Disco: “De Verdade”, Nevilton

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2011

Nevilton
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.nevilton.com.br/

Por: Cleber Facchi

Existe uma estranha ditadura que há décadas rege que, ou um artista mantém suas produções dentro dos limites da música alternativa (se relacionando exclusivamente com esses ouvintes), ou ele dialoga apenas com o grande público, consequentemente, perdendo os seguidores de seu antigo nicho. Dessa forma, há sempre uma relação de tensão, com o público desejando que sua banda favorita cresça, porém, sempre até certo ponto, fazendo nascer um artista que clama pela consagração, entretanto, não quer se desfazer de seus antigos seguidores. Um tipo de ordem quase imutável e que afeta todos os projetos que rompem o underground para adentrar o mainstream.

Estranho observar que desde seus primeiros singles e EPs o paranaense Nevilton de Alencar sempre esteve alheio a essa ordem ditatorial e obviamente tola. Cada composição por ele anunciada e por seus parceiros de banda sempre costuraram as duas pontas da cena musical, fluindo de maneira primorosa pelo cenário alternativo, ao mesmo tempo em que flertava de maneira (des)pretensiosa com o grande público. É justamente dentro dessa lógica que o músico e seus parceiros lançam agora seu primeiro registro em estúdio, ou como eles mesmos preferem anunciar, o primeiro disco De Verdade.

Lançado sob muita expectativa – ainda mais após a boa repercussão de seu último EP, o elogiado Pressuposto, de 2010 – a estréia de Nevilton, Thiago Lobão e Eder Chapolla surge como um tempero necessário ao rock nacional, carente de algum projeto capaz de desenvolver um som fácil, porém não falho e descartável. Hábeis artesões dentro dessa arte, o trio faz nascer um projeto convincente, um catálogo de 14 canções ensolaradas, faixas que explodem em um virtuosismo pop e descontraído, mas que passam longe de qualquer aspecto tolo e frágil.

Aos que acompanham o trabalho da banda desde seus primórdios, quando faixas como A Máscara e Bolo Espacial começaram a circular com destaque pela blogosfera, havia um grande medo e talvez até mesmo uma crítica ao trabalho do grupo: em estúdio, a banda não era nem metade do que evidenciava em suas apresentações ao vivo. Logo, havia uma grande preocupação em relação ao primeiro álbum do trio, afinal, teriam eles condições de confrontar em estúdio suas sempre intensas apresentações?

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A resposta para essa e quaisquer outras perguntas chegam antes mesmo que a terceira faixa acabe ecoando. De Verdade não apenas funciona como uma grande sequência de composições entusiasmadas e versos que grudam fáceis nos ouvidos, mas como um grande retrato vivo do que são as fenomenais apresentações da banda. Mesmo que isso já fosse visível ao longo do último EP, é somente agora que essa percepção torna-se realmente clara e inquestionável, com o disco todo surgindo como um belo encontro entre a excentricidade melódica do Pavement da fase Crooked Rain, Crooked Rain, com o Los Hermanos do álbum Ventura, usando como liga para unir esses dois elementos uma fina camada de rock brasileiro dos anos 80.

Provavelmente o único defeito (ou acerto, dependerá de seu ponto de vista) do álbum está no excesso de composições já conhecidas do público e o reduzido número de faixas inéditas que delimitam o disco. Das 14 canções do registro, apenas quatro são inéditas, o que acaba quase transformando o álbum em uma espécie de coletânea, um grande resumo do que o grupo veio desenvolvendo ao longo dos últimos anos. Ao menos a banda não poupou na hora de desenvolver uma nova roupagem para essas velhas conhecidas, fazendo com que pequenos clássicos como Delicadeza e Paz e Amores surjam adornadas por uma aura de novidade.

Mesmo reduzidas, as novas composições acabam obviamente satisfazendo, mostrando que Nevilton ainda terá muito tempo para nos surpreender. Melhor exemplo disso está na melódica Tempos de Maracujá, provavelmente uma das melhores canções que o músico já apresentou em tempos. Da sonoridade latente aos versos bem aplicados, a faixa evidencia a figura de um compositor em processo de maturação, algo que anteriores composições como O Morno e Do Que Não Deu Certo já transpareciam com propriedade.

É muito provável que para os moderninhos de plantão, De Verdade acabe soando como um trabalho demasiado pop ou até simplista demais. Entretanto, é justamente essa tonalidade radiofônica e livre de excessos que transformam o registro em uma das grandes estréias do ano. Entre todas as grandes bandas nacionais que habitam o atual cenário alternativo, não restam dúvidas que Nevilton e seus parceiros são aqueles que mais têm chances de adentrar o mainstream, posição que mesmo ocupada, ainda garantirá frutos tão bons quanto este nada óbvio debut.

De Verdade (YB Music)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Charme Chulo, Superguidis e Apanhador Só
Ouça: Bolo Espacial, Tempos de Maracujá e Delicadeza

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.