Críticas

Boogarins

: "Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos "

Ano: 2015

Selo: StereoMono

Gênero: Rock Psicodélico, Indie

Para quem gosta de: Carne Doce, BIKE

Ouça: 6000 Dias e Avalanche

8.6
8.6

Disco: “Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos”, Boogarins

Ano: 2015

Selo: StereoMono

Gênero: Rock Psicodélico, Indie

Para quem gosta de: Carne Doce, BIKE

Ouça: 6000 Dias e Avalanche

/ Por: Cleber Facchi 06/11/2015

Leve. Dois anos após o jogo de cores e exageros lisérgicos que marcam o inaugural As Plantas que Curam (2013), estreia do grupo goiano Boogarins, Dinho Almeida, Benke Ferraz e os parceiros Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo mergulham de cabeça no plano onírico para encorpar as canções do recém-lançado Manual (2015, StereoMono). Uma coleção de vozes delicadas e arranjos tingidos pela nostalgia da música psicodélica, mas que encontram no descompromisso sorridente da banda um poderoso traço de identidade.

Em um nítido distanciamento da herança deixada por veteranos (Os Mutantes, The Kinks) e novatos (Tame Impala, Foxygen) do rock psicodélico, cada faixa do presente disco reforça a capacidade do grupo brasileiro em brincar com a própria essência musical. Instantes, quebras e colagens descomplicadas em que o grupo passeia pelo minimalismo da bossa nova (Cuerdo), autoriza a explosão das guitarras (Avalanche) ou simplesmente colide fórmulas (Mario de Andrade / Selvagem) sempre em busca de um som não linear.

Como anunciado no subtítulo da obra – “Guia Livre de Dissolução dos Sonhos” -, Manual está longe de ser um registro orientado pela certeza. Entre vozes e arranjos enevoados, por vezes preguiçosos como as derradeiras San Lorenzo e Auchma indicam, faixa após faixa, o grupo se concentra na produção de um trabalho de composição leve, íntimo das experiências e alucinações hipnagógicas. Em um constante estado de letargia, todos os elementos parecem agrupados com extrema delicadeza, atraindo o ouvinte para dentro de um labirinto de bases e texturas que parecem flutuar.

Embora compatível com a proposta assumida pela banda, para os mais apressados, esse permanente estado de leveza pode se transformar em um elemento de rejeição. É necessário tempo até que o ouvinte seja arrastado para dentro do ambiente mágico arquitetado pelo grupo. Salve os raros instantes de euforia, caso das “comerciais” Avalanche e 6000 Dias (Ou Mantra dos 20 Anos), Manual sobrevive como uma obra musicalmente fechada, sustentada pelos próprios segredos, como se cada faixa indicasse o caminho para a canção seguinte.  

Prova desse resultado está na combinação que abastece a dobradinha Mario de Andrade / Selvagem e Falsa Folha de Rosto. Em um exercício curioso, diferentes atos e referências se encontram no interior de cada faixa, como se fragmentos de canções distintas fossem agrupadas em um mesmo bloco de experiências. Um precioso cruzamento de ideias que vai da música brega dos anos 1970 ao som acolhedor testados por bandas como Real Estate e Deerhunter. Esboços, cores e conceitos reciclados que parecem dialogar com a pueril imagem de capa do disco – trabalho assinado pelo filho pequeno do designer Nei Caetano da Silva.

Uma vez ambientado ao propósito da obra, impossível escapar do catálogo de arranjos e versos cíclicos delicadamente tecidos pela banda. Do mantra entoado por Dinho Almeida em Cuerdo – “E é difícil de escutar, mas de dizer” -, passando pela ensolarada versão de Benzin, originalmente gravada no primeiro álbum da conterrânea Carne Doce, todos os elementos se encaixam de forma a seduzir o público. Ainda que faltem “hits” aos moldes de Lucifernandes, Doce e todo o acervo do primeiro disco, sobram faixas que dançam na mente do ouvinte, lentamente arrastado para dentro do jogo de fórmulas e temas psicodélicos dissolvidos pela banda.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.