Disco: “Codes & Keys”, Death Cab For Cutie

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2011

Death Cab For Cutie
Indie Rock/Alternative/Indie
http://www.deathcabforcutie.com/

Por: Cleber Facchi

 

Foi se o tempo em que o Death Cab For Cutie era um grupo exclusivo de um reduto número de fãs e um dos pequenos ícones da música independente norte-americana. A popularidade crescente da banda através de suas participações nos mais variados seriados televisivos (adolescentes ou não), os olhares da mídia sob o casamento de Ben Gibbard e Zooey Deschanel, e a superpopularidade de algumas composições apenas trouxeram maior visibilidade ao som do grupo de Bellingham. O leve toque no Mainstream e os olhares dos Paparazzi, entretanto, em nada prejudicaram as composições do grupo, tendo no novo álbum, Codes & Keys (2011), a maior comprovação disso.

Gibbard há tempos não transitava pelo mesmo panorama melancólico encontrado nos primeiros registros da banda (quando era ele seu único e ativo membro), algo que tinha em Transatlanticism (2003) seu ponto máximo e um grande concentrado de versos e sons que se guiavam por uma tristeza sem limites. Embora a temática depressiva ainda fosse o mote para algumas das obras recentes do DCFC, como Plans (2005) e Narrow Stairs (2008), tanto as letras quanto a instrumentação entregue pela banda – hoje composta por Chris Walla, Nick Harmer e Jason McGerr – mostravam um novo caminho, algo que não apenas evitava que o grupo caísse em repetições, como torna a proposta da banda sempre inédita.

Para o sétimo álbum, o grupo mais uma vez prima pela inovação, guiando as canções através de duas vertentes distintas, que fazem com que o som do quarteto se evidencie mais uma vez de forma nova e criativa. A primeira percepção repassada através do álbum vem do uso relevante de programações, efeitos, sintetizadores e uso moderado de bateria eletrônica, que dão ao registro uma leve aproximação com o que Gibbard desenvolveu ao lado de Jimmy Tamborello (Dntel) no The Postal Service. Porém, enquanto no projeto paralelo o som se inclina de forma expressiva para uma levada sintética, dentro de Codes & Keys tais elementos surgem como um complemento ao som da banda.

O primeiro representante desse tipo de som torna-se evidente logo na abertura do trabalho, através de Home Is a Fire. A levada enérgica, a parca inclusão de batidas e teclados, sem contar nos vocais carregados de efeitos fluem como um comprovante disso. Em Some Boys o mesmo ocorre, porém de forma mais esparsa, com a instrumentação sintética se ligando aos sons mais orgânicos desenvolvidos ao longo do trabalho.  Esse cruzamento se intensifica posteriormente em St. Peter’s Cathedral, com os toques de eletrônica funcionando como uma espécie de tempero às composições, inviabilizando que o som do álbum soe excessivamente similar aos demais registros do grupo.

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A outra temática desenvolvida dentro do disco vem inserida no funcional uso das guitarras, algo que através do último álbum (Narrow Stairs) passou a contabilizar maior espaço dentro da sonoridade do DCFC. Enquanto nos primeiros LPs da banda tudo era orientado em uma formatação mais acústica, com as guitarras expostas como se fossem violões, além do aplicado uso de pianos e sons diminutos, que davam aos discos um caráter intimista e comportado, dentro dos novos sons entregues pela banda tudo se organiza de forma levemente grandiosa, com as músicas ecoando alto e um uso melhor aplicado, tanto das guitarras, quanto da bateria.

Se antes havia um controle no tipo de som proposto pelo grupo – como se mesmo munidos da instrumentação necessária houvesse ainda um limite do que o quarteto poderia desenvolver – através do novo álbum tudo parece melhor solucionado, os acordes soando límpidos, grandiosos e por conta disso fazendo desse sétimo registro uma excelente mostra do que a banda é capaz. É quase possível afirmar que este é o trabalho mais “roqueiro” do DCFC, algo que fica comprovado em canções como Doors Unlocked and Open, com a guitarra Chris Walla prevalecendo, ou mesmo no hit You Are a Tourist, que mesmo tomado pelo pop separa a banda das densas massas sonoras de antes e ruma para um som mais direto e eficaz.

Claro que o tipo de som, que durante anos explicitava o que seria uma “música do Death Cab For Cutie” ainda se faz presente, porém mesclados dentro dessas duas vias que dão vida à Codes & Keys. A banda até aproveita ainda para experimentar um instrumental mais variado, como em Portable Television, soando de forma completamente distinta de algo que já tenha desenvolvido, ou em Stay Young, Go Dancing, que mesmo guiada por um contexto acústico apresenta a banda de forma mais alegre, nada intimista, despejando acordes ensolarados e totalmente distantes da tristeza de outras épocas.

Diferente dos demais álbuns do grupo, esse sétimo disco parece como um trabalho menos fechado, servindo quase como um aprendizado para que a banda explore novas formas de fazer som. Não é o que pode ser visto como uma evolução, afinal, tanto Transatlanticism quanto Plans prevalecem como os melhores registros do grupo, sendo trabalhos Instrumentalmente melhor resolvidos e donos dos mais belos versos já expostos pelo quarteto. Codes & Keys faz com que o DCFC escape da mesmice, mesmo que em muitos momentos pareça desconexo, não conceitual e não elaborando um dialogo entre as faixas, algo que guiava os anteriores trabalhos. Embora algumas faixas se revelem desnecessárias este é um disco que deve agradar aos fãs e ao que tudo indica agrada a própria banda.

Codes & Keys (2011)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Postal Service, The Shins e Birght Eyes
Ouça: You are a Tourist

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.