Disco: “Bankrupt!”, Phoenix

/ Por: Cleber Facchi 28/02/2013

Phoenix
French/Electronic/Pop
http://www.wearephoenix.com/

 

Por: Cleber Facchi

Phoenix

Thomas Mars é um homem de pequenos hábitos. Usa sempre o mesmo modelo de camiseta, é apaixonado pela repetição de grupos específicos de palavras, aposta no uso cíclico dos ritmos e acompanha uma banda que desde o primeiro disco busca por um único resultado: alcançar a música pop perfeita. E foi exatamente isso que o Phoenix conseguiu quando transformou Wolfgang Amadeus Phoenix (2009), em uma das maiores obras pop que surgiram na década passada. Redundância precisas de tudo o que os franceses vinham cultivando desde o final dos anos 1990. Pequenos acertos plásticos que naturalmente transformaram Lisztomania, 1901, Fences, Rome e demais faixas espalhadas pelo disco em composições tão pegajosas quanto qualquer outra obra radiofônica.

Mas o que fazer depois de alcançar o almejado “pop perfeito”? Michael Jackson, por exemplo, precisou de cinco anos até assentar a poeira de Thriller (1982), e finalmente apresentar ao mundo o inédito e satisfatório Bad (1987). Já o The Beach Boys, depois do sucesso e de toda a influência gerada com o surgimento de Pet Sounds (1967), se arrastaria durante anos em meio a autoplágios que só seriam parcialmente rompidos em 1971, durante o lançamento de Surf’s Up. É justamente dentro dessa mesma necessidade de repetir os acertos de outrora que Mars e os companheiros de banda alimentam Bankrupt! (2013, V2/Glassnote), quinto disco de estúdio do grupo francês e uma copia (quase) exata do álbum lançado há quatro anos.

Se você descobriu a banda em 2009 ou no ano seguinte, e intencionalmente exclui os três registros anteriores ao lançamento de WAP, parabéns: você acaba de conquistar dez “novas” composições que seguem exatamente de onde o Phoenix parou quando Armistice botou os franceses em hiato. São os mesmos ciclos de acordes, as idênticas letras pegajosas, as mesmas marcas que transformam diariamente Thomas Mars em um homem de hábitos. Não um erro, apenas a repetição tradicional que em outras épocas fez de United (2000), Alphabetical (2004) e It’s Never Been Like That (2006) registros de intensa aproximação. Um disco que se esforça, brinca com as melodias, tenta ser bom, mas ao contrário dos álbuns que o precedem exagera. E muito.


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Como bem disse Bruno Natal (Urbe): “Se você não gostou de Entertainment, a primeira (faixa) a ser lançada, prepare-se: Bankrupt! é dali pra baixo. Um exagero oitentista (a essa altura), histeria de sintetizadores e uma preguiça criativa generalizada”. Prefiro acreditar que o disco tem seus bons momentos, porém, em um fluxo totalmente desorganizado, faixas derramadas sem qualquer ordem aparente, quase como um tratado entregue ao acaso. Quem espera por uma melhor audição da obra deve descartar toda e qualquer música que antecipa a chegada da faixa-título, afinal, é só a partir dela que o Phoenix realmente volta a ser a banda que hipnotizou a crítica e nadou pelo público durante as apresentações ao vivo. Antes disso, apenas o exagero instrumental capaz de transformar Battle Born (2012) do The Killers ou Angles (2011) do The Strokes em registros louváveis.

Ainda que Bankrupt! (a música) repita parte dos experimentos climáticos de Love Like a Sunset, do álbum anterior, é com a chegada da faixa que o grupo se desprende do som exageradamente festivo que quase chega a sufocar em SOS IN Bel Air. Um adeus ao que parecer ser o encontro cômico do Coldplay da fase Mylo Xyloto (2011) com os comerciais da franquia China In Box – ou você é capaz de negar o fato de que Entertainment parece um convite para experimentar um prato de Yakissoba em meio àqueles sintetizadores orientais? É só quando o exagero passa que Drakkar Noir, Chloroform e a incrivelmente assertiva Oblique City tem a chance de respirar. Músicas que reverberam a boa fase do Phoenix, brincam com o pop de maneira convincente e apresentam as possíveis transformações que o público talvez esperasse da banda depois do último disco. Quase um presente para os que conseguiram superar a esquizofrenia inicial do novo álbum.

Bankrupt! é uma decepção? De forma alguma. Em nenhum momento o trabalho quebra os limites impostos desde que Too Young apresentou os hábitos de Thomas Mars ao mundo. Porém, é preciso entender – e se desprender do fanatismo cego – que o novo álbum do Phoenix está muito longe de alcançar a mesma beleza lírica, as melodias e o pop que a banda  vem provando ser capaz de construir há mais de dez anos. Talvez o registro fosse melhor absorvido se proposto desde o princípio como um EP – até o encerramento de Trying To Be Cool o exagero é claro. Entretanto, os parcos instantes de acerto espalhados pelo disco satisfazem novos e velhos ouvintes, servindo como aperitivo e um meio caminho para um próximo trabalho. Apenas torça para a banda não mantenha o mesmo som e a forma atual.

 

Phoenix

Bankrupt! (2013, V2/Glassnote)


Nota: 6.0
Para quem gosta de: Passion Pit, The Strokes e Comida Chinesa
Ouça: Oblique City, Drakkar Noir e Bankrupt

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.