Disco: “Atlas”, Real Estate

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2014

Real Estate
Indie/Alternative/Jangle Pop
http://www.realestatetheband.com/

Real Estate

A nostalgia impera na construção melódica de Atlas (2014, Domino), terceiro trabalho de estúdio da banda Real Estate. Em uma composição sequencial ao exercício exposto inicialmente em Days (2011), o novo álbum do grupo de Ridgewood, Nova Jersey, substitui as climatizações litorâneas e a psicodelia explorada desde o primeiro disco, de 2009, para abraçar de vez o teor urbano dos temas e arranjos. Coerentemente simples, mas ainda assim amplo em se tratando dos versos que o definem, o álbum se abre como um catálogo breve de canções de amor e temas cotidianos, princípio para a herança revitalizada do Jangle Pop assumido nos anos 1980.

Esculpidas de forma aconchegante, cada composição do disco se acomoda em meio a bases cíclicas, vozes acolhedoras e uma sequência de arranjos essencialmente detalhistas. São guitarras desenvolvidas em proximidade aos vocais, preferência que repete a boa fase de bandas como R.E.M. e The Replacements há três décadas, sem necessariamente ocultar a autonomia do grupo – evidente desde a lisergia Lo-Fi do primeiro álbum. Atlas, como o disco anterior parecia confirmar, é uma obra desenvolvida em um território próprio de letras e arranjos, um fenômeno particular, mas que se comunica diretamente com o ouvinte.

Eu não quero morrer/ solitário e cansado/ Fique comigo/ Tudo será revelado”. Tendo como base o refrão pronto de Crime, sexta faixa do disco, é possível observar todo o conjunto de emanações confessionais que definem o presente álbum. São criações simples de amor, como em Talking Backwards (“Quando a noite acabou/ E o campo foi iluminado brilhante/ E eu voltava para casa com você”), ou mesmo faixas em que a ausência de voz não interfere na sensibilidade exposta pelo disco – caso da instrumental April’s Song. Como Days já havia iniciado, Atlas é um trabalho que se sustenta pela diversidade de histórias e temas entregues por cada colaborador.

Enquanto os dois primeiros registros pareciam movidos por instantes, como a crescente pop de It’s Real em Days, ou as guitarras acolhedoras de Fake Blues no álbum de 2009, com o novo disco, pela primeira vez a banda entrega um álbum que parece desenvolvido em uma assertividade homogênea. Cada composição do disco parece servir como um caminho seguro para a formação da música seguinte, efetividade que amarra as confissões de Primitive ou a melancolia de Past Lives em um mesmo universo. Um sentido pleno de entrega e relação que em nenhum momento foge dos limites do grupo.

Vale observar que parte da beleza instalada no novo álbum não está nos próprios domínios do Real Estate, mas na forma como cada integrante se aprofundou dentro de diferentes projetos ao longo dos últimos meses. Enquanto Matt Mondanile fez nascer o melhor trabalho de estúdio à frente do Ducktails, The Flower Lane (2013), o baixista Alex Bleeker transformou How Far Away, do mesmo ano, em um belo conjunto de boas experiências musicais. A julgar pela forma como as harmonias de vozes do primeiro as variantes instrumentais do segundo são apresentadas em Atlas, é possível entender a presente obra não apenas como uma sequência, mas uma extensão aprimorada de tais projetos.

Com um apelo ainda maior para as melodias, Atlas é um trabalho que começa na década de 1960, visita aspectos de 1980, até amanhecer em um dia de sol acolhedor, esbanjando tramas e referências próprias da banda. Como uma obrigação para o ouvinte, cada faixa do álbum, seja a simples How I Might Live ou a imensa The Bend, força a observação do espectador, inclinado a se perder em meio aos arranjos detalhistas que orquestram todo o registro. Em Atlas, mais uma vez a banda acelera o passo em direção à maturidade, opção que em nenhum momento oculta o preciosismo jovial seguido desde o primeiro disco.

 

Atlas

Atlas (2014, Domino)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Ducktails, Mac DeMarco e DIIV
Ouça: Crime, Primitive e Talking Backwards

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.