Disco: “Big TV”, White Lies

/ Por: Cleber Facchi 16/08/2013

White Lies
Post-Punk/Indie/Alternative
http://whitelies.com/

 

Por: Cleber Facchi

White Lies

Na escola do rock britânico, o White Lies ainda nem passou do primário. Preso em uma atmosfera musical que cresce em cima das sobras do Revival Pós-Punk, o trio londrino chega ao terceiro registro em estúdio fazendo exatamente o que conquistou com o debut To Lose My Life… (2009): um som quase plagiado e indisposto de qualquer forma de identidade. Há um esforço claro na atuação de seus integrantes, vocais naturalmente bem alinhados, um aproveitamento declarado de melodias fáceis, mas nada além disso, ou melhor, nada além do que outros artistas já não tenham testado.

Continuação exata daquilo que a banda apresentou em 2011, com o álbum Ritual, Big TV (2013, Fiction) reaproxima o trio Harry McVeigh, Charles Cave e Jack Lawrence-Brown dos mesmos sintetizadores implantados há dois anos, exercício que força o lado radiofônico do grupo a crescer ainda mais durante todo o trabalho. Com uma participação cada vez menor, as guitarras (herança assumida grupos como Interpol) crescem como um simples complemento para o trabalho, que mesmo longe dos temas “sombrios” dos registros anteriores, flertam com a mesma soma de condimentos pseudo-melancólicos que tanto caracterizam a proposta do trio.

A cópia da cópia, não há faixas no decorrer de Big TV que você não encontre em outros registros prévios, ou mesmo na própria obra do White Lies. Enquanto There Goes Our Love Again soa como uma versão adolescente do Interpol pós-Antics, Mother Tongue surge sem compromisso como alguma canção clichê dos anos 1980. Sobre espaço para a banda se perfazer de Depeche Mode em Getting Even, brincar de ser U2 nas guitarras de Be Your Man ou mesmo resgatar a fórmula pronta apresentada no disco passado com a faixa título.

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O que torna a audição de Big TV ainda mais desmotivadora não é a atuação do White Lies em si, mas perceber o quanto outros artistas próximos conseguem ir além dos mesmos exageros, sem esbarrar nas repetições do trio. É o caso das garotas do Savages, que logo nos primeiros instantes de Silence Yourself (2013) ultrapassam os clichês do Pós-Punk em uma postura musical/poética invejável. Mesmo os canadenses do Austra ou a banda estadunidense Beach Fossils parecem mergulhar na herança dos anos 1980 em um esforço de descoberta. Só de lembrar que o Wire está aí, há mais de três décadas sem declinar musicalmente, o demérito sobre o trabalho do trio inglês aumenta ainda mais.

Assim como os dois registros anteriores da banda, principalmente o último, o maior exagero do White Lies talvez seja falsificar um som adulto que nada mais é do que uma fórmula pronta. As guitarras, vozes e melodias são posicionadas de maneira tão similar, que se alguém embaralhasse todas as canções da banda, seria difícil classificar de qual disco cada uma é parte. Sim, os versos de There Goes Our Love Again são pegajosos, mas se você observar com atenção, verá que se trata de um aproveitamento das mesmas métricas e atos musicais de Bigger Than Us, Holy Ghost e qualquer outro single do trio. Nada é novo no trabalho do White Lies.

Entre passar o tempo imerso em um som que já ocupou os primeiros discos da banda, e muito provavelmente vai orientar os próximos, o melhor talvez seja ir atrás da fonte do White Lies. Não falo nem de veteranos dos anos 1970/1980, mas de artistas recentes como Interpol e Editors, que surgiram na última década e fornecem de maneira visível toda a “base” para o pastiche fabricado que é o som do trio britânico. Na “grande TV” do White Lies, a programação musical parece estática há muito tempo.

 

White Lies

Big TV (2013, Fiction)

Nota: 2.0
Para quem gosta de: Editors, Interpol e The Maccabees
Ouça: Space I e Space II

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.