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Crítica

Beyoncé

: "Lemonade"

Ano: 2016

Selo: Parkwood / Columbia

Gênero: R&B, Pop, Hip-Hop

Para quem gosta de: Rihanna, Solange e Kanye West

Ouça: Formation, Freedom e Hold Up

9.0
9.0

“Lemonade”, Beyoncé

Ano: 2016

Selo: Parkwood / Columbia

Gênero: R&B, Pop, Hip-Hop

Para quem gosta de: Rihanna, Solange e Kanye West

Ouça: Formation, Freedom e Hold Up

/ Por: Cleber Facchi 02/05/2016

You mix that negro with that Creole make a Texas bama
I like my baby heir with baby hair and afros
I like my negro nose with Jackson Five nostrils“

Coreografias transformadas em atos de enfrentamento à violência policial, símbolos e fotografias reforçando a luta da comunidade negra, o cabelo crespo em oposição ao alisamento, New Orleans embaixo d’água. Em fevereiro deste ano, quando apresentou ao público o clipe de Formation, Beyoncé parecia revelar apenas a ponta do imenso iceberg de referências do novo registro de inéditas. Em Lemonade (2016, Parkwood / Columbia), sexto álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana, um mundo de detalhes, citações, personagens e histórias que dialogam diretamente com o passado e a cultura negra dos Estados Unidos.

Do título inspirado em uma fala da avó de Jay-Z – “eles me serviram limões, mas eu fiz uma limonada” –, passando pelo clássico discurso de Malcolm X – “quem te ensinou a se odiar?” – e versos assinados pela poetisa queniana Warsan Shire, Lemonade se projeta como uma obra a ser desvendada de forma atenta. Seja na estrutura musical que orienta o disco – repleta de bases extraídas de clássicos do soul, blues Hip-Hop e R&B –, até alcançar o registro visual que sustenta o trabalho – uma parceria entre a cantora e diretores como Jonas Åkerlund, Mark Romanek e Melina Matsoukas -, uma rica tapeçaria conceitual se desenrola da abertura do disco, com Pray You Catch Me, ao fechamento em Formation.

No time de produtores que assinam o trabalho, “novatos” como o britânico James Blake, responsável pela curtinha Forward, faixa que poderia facilmente ser encontrada no último álbum do produtor, Overgrown (2013). Em Hold On, uma espécie de síntese do imenso coletivo de artistas que cercam Beyoncé ao longo da obra. São 15 compositores, entre eles a dupla formada por Diplo e Ezra Koenig (Vampire Weekend), o cantor e compositor Father John Misty, a cantora Emile Haynie, o inglês MNEK e o trio Brian Chase, Karen Orzolek e Nick Zinner, do Yeah Yeah Yeahs, responsáveis pelo verso central da canção – “They don’t love you like I love you” –, originalmente apresentado em Maps, de 2003.

Comparado ao antecessor BEYONCÉ, de 2013, o presente álbum se mostra um trabalho musicalmente versátil. Enquanto o registro entregue há três anos flutuava em meio a batidas e bases típicas do R&B/Hip-Hop dos anos 1990, em Lamonade, Beyoncé brinca com os ritmos. Há espaço para o rock clássico em Don’t Hurt Yourself, música que conta com samples de When the Levee Breaks do Led Zeppelin e produção de Jack White; blues na semi-acústica Daddy Lessons e até um resgate de elementos clássicos do soul em All Night, faixa que mais se aproxima do material apresentado pela cantora no álbum 4, de 2011. Ideias e ambientações que transportam o ouvinte para diferentes cenários ao longo da obra.

Se há três anos a temática do empoderamento feminino era transportada para dentro do quinto registro de inéditas de Beyoncé, vide a parceria com a escritora Chimamanda Ngozi Adiche nos versos de Flawless, em Lemonade, a cantora vai além. Ao mesmo tempo em que discute os próprios sentimentos em faixas como Hold Up, Love Drought e Sorry, esta última, centrada em uma suposta traição de Jay-Z, cresce na poesia política da cantora e seus convidados o grande acerto do trabalho. Fragmentos que se agrupam ao longo do disco, mas que acabam se expandindo com maior naturalidade em Freedom, parceria com o rapper Kendrick Lamar – junto de Formation, a canção mais forte do disco.

Lançado em um período turbulento, dialogando com a série de conflitos, manifestações e assassinatos de jovens negros nos Estados Unidos, Lemonade é uma obra que se relaciona de forma instigante com o presente. Em uma estrutura comercial, essencialmente acessível, uma extensão do mesmo material produzido por Kendrick Lamar há poucos meses em To Pimp a Butterfly (2015). Assim como no álbum apresentado pela cantora em 2013, a prova de que o pop pode ser pensado para as massas e ao mesmo tempo provocar, mantendo firme o discurso que cresce ao fundo do trabalho.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.