Disco: “Elaenia”, Floating Points

/ Por: Cleber Facchi 10/11/2015

Floating Points
Electronic/Ambient/IDM
https://soundcloud.com/floatingpoints

 

A música de Sam Shepherd parece longe de seguir um caminho linear. Se há poucos meses a parceria com o conterrâneo britânico James Holden e o músico marroquino Maâlem Mahmoud Guinia resultou no curioso Marhaba EP (2015), em carreira solo, o produtor londrino parece brincar com a música eletrônica de maneira delicadamente instável. É o caso do recém-lançado Elaenia (2015, Luaka Bop / Pluto), uma obra tão íntima da sonoridade alicerçada pela música techno dos anos 1990, como do experimentalismo jazzístico que alimentou diferentes décadas e tendências.

Primeiro registro oficial de Shepherd em carreira solo, o álbum de apenas sete faixas e pouco mais de 40 minutos de duração reforça em cada composição um explícito sentimento de grandeza. Em segundos, um superficial jogo de batidas e bases dançantes, prontos para as pistas, no outro, uma imensa coleção de temas orquestrais, épicos, inevitavelmente íntimos do mesmo Post-Rock sustentado por Sigur Rós e outros conterrâneos do estilo.

Exemplo precioso de todo o material que sustenta a obra ecoa nos três atos da extensa Silhouettes. Do ruído inicial, passando pelo jogo rápido de batidas, arranjos orquestrais, pianos e pequenos respiros sintéticos, Shepherd resume quase seis décadas de produção musical em pouco mais de dez minutos de duração. Miles Davis encontra as melodias robóticas do Kraftwerk, Aphex Twin esbarra nas melodias densas do coletivo Slint e todo um conjunto de regras se parte de forma a atender o jogo de melodias que movimentam a obra do produtor britânico.

Mesmo em uma estrutura particular, essencialmente econômica, é fácil perceber em Elaenia a mesma estrutura encontrada pelo norte-americano Kamasi Washington no poderoso The Epic (2015). A diferença do presente álbum em relação ao trabalho apresentado há poucos meses está no sentido de adaptação encontrado por Shepherd. Enquanto Washington parece replicar a obra de John Coltrane, Herbie Hancock e outros mestres do jazz, o produtor britânico vai além, cruzando e encaixando referências de forma propositadamente irregular, moderna.

Mais do que um diálogo com o passado, a relação de Shepherd com diferentes núcleos da presente cena eletrônica parece movimentar grande parte do registro. Ainda que a herança de Kieran Hebden e toda a discografia do Four Tet pareça replicada em diversos aspectos do álbum, do pós-dubstep de Jamie XX e Mount Kimbie, passando pela sonoridade minimalista do parceiro James Holden, distintos conceitos e temas recentes parecem adaptados de forma sutil no interior da obra.

Com uma educação ancorada no trabalho de gigantes da música clássica (Claude Debussy), nomes de peso da música de avant-garde (Steve Reich) e até bandas icônicas como Radiohead e Tortoise, Sam Shepherd faz do primeiro álbum do Floating Points uma obra que flutua livre, sempre curiosa. 42 minutos em que a incerteza se transforma em um poderoso componente de atração para o ouvinte.

 

Elaenia (2015, Luaka Bop / Pluto)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Four Tet, Jamie XX e Aphex Twin
Ouça: Silhouettes (I, II, III), Elaenia e Thin Air

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.