Disco: “Cupid Deluxe”, Blood Orange

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2013

Blood Orange
R&B/Indie/Alternative
http://bloodorangeforever.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Não há gênero, ou possível cena que já não tenha abrigado o trabalho de Devonté Hynes. Da origem “Punk”, com o trio Test Icles, passando pelo lado pop do Lightspeed Champion, até alcançar o sucesso com os versos para Solange (Losing You) e Sky Ferreira (Everything Is Embarrassing), cada etapa conquistada pelo artista na última década parece surgir como um preparativo para o que surge sob nítida maturidade em Cupid Deluxe (2013, Domino). Segundo registro em estúdio pelo Blood Oranges, o álbum, mais do que apontar a evolução de seu criador, prova que todo conforto ou possível senso de estabilidade está longe de ser encontrado no trabalho do britânico – um dos personagens mais completos da música recente.

Livre da instabilidade que habitou os versos e arranjos de Coastal Grooves (2011), um típico trabalho de preparação, o músico deixa a timidez explícita para brincar de forma ilimitada com as canções. Posicionado de forma decisiva entre o fim dos anos 1970 e o início da década de 1980, Hynes encontra no romantismo da época o princípio para amarrar todas as composições do álbum. São resquícios da Soul Music de Prince, o R&B sintetizado de Michael Jackson e todo um conjunto de experiências iluminadas pelo neon que saltam os ouvidos a todo o instante. Blood Orange poderia apenas olhar para o passado, mas ele resolveu se transportar para lá.

Partindo exatamente de onde parou com Losing You – faixa escrita e produzida em parceria com Solange Knowles -, Hynes faz da inaugural Chamakay um princípio para o que define toda a composição da obra. Com os vocais divididos com Caroline Polachek (Chairlift), figura cada vez mais presente em outras colaborações do gênero, o britânico encontra na melancolia a base de sustento para todo o dueto. “Eu nunca vou deixar você, se você está pensando que é tudo a mesma coisa/ Eu nunca vou confiar em você se você está pensando que é apenas um jogo”, entrega o casal em um jogo de fragmentos sentimentais temperados pelo clima empoeirado dos instrumentos e vozes. Um mero aquecimento para o universo soturno que Dev Hynes desenvolve com visível cuidado e confissão.

Embora centrado no ambiente nostálgico dos anos 1980, Hynes curiosamente se esquiva de boa parte dos clichês que abastecem outros projetos do gênero. Partidário das mesmas experiências que envolvem a obra de Twin Shadow, Chad Valley e demais artistas próximos, o músico visita o passado não em um sentido de busca por um ponto em específico, mas como uma necessidade em percorrer diferentes cenários de uma mesma base temporal. Essa multiplicidade resulta tanto na composição de faixas mais dançantes, caso de You’re Not Good Enough, como de canções climáticas e extensas, vide Chosen. Uma espécie de imenso Greatest Hits, capaz olha para todas as direções de um mesmo período sem possíveis barreiras.

Em um exercício atento de substituir os erros de Coastal Grooves por acertos, Hynes deixa de lado a individualidade para garantir ao público uma obra essencialmente plural. Mesmo que a aproximação entre as faixas – em termos instrumentais – prive o ouvinte de uma possibilidade maior de gêneros, o catálogo amplo de colaboradores “escondidos” em cada música resume a grandeza da obra. Das rimas de Despot (em Clipped On) e Skepta (em High Street), passando pelos vocais adocicados de Samantha Urbani (Friends), em It Is What It Is, a interferência, mais do que um tempero para o trabalho do britânico, distancia a obra de um possível estágio de comodismo. Sobram ainda passagens de Dave Longstreth (Dirty Projectors), Clams Casino e Adam Bainbridge (Kindeness), exercício que apenas reforça o que Hynes iniciou há dois anos, mas parece compreender em totalidade somente agora.

Com ares de resumo cult dos anos 1980, Cupid Deluxe em nenhum momento parece distante do grande público, pelo contrário, trata-se de um álbum pensado em uma atmosfera “comercial”. Da melancolia hipnótica em Chosen e It Is What It Is, passando pelo groove de You’re Not Good Enough ou o Rap em High Street, faixa, após faixa, Dev Hynes declara de maneira nítida seu amor pelo pop, substituindo os instantes de redundância por uma obra que ultrapassa sem dificuldades os limites do comum. Detalhista e atento às próprias orientações, o disco segue como uma versão resumida dos inventos de Justin Timberlake, em The 20/20 Experience, ou quem sabe, a melhor representação de uma rádio romântica em fim de noite.

Blood Orange

Cupid Deluxe (2013, Domino)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Twin Shadow, Chairlift e Friends
Ouça: You’re Not Good Enough, It Is What It Is e Chosen

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.