalmente tímida, o álbum parece dividido entre composições de apelo climático (Back To The Future) e faixas que tendem naturalmente a acelerar (Dark Side). Uma espécie de descrição instrumental do clima sombrio e da vida noturna que ocupa a cidade de origem da banda – principalmente nas noites de inverno.

Sem o mesmo comprometimento de outras obras recentes – nacionais ou estrangeiras -, a estreia do Audac parece se desenvolver em uma medida de tempo própria. Como se buscasse extrair o máximo de cada instrumento ou melodia cinza, a banda acumula distorções, vozes e batidas bem posicionadas em um tratamento de cuidado expressivo. Parte disso vem da presença do produtor Gordon Raphael – figura quase “mitológica” que ajudou no delineamento de Is This It (2001) e Room On Fire (2003) do The Strokes -, que parece cuidar de todas as arrestas da obra.

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Em um propósito típico de um registro de estreia, a autointitulada obra faz de cada faixa um experimento voluntário. Enquanto The Bow River derrete os vocais e instrumentos em um sentido de aproximação com o Dream Pop, outras como Brian My Coin fazem com que a banda amarre todos os arranjos em um efeito claro de timidez. Sobra ainda para o quarteto brincar de Sonic Youth nas guitarras e temas que acompanham a música Real Painkiller. As pequenas doses de distorção, entretanto, nunca apelam ao exagero, inclinação que alimenta a obra até o último segundo.

É preciso observar que mesmo fragmentando cada música em um propósito fechado, a intensa relação entre os sons nunca rompe o que parece ser um ambiente específico projetado para obra. De composição acinzentada, o disco mantém até a última canção um tratamento homogêneo, como se cada faixa representasse um aspecto pré-determinado de toda a obra. Pequenos recortes de uma imensa composição. Dessa forma, é possível estabelecer uma linha imaginaria que liga a vinheta de abertura, Prelude, aos arranjos densos que finalizam o trabalho, em Back To The Future, ou mesmo todo o restante do trabalho em sentidos distintos.

Sem grandes transformações, o disco cresce em uma medida de controle específico, o que talvez desanime quem busca por composições de apelo fácil ou de detalhamento acessível. Audac, o disco, é um registro típico para ser “degustado”. A proposta está longe de se revelar como um erro para a banda, que ao desenvolver todas as canções dentro de uma rede cuidadosa de sons e vozes ponderadas, se esquiva de exageros e entrega ao ouvinte uma obra fechada, sem excluir e nem acrescer, apenas precisa.

Audac

Audac (2013, Independente)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Subbubia, Câmera e Single Parents
Ouça: Back To Teh Future, Distress e Dark Side

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.