Disco: “Crush Songs”, Karen O

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2014

Karen O
Indie/Lo-Fi/Alternative
http://www.karenomusic.com/

Por: Cleber Facchi

A raiva incontida em grande parte das canções do Yeah Yeah Yeahs, muitas vezes parece ocultar a poesia doce costurada por Karen O. Seja na melancolia escancarada em Maps – uma das mais belas e honestas canções de amor dos anos 2000 -, passando por Little Shadow em It’s Blitz! (2009) e Wedding Song no ainda recente Mosquito (2013), o amor sempre encontra uma brecha para sobreviver na voz da artista, completamente entregue ao sentimento no interior do primeiro disco solo, Crush Songs (2014, Cult).

Confessional em toda a extensão, o “debut” se movimenta entre emanações brandas e sons prestes a se esfarelar. Uma obra de versos sussurrados, captações caseiras e toda uma ambientação dividida apenas entre a cantora e o ouvinte. Livre de um possível acabamento detalhista em estúdio, o álbum de 15 curtas composições é um bloco que não esconde a própria singeleza, carregando nos versos a principal ferramenta da cantora.

Sempre falando de amor – como o próprio título da obra logo entrega -, Crush Songs revela ao público todos os limites e pequenas imposições ainda na faixa de abertura, a triste Ooo. Trata-se de um catálogo de fragmentos sentimentais colecionados por Karen O ao longo dos últimos anos. Faixas talvez “simplistas” ou “pequenas” dentro do contexto musical grandioso do YYYs, porém, assertivas quando organizadas em conjunto, amarradas pela mesma trama sorumbática da recente obra.

Ainda que instalado no mesmo ambiente tímido de The Moon Song, faixa concebida especialmente para a trilha sonora do filme Her (2013), Crush Songs está longe de ser encarado como um material sereno. Como toda obra detalhada pelos percepções humanas, principalmente aqueles impulsionados pelo amor, a estreia solo de Karen O consegue ao mesmo tempo confortar (Day Go By), como despertar a insanidade do espectador (Beast). O próprio texto de apresentação do álbum (acima) traduz bem isso. Da mesma forma que não há certeza alguma no amor, instável é o caminho percorrido ao longo do disco.

Sem a necessidade de produzir um disco comercial – o trabalho foi lançado pelo selo Cult Records, de Julian Casablancas, e não pela Interscope do YYYs -, Karen se acomoda em um ambiente próprio, a ser desvendado lentamente pelo público. Com exceção de determinadas faixas, grande parte do material parece resolvido sem o auxílio de refrães, letras fáceis ou arranjos prontos para alcançar o grande público. Apenas ideias avulsas, propositadamente curtas – como a efêmera NYC Baby.

De formatação pequena, Crush Songs consegue sem grandes dificuldades parecer maior do que muitas obras recentes, inclusive quando comparado ao último álbum de estúdio do Yeah Yeah Yeahs, o espalhafatoso Mosquito (2013). Sem grande pretensões, Karen O revela ao público uma obra que parece sobreviver de momentos. Uma espécie de fuga particular e abrigo para as emoções mais sublimes da cantora, como as do próprio ouvinte.

 

Crush Songs (2014, Cult)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Alex Turner, SoKo e Cat Power
Ouça: NYC Baby, Day Go By e Beast

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.