Disco: “Gossamer”, Passion Pit

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2012

Passion Pit
Indie/Electronic/Pop
http://www.passionpitmusic.com/home

Por: Cleber Facchi

Existe o que parece ser um medo ou um preconceito tolo em rotular determinados álbuns como um genuíno fruto da música “pop”. É como se ao compreendermos um registro como um tratado de propósito comercial, melódico e acessível aos mais diversos públicos, toda a aura criativa em torno dele se perdesse em um universo de banalidades sonoras que bem definem grande parte dos trabalhos relacionados ao gênero. Entretanto, estranho olhar para o segundo álbum da banda norte-americana Passion Pit sem classificá-lo como parte do mesmo pop que há décadas alimenta toda uma gigantesca parcela da indústria fonográfica. Gênero que a banda não somente abraça como faz crescer em cada nota, verso ou vocal emulado que ecoa delicadamente ao longo do disco.

Ainda sob os comandos certeiros e direcionamentos coesos do Michael Angelakos, a banda de Cambridge, Massachusetts não só repete os mesmos acertos radiofônicos do álbum passado – o ótimo Manners, de 2009 -, como acrescenta uma variedade de experiências sonoras que apenas ampliam e engrandecem a boa condução do projeto. Em Gossamer (2012, Columbia), o grupo se revela como dono de um som menos hermético e por vezes distante da esquizofrenia em excesso que se apoderava de algumas faixas do primeiro disco – como na extensão de Let Your Love Grow Tall. Em nova fase o quinteto se renova, tornando visível uma série de referências que por vezes tocam a música negra, brincam com a eletrônica de forma inédita e conduzem o ouvinte ao longo de um trabalho crescente, doce e originalmente pop na mesma medida.

Assim como no primeiro disco, todas as boas sensações, coros de vozes e teclados voltados de forma nostálgica aos anos 80 estão de volta, com a diferença de que tudo parece maior, mais belo e entusiasmado. Logo de cara a dobradinha formada por Take A Walk e I’ll Be Alright nos posiciona na mesma lógica colorida que preenche o álbum, afinal, enquanto a primeira canção seduz pela fluência doce das palavras, a segunda prende pelo esforço dos sons. Elementos definem todo o restante do disco e que mais uma vez encaminham o quinteto para o mesmo bom desempenho do projeto de estreia dos norte-americanos. Contudo, ao mesmo tempo em que os dois discos soam musicalmente próximos, ambos caminham por vias distintas e bem definidas.

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O que separa Manners do novo álbum do Passion Pit é a proposta musical em torno dele. Enquanto o álbum lançado em 2009 era claramente um trabalho de força dançante e pronto para brilhar nas pistas (o que em partes ele alcançou), Gossamer é um disco que se distancia por completo desse conceito, apostando muito mais nos versos e na sonoridade grandiosa das canções. Mais “emocionado” o álbum imprime nas composições um resultado muito mais amplo e voltado ao reforço da black music. Experiência que engrandece de forma romântica o R&B de Constant Conversations (que muito lembra os primeiros anos de Michael Jackson) ou a soul music que por vezes tenta respirar no interior de On My Way e Cry Like A Ghost, músicas inteiramente perfumadas pela música negra norte-americana em suas diferentes e sempre ricas formas.

Com versos confessionais e envolto em saudade, melancolia e amor, Gossamer estabelece em certa medida uma forte aproximação com o primeiro EP da banda, Chunk of Change EP (2008), registro que trazia na sinceridade lírica e instrumentação diminuta todos os acertos de Angelakos. Velho parceiro do grupo, o produtor Chris Zane (que já trabalhou com Friendly Fires, The Walkmen e, claro, no primeiro álbum do Passion Pit) volta a colaborar e dividir a produção do novo disco, que mantém um padrão instrumental constante, como se todas as faixas absorvessem a mesma proposta sonora e lírica. Como resultado, temos um disco maior não apenas em número de faixas, mas na sutileza das formas, desempenho que transforma cada uma das músicas em um hit em potencial.

Mesmo que Gossamer parta de uma proposta diferente, não há como ignorar a intensa relação entre o álbum e Wolfgang Amadeus Phoenix, último registro em estúdio da banda francesa Phoenix. Melódicos e intencionalmente acessíveis na mesma medida, ambos os trabalhos abraçam a música pop sem medo, como se para além dos vícios que tanto definem o estilo, as duas bandas estabelecessem um resultado de inovação e reinvento. Em Gossamer, entretanto, o Passion Pit parece ir além, transformando cada uma das canções em criações duradouras, ricas em texturas e versos acolhedores que ultrapassam os limites do gênero. O pop está de volta e não há vergonha nenhuma em apreciar isso.

Gossamer

Gossamer (2012, Columbia)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Phoenix, Miike Snow e Matt & Kim
Ouça: Take A Walk, Constant Conversations e Cry Like A Ghost

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.