Disco: “Kiss Land”, The Weeknd

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2013

The Weeknd
Canadian/R&B/Electronic
https://www.facebook.com/theweeknd

 

Por: Fernanda Blammer

The Weeknd

Sabe a sensação de piscar, perceber que um disco inteiro passou e você não conseguiu extrair nada dele? Assim é Kiss Land (2013, Republic/XO), novo álbum do The Weeknd. Representação genérica do mesmo cenário doloroso/erótico da trilogia – House of Balloons, Thursday e Echoes of Silence – que apresentou o produtor canadense em 2011, o aguardado “debut” mais parece uma extensão de tudo o que Abel Tesfaye vinha promovendo, mas em uma versão ausente de brilho. Reaproveitamento de temas, versos e bases sonoras arrastadas, o disco não apenas tropeça no mais do mesmo, como afunda por completo na preguiça e ausência de inspiração.

Teria o artista gasto toda a capacidade em compor e produzir com a trilogia inicial? A sequência aprimorada de grandes faixas lançadas em um curto espaço de tempo teriam exaurido a criatividade do produtor? A julgar pela incapacidade do canadense em prender o ouvinte ao longo do novo disco, a sensação é exatamente essa. Mesmo quem chega agora, sem ter espiado o catálogo de emanações sombrias da trinca inicial de álbuns, vai se deparar com o óbvio. The Weeknd virou Chris Brown, Tyga ou qualquer outro nome tão desgastado dentro do gênero, que pode facilmente ser confundido. A voz é dele, mas todo o resto não é.

Afundado em drogas, sexo, melancolia e desespero, Tesfaye trouxe há pouco tempo faixas como The Morning, Thursday e Wicked Games, canções que mais parecem desequilibrar a fórmula do R&B tamanho o detalhismo que acompanha os versos e, principalmente, os sons. Imerso em samples de Beach House, Aaliyah, Cults e Cocteau Twins, o produtor encontrou um cenário musical isolado, efeito que abasteceu criativamente até a obra de outros artistas centrados no mesmo estilo. Mesmo ao brincar com Dirty Diana, clássico de Michael Jackson, a identidade de Tesfaye é tamanha que a faixa simplesmente deixa as mãos do “Rei do Pop”, para se transformar em um invento do canadense. Em Kiss Land você não encontra nada disso.

Tão plástico quanto os trabalhos assinados pelo produtor para outros rappers, o novo álbum parece fluir como um bloco previsível de sons, pronto para consumo. Basta comparar a parceria com o conterrâneo Drake, em Live For, com a mesma colaboração firmada na faixa The Zone, do disco Thursday. Enquanto no álbum de 2011 a música carrega vocalizações precisas e crescentes, uma base atmosférica alicerça com parcimônia a chegada do convidado. Tudo é preciso, cuidadosamente posicionado. Agora, vozes, sons e rimas se aglomeram em uma massa densa, indistinta, efeito que pasteuriza toda a extensão do álbum. Do sample de Machine Gun (Portishead) em Belong To The World, ao texto ensaiado que inaugura o disco, com Professional, tudo faz converter a obra do canadense em um jogo atento de ideias repetidas e fáceis de serem antecipadas.

Em uma tentativa de estabelecer o disco como uma obra de efeito conceitual, Tesfaye espalha pela arte do registro e vídeos relacionados ao trabalho diversas referências orientais. É como se o produtor desenvolvesse ao longo do álbum uma espécie de território particular, um espaço onde colegiais japonesas dançam de acordo com as orquestrações mezzo letárgicas do artista. A proposta nada mais é do que uma tentativa de falsear ou talvez engrandecer o que se revela vazio no conteúdo das canções. Seja na saudade de Adaptation ou no romantismo de Love In The Sky, Kiss Land é uma obra que mais parece arquitetada por outro produtor e apenas assinada por Tesfaye.

Das poucas músicas convincentes do disco, apenas Tears In The Rain parece igualar o mesmo teor de confissão e beleza dos registros passados, marca sustentada nos falsetes e na letra dramática que não custa a encantar. No restante, apenas ideias repetidas, talvez aceitas em isolamento, mas que desmoronam o universo temático do produtor assim que postas no mesmo cenário. Abel Tesfaye tinha tudo para firmar um pequeno reinado na nova safra do R&B, mas o que ele conseguiu com o novo disco é apenas ser igual aos outros, ou talvez nem isso.

 

Kiss Land
Kiss Land (2013, Republic/XO)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Drake, Miguel e The-Dream
Ouça: Tears In The Rain

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.