Disco: “Boys and Diamonds”, Rainbow Arabia

/ Por: Cleber Facchi 13/02/2011

Rainbow Arabia
Experimental/World Music/Electronic
http://www.myspace.com/rainbowarabia

E quando tudo começou a ficar enfadonho demais e acabou partindo para um campo de experimentalismos sem sentido, eis que surge o casal Danny e Tiffany Preston com sua miscigenação sonora para botar ordem e restabelecer o equilíbrio. Boys and Diamonds (2011) primeiro álbum inteiro da dupla – que atua sob a alcunha de Rainbow Arabia – é um passeio sonoro multicultural, que cresce embalado por batidas e ritmos vindos dos quatro cantos do mundo, mas que aqui se convergem em uma linguagem única e detalhista.

Quer comparar com M.I.A.? O som deles te lembra Gang Gang Dance? Sentiu uma vibe meio Vampire Weekend pelo fundo? Não tem problema, afinal o som proposto pelo duo é exatamente isso. A família Preston convida você para um passeio ao redor do globo, experimentando detalhadamente cada nuance de som, cada método estranho de instrumentação, toda forma de vida que faça as partículas do ar vibrarem e consequentemente gerem todo tipo de fenômeno acústico.

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A viagem começa é claro que no Oriente Médio, onde até as tonalidades dos arco-íris da Arábia servem de inspiração, mas é na sonoridade tradicionalista desse território plural que o casal busca inspiração para criar a faixa que dá título ao disco. A instrumentação eletrônica ganha contornos orgânicos e se dissolve em criatividade por meio das batidas quentes feitas por Danny e enaltecidas pelos vocais de Tiffany. Uma lenta passagem pela África acaba por deixar suas marcas em Without You e Nothin Gonna Be Undone, faixas em que as batidas concisas de percussão se somam aos efeitos eletrônicos em um estado de quase êxtase. Impossível não se sentir compelido a dançar durante as duas composições.

Blind leva o ouvinte a viajar pela música jamaicana, enquanto pequenos toques percussivos ao fundo remetem ainda ao passeio pelo território africano. A viagem também atravessa o tempo, e vai buscar no synthpop dos anos 80 elementos para pluralizar ainda mais a gama de elementos que pontuam a sonoridade da dupla. Desse mesmo passeio vem Papai, que assim como a faixa anterior se prende menos no regionalismo e acaba se apoiando mais nas criações eletrônicas.

Porém a viagem multicultural continua com Jungle Bear, dessa vez estendendo o passeio até a America Central e suas ilhas caribenhas. A percussão mais uma vez se mostra como o elemento essencial dentro do álbum, até os vocais de Tiffany Preston fluem de maneira a circundar as batidas. Hai joga o casal para um hip-hop climático e que ecoa ritmos que vão do Senegal à Índia em segundos.

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No percurso final da viagem de Boys and Diamonds a dupla se prende de vez no lado eletrônico de suas invenções. Os ritmos, a miscigenação sonora e as múltiplas camadas que compreendem o trabalho do casal chegam agora apenas para adornar as inserções de sintetizadores e programações eletrônicas, embora a qualidade das composições siga tão intensa quanto no início do disco. Há até um momento meio The Knife em This Life is Practice, os vocais de Tiffany e a sonoridade lembram muito o trabalho dos irmãos suecos.

Essa estreia do Rainbow Arabia pode não fluir da maneira mais magistral ou inovadora possível, nada dentro do disco é inédito, mas como dito no começo deste texto, as faixas em nenhum momento chegam cansativas aos ouvidos. As texturas construídas pelo casal Preston denotam uma visível habilidade e consistência na forma de compor música. Synthpop e afrobeat transitam de maneira estável em um mesmo plano, como se desde os princípios da música fossem um único elemento. E o mesmo vale para todos os outros sons e formas que se encontram dentro desse disco. Boys and Diamonds é um daqueles trabalhos para serem dissecados pelos ouvidos, a fim de que seja aproveitado ao máximo.

Boys and Diamonds (2011)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Gang Gang Dance, M.I.A. e Panda Bear
Ouça: Without You

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.