Disco: “Light Up Gold”, Parquet Court

/ Por: Cleber Facchi 21/11/2012

Parquet Courts
Garage Rock/Post-Punk/Indie Rock
http://dulltools.bigcartel.com/

Por: Cleber Facchi


Existem discos que tentam a todo custo reviver o espírito instaurado nas composições e registros memoráveis lançados entre as décadas de 1970 e 1980. Por meio de artifícios caseiros de gravação, métricas instrumentais similares e até mesmo temáticas bem relacionadas com o que definiu o período, o que não faltam são lançamentos que brincam com o Garage Rock, o Pós-Punk e até mesmo o rock clássico. Projetos que muitas vezes acabam apenas flertando com a sonoridade proposta, promovendo um resultado que está longe de encontrar a mesma verve assertiva e que tanto marcou a produção utilizada como base.

Diferente, entretanto, é a estreia do quarteto nova-iorquino Parquet Courts, grupo que ultrapassa os limites artístico-experimentais da cena do Brooklyn para incorporar uma sonoridade crua, rápida e típica da que tomou conta do mesmo cenário há mais de três décadas. Soando como uma versão pop de grupos como Television ou outro grande exemplar do rock indie da década de 1970, o quarteto consegue em poucos minutos transformar Light Up Gold (2012, Dull Tools) em uma sucessão pegajosa e suja de hits. Faixa que parecem ter viajado no tempo e amadurecido até alcançar o presente resultado.

Rápido, o trabalho concentra no uso adequado das guitarras o grande ponto de acerto e movimento das composições. Seja tricotando bases amplas em companhia das linhas de baixo (Yonder is Closer to the Heart), ou correndo descompromissado e até brincando com o básico (Borrowed Time), faixa após faixa o grupo se posiciona como uma versão ensolarada de Joy Division ou quem sabe uma extensão adolescente do Sonic Youth. Tal qual o boi raivoso que tenta derrubar o peão na capa do disco, Light Up Gold quer derrubar o espectador: de tanto dançar.

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Curiosamente parecido com muito do que funciona na cena californiana do presente momento, o disco acaba por se aconchegar em uma atmosfera menos psicodélica e consequentemente livre dos realces esquizofrênicos que definem as composições por lá. Em diversos momentos do álbum fica a sensação de que temos em mãos um novo e transformado disco de Ty Segall, menos chapado e estranhamente próximo do que fora proposto nos primeiros discos do The Strokes. Sobra espaço para que ecos de The Drums – do álbum Portamento – sejam encontrados pelo disco, ou pelo menos até que uma nova onda de guitarras distorcidas cubra tais referências.

É necessário notar que a relação com a música californiana vai além do que se anuncia do presente cenário. Exemplo simples, porém, nítido dessa relação está em Yr No Stoner, faixa que traz nas guitarras ensolaradas uma forte aproximação com a sonoridade imposta ao longo dos anos 60, sendo possível visualizar garotos de roupão listados acompanhados de enormes pranchas de surf. No restante do disco, e principalmente nos espaços mais plásticos do trabalho, como em Stoned and Starving, sobram conexões com a música inglesa pós-1977, predisposição alta, clara e naturalmente sombria.

Nostálgico e ao mesmo tempo carregado de referências recentes, Light Up Gold rompe com a proposta de outros registros similares, acertando tanto no uso dos versos leves, como nas guitarras que colam no cérebro. Mesmo sem o compromisso de produzir um trabalho de realces sérios ou acertos maduros, a medida “simples” encontrada pelos membros do Parquet Courts garante a execução de um projeto tão grande e competente quanto o de qualquer outro nome de peso que brinca em sujar nossos ouvidos com ruídos intermináveis e relações pseudo-referenciais. Um álbum feito para se divertir, e apenas isso.

Light Up Gold (2012, Dull Tool)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Ty Segall, The Drums e Fergus & Geronimo
Ouça: Yonder is Closer to the Heart, Borrowed Time e Yr No Stoner

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.