Disco: “Ilhabela”, Holger

/ Por: Cleber Facchi 13/11/2012

Holger
Brazilian/Indie/Tropical
https://www.facebook.com/holgerband

Por: Cleber Facchi

Refrescante como um gole de cerveja gelada em uma tarde quente, quando lançado há dois anos Sunga parecia uma resposta “nacional” ao crescente encanto de diversos artistas independentes pela cultura africana – fenômeno bastante em alta naquele momento. Influenciado de maneira clara pelo descompromisso pop de grupos como Vampire Weeknd, o primeiro álbum da paulistana Holger trazia na piada interna de seus componentes, bem como nas sempre acalentadas apresentações ao vivo, uma proposta inusitada ao cenário de entalhes sóbrios que se movimentava naquele instante. Um universo raro até então, mas que define boa parte do panorama “tropical” que guia a atual fase da música brasileira.

Talvez por conta desse calor e cores em excesso – além da já desgastada temática bem humorada e sem compromissos do grupo -, Ilhabela (2012, Avalanche Tropical) até seja capaz de descer como um gole da mesma cerveja vendida pela banda no primeiro álbum, porém, agora quente e difícil de ser encarada mais de uma vez. Longe do clima tribal de outrora – bem exemplificado no jogo de palavras da faixa Beaver -, ao alcançar o segundo disco a banda substitui o espírito africano para incorporar de vez o Axé, proposta já assumida na estrutura calorosa de Let’em Shine Below (do primeiro disco), e agora expandida de maneira bem planejada no atual projeto.

Com produção assinada por Alex Pasternak, da banda norte-americana Lemonade, Ilhabela – o nome vem do município–arquipélago situado no litoral paulista – traz na sonoridade o grande e incontestável acerto de todo o trabalho. Bem planejado do princípio ao fim, o álbum ecoa guitarras suavizadas e claramente influenciadas pelo clima litorâneo do Axé baiano da década de 1990, além, claro, de uma curiosa relação com Os Paralamas do Sucesso pós-Selvagem? – basta ouvir a faixa-título para perceber. Soma-se a esse mundo de referências uma natural aproximação com o que Pasternak e os parceiros de banda encontraram dentro do recente Diver (2012), registro que vive de forma ativa no interior de faixas como Treta e Pedro, extensões “abrasileiradas” do trabalho. Todavia, mesmo a assertiva construção sonora do disco não consegue salvar o registro das letras fracas que costuram toda a extensão da obra.

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Quebrando o ritmo crescente do trabalho anterior (e até volumoso na maneira como as letras eram pensadas), com o recente projeto temos a formação de um disco pensado exclusivamente em cima de versos específicos, momentos ou palavras rasas. É como se toda a lírica que envolve as faixas fosse posta de lado de forma rude, com o grupo se importando exclusivamente na valorização de determinadas frases de efeito – como o “fazer amor/ seja o que for” penoso de Se Você Soubesse –, ou apenas palavras engraçadinhas e musicalmente implantadas – o “sensual” da faixa acima mencionada e até mesmo o “tropical” redundante aproveitado por todo o disco e mais especificamente no rap de Infinita Tamoios.

Assumindo essa proposta o grupo acaba abraçando de forma pouco adulta a construção de um trabalho forçado e naturalmente descartável, afinal, por mais pegajosos que sejam estes “instantes”, no restante do tempo as músicas morrem de forma definitiva, impedindo um possível (e já esperado) crescimento do álbum. Parte disso vem da provável transformação da banda, que abandona lentamente os versos em inglês – marca desde o EP Green Valley – para cantar em português (ou quase isso). Em diversos momentos fica a sensação de que estão ouvindo versões de músicas inicialmente compostas em inglês e erroneamente traduzidas para o idioma nacional, não de maneira adaptada, mas no melhor estilo “Google Translate”. Além do quase descaso com as letras (ou despreparo), Ilhabela soa em vários instantes como um trabalho de apresentação para o selo Avalanche Tropical, casa da banda e marca explícita nos versos da faixa título.

Ainda que o descompromisso e as letras fáceis sejam marcas engenhadas com foco nas apresentações ao vivo do grupo, em estúdio essa estrutura rasa acaba por comprometer a formação do álbum, registro que lentamente se esfarela e passa longe do mesmo toque criativo de outrora. Mesmo a estrutura sonora competente (e até livre de alguns exageros épicos antes mapeados) se perde em meio ao rumo incerto e até tolo dos versos, resultando em um composto diversificado em conceitos e apostas, porém inconsistente e quase impossível de ser absorvido quando observado como um registro único. Talvez o disco seja apenas uma brincadeira como o grupo insiste em tratar cada faixa, porém, fora do contexto próprio da banda, essa estrutura parece não ter a mínima graça.

Ilhabela (2012, Avalanche Tropical)

Nota: 5.8
Para quem gosta de: Lemonade, Banda Uó e Homemade Blockbuster
Ouça: Infinita Tamoios e Ilhabela

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.