Disco: “Love To Give”, Halls

/ Por: Cleber Facchi 18/02/2014

Halls
Alternative/Indie/Singer-Songwriter
http://hallsmusic.net/

Por: Cleber Facchi

Halls

Quais são os limites da dor? Esta parece ser uma pergunta que o britânico Sam Howard busca responder no interior de Love To Give (2014, No Pain In Pop). Segundo trabalho em estúdio do cantor e compositor londrino, o álbum se apresenta como uma sequência e ao mesmo tempo uma completa reformulação do ambiente proposto há pouquíssimos meses com Ark (2013), obra que apresentou o jovem artista, e um universo completamente distante do que se revela em totalidade agora.

Denso, o disco é uma fina representação da amargura do compositor, que em virtude da própria melancolia e evidente abandono encontra a matéria-prima para a formatação do álbum. Pontuado por uma arquitetura sombria, o disco caminha em um enquadramento de forte aproximação entre as músicas. Tratadas em um ato único, cada faixa se relaciona de forma “amigável” com a composição seguinte, exercício que potencializa o teor de desespero anunciado na autointitulada faixa de abertura e seguido de forma honesta até o fim do disco.

Limitado e ainda assim amplo em relação ao tratamento musical exposto em Ark, Love To Give se esquiva de possíveis rupturas de forma a arrastar o espectador para um universo fechado de experiências. A base sombria de pianos, rasos fragmentos eletrônicos e voz predominante parece fluir de maneira satisfatória dentro do projeto do disco, que encara cada composição como um objeto de puro recolhimento. Mesmo quando se delicia com possíveis exaltações – caso de Waves e Aria -, Howard jamais rompe com o sombreado homogêneo do disco.

Por conta do recolhimento dado ao disco, diversas passagens de Love To Give esbarram na estética apresentada por Mike Hadreas para o Perfume Genius. Todavia, enquanto o cantor e compositor norte-americano assume na próxima homossexualidade um traço de dramaticidade e crescimento, marca evidente em Put Your Back N 2 It, de 2012, o cantor londrino se afunda cada vez mais no próprio sofrimento. São canções serenas, econômicas, e que em nenhum momento ultrapassam uma lógica previsível que parece instalada logo nos instante iniciais do disco.

Todavia, a limitação proposital que coordena o disco de forma alguma impede que Howard passeie por instantes de curioso experimento. É o caso da tríade de canções que encerram o disco. Mergulhando em acertos jazzísticos, o britânico assume em Forelsket, Aside e Body Eraser o concentrado de maior transformação do álbum. São arranjos que flertam com o Dream Pop, se cobrem de ruídos eletrônicos e reforçam de maneira honesta a melancolia explícita da obra. Assim como no disco anterior, uma espécie de pista do que pode vir a orientar o trabalho do músico em um futuro próximo.

Feito para ser apreciado em unidade, o trabalho de Sam Howard se revela como um disco em que cada elemento musical serve como estímulo para a canção seguinte. Uma comunicação atrativa que faz com que mesmo faixas extensas, aos moldes de Aria, ou criações mais curtas, caso de Harmony In Blue, sejam encaradas sob um mesmo sentimento de importância. Triste em essência, Love To Give é um disco que vai além das noites tristes de solidão, se encaixando nas horas mais inexatas do dia.

 

Halls

Love To Give (2014, No Pain In Pop)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Perfume Genius, Majical Cloudz e Sin Fang
Ouça: Sanctus, Aside e Love To Give

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.