Disco: “House of Tolerance”, Cambriana

/ Por: Cleber Facchi 30/11/2012

Cambriana
Brazilian/Indie/Alternative
http://cambrianamusic.com/

Por: Cleber Facchi

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Quem passou a última década atento ao que foi produzido no cenário independente nacional talvez ainda observe o panorama musical goiano como um ponto de fuga para guitarras ensurdecedoras, distorções e gritos ásperos que cheiram a cerveja. Reduto de artistas como Black Drawing Chalks, MQN e outros grupos que buscam contraste ao universo musical sertanejo da cidade – casa de uma infinidade de duplas sertanejas -, a cidade também serve de palco para a sonoridade épico-delicada do septeto Cambriana, talvez a maior e mais inovadora banda que a capital de Goiás tenha visto nos últimos anos.

Engatando uma forte relação com muito do que ecoa na cena nova-iorquina do Brooklyn, o grupo rompe qualquer possível conexão com a sonoridade brasileira para abraçar de maneira criativa tudo o que vem de fora. Los Hermanos, Rock nacional dos anos 80, Manguebeat, Tropicália, Samba e Bossa Nova, esqueça qualquer forma de referência tupiniquim que tenha definido a cena brasileira dos últimos anos. Da primeira à última faixa de House of Tolerance (2012, Independente) a serenidade crescente das formas instrumentais se apega ao que há de mais inventivo em solo e nos fones estrangeiros.

Enquanto Vegas abre o álbum de forma suave, como se anunciasse boa parte do que vamos encontrar pelo restante do disco, as métricas inexatas de Astray intensificam o que já parecia visível previamente, aproximando o grupo do Grizzly Bear da fase Veckatimest – ou seria do primeiro disco do Local Natives? Sempre dentro de uma medida instrumental doce e orquestral, o que serve como complemento para as letras amarguradas e melódicas, lentamente o disco abandona os comandos brandos para explodir em guitarras, vozes e sensações, fazendo de Face to Face e Safe Rock as responsáveis pela maior conexão de um artista nacional com os acertos do Arcade Fire.

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Independente da forte relação com o que musicalmente define a cena norte-americana, com o primeiro álbum o grupo goiano passa longe de evidenciar um resultado copioso ou pouco inventivo. Melhor exemplo disso está na execução da faixa Waitress, canção que costura Animal Collective, Deerhunter e Grizzly Bear – além de uma pitada de Death Cab For Cutie – dentro de uma proposta renovada, musicalmente bem arranjada e dona de versos sempre marcantes. A mesma medida não é encontrada apenas dentro da mencionada faixa, mas de todo o registro, que passa longe de qualquer abordagem artesanal ou simplista. Cambriana é uma banda que soa grande e se esforça a todo o instante para manter isso.

Além da instrumentação memorável que contribui para o acerto da obra, a força dos vocais imprime outra clara marca do álbum. Em Swell, por exemplo, o que seria tratado como um rock singelo na instrumentação acaba dando lugar a uma canção que cresce de forma evidente em virtude do uso assertivo dos vocais melódicos e quase instrumentais – completando as lacunas da faixa. Até pequenos samples de vozes são encaixados no decorrer da música. Ora comandada individualmente pelos vocais de Luis Calil, ora expressa em coro pelos demais integrantes da banda, a condução vocálica do registro serve para expandir o disco, que ao ser trabalhado como um imenso coral cresce para além de qualquer limite.

A beleza vocal e sonora do álbum contribui para maquiar as referências estrangeiras, possibilitando que House of Tolerance passe longe de um projeto gratuito ou que não caminha com as próprias pernas. Mais do que apresentar o trabalho da banda goiana, o disco parece feito para atiçar a curiosidade do ouvinte, afinal, se o grupo conseguiu alcançar tal resultado em pouco tempo de existência, o que dirá os próximos lançamentos? Futuros imaginários à parte, a estreia de Cambriana se aproxima de obras como a de Silva (Claridão), Alice Caymmi e demais artistas recentes, tornando público que há algo de novo sendo explorado no repertório nacional, um cenário raro, e que ainda tem muito a revelar. House of Tolerance é apenas a ponta desse iceberg, tanto em relação à música nacional, como em relação à carreira do próprio grupo.

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House of Tolerance (2012, Independente)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Driving Music, Grizzly Bear e Death Cab For Cutie
Ouça: Swell, Face To Face e Waitress

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.