Disco: “Desire Lines”, Camera Obscura

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2013

Camera Obscura
Indie Pop/Female Vocalists/Alternative
http://www.camera-obscura.net/

Por: Cleber Facchi

Camera Obscura

Os limites instrumentais do Camera Obscura sempre estiveram bem definidos, talvez até antes que o primeiro álbum da banda fosse entregue ao público. Organizado no mesmo universo conceitual que abastece as composições do Belle and Sebastian e tantos outros destaques da música europeia – na maioria das vezes vindos de território nórdico -, a cada trabalho a banda mantém forte a relação instrumental e poética de uma maneira quase caricata. Uma similaridade musical e que faz com que mesmo sem grandes surpresas, o coletivo seja capaz de deleitar o público com uma sucessão de arranjos e temas convincentes.

Não diferente é o proposito que orienta o grupo de Glasgow, Escócia em Desire Lines (2013, 4AD), quinto registro da carreira. Dividido de forma natural entre arranjos dolorosos, canções de amor e composições ensolaradas, a banda faz com que cada uma das 11 composições que recheiam a obra alcancem o ouvinte sem qualquer dificuldade. Orquestrado dentro da mesma ambientação sonora iniciada em Biggest Bluest Hi Fi (2001), trabalho de estreia do grupo, o álbum segue até os últimos instantes em uma medida que vai da década de 1960 aos toque sombrio firmado pelo The Smiths em começo de carreira. Um trabalho previsível, porém, nem por isso menos belo.

Mesmo que pareça dividido em elementos específicos de sofrimento e alegria, o quinto disco, à exemplo dos demais lançamentos da banda, faz de cada composição uma morada para sentimentos e sons bastante específicos. Misturando dor e alegria em um propósito natural, o coletivo dança por memórias recentes e antigas, fazendo dos vocais de Tracyanne Campbell talvez o único ponto imutável da obra. Na paleta de cores que a banda usa para colorir o cenário do álbum, tanto tons escuros quanto cores primaveris podem ser encontradas em uma divisão quase exata. Uma proposta que inviabiliza a possível previsibilidade do trabalho e mantém o ouvinte preso até o ecoar da faixa de encerramento.

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Ao focar nos momentos mais alegres, a natureza criativa da banda se apresenta em uma medida rápida, trazendo as bases para aquilo que Los Campesinos! e tantos outros artistas mais recentes vêm recriando. É o caso de Do It Again, uma rajada de guitarras e vozes que capturam a instrumentação do clássico If You’re Feeling Sinister (1996), trazem de volta as melodias de vozes propostas há cinco décadas, e despejam tudo em uma medida comercial, pop e pegajosa. Um tipo de música matinal que se repete ainda em Troublemaker e Every Weekday, esta última reforçando as guitarras e sintetizadores em uma medida quase próxima da World Music.

Entretanto, é nos instantes mais sofridos que a banda realmente prova a beleza do registro. De esforço amargo, Fifth In Line To The Throne soa como uma triste canção de amor da década de 1960, ao mesmo tempo em que poderia ser encontrada em algum B-side esquecido dos Smiths. William’s Heart é outra que aposta na mesma formatação. A diferença está na poesia, que matura a busca por um personagem, exercício há tempos funcional dentro da discografia do grupo. Surgem ainda faixas como New Year’s Resolution e I Missed Your Party, música que dançam em uma mistura agridoce, tanto nos versos como na instrumentação pontuada por instantes de dor e exaltação constantes.

De fluência controlada, Desire Lines não parece motivado a competir com os mesmos arranjos grandiosos de My Maudlin Career (2009) e Let’s Get Out of This Country (2006), mantendo no toque ponderado das vozes, temas e instrumentos um trabalho que parece naturalmente ligado à termos como “agradável”. Não há surpresa, tampouco um rompimento com o cenário construído pelo grupo previamente, o que talvez explique a naturalidade com que o disco acaba convencendo o ouvinte sem qualquer esforço e uma estranha necessidade em querer ouvir de novo ao termino do álbum.

Camera Obscura
Desire Lines (2013, 4AD)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Belle and Sebastian, Los Campesinos! e Club 8
Ouça: Fifth In Line To The Throne, This Is Love (Feels Alright) e Do It Again

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.