Disco: “Muito Mais Que O Amor”, Vanguart

/ Por: Cleber Facchi 29/08/2013

Vanguart
Brazilian/Folk/Indie
http://www.vanguart.com.br/

 

Por: Cleber Facchi
Foto: Ariel Martini

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Há dois anos, quando lançava Parte de Mim Vai Embora (2011), a proposta do Vanguart parecia ser clara e simples: soar acessível. Longe da poesia complexa que ocupa os versos trilíngues do autointitulado debut, de 2007, o quinteto cuiabano parecia cada vez mais interessado em buscar pelo grande público – um percurso de quase oposição ao hermetismo testado em início de carreira. Sustentando com acerto uma lírica melódica – que abastece faixas como Mi Vida Eres Tu e demais composições do trabalho -, a banda deu um passo seguro para o domínio de uma soma ainda maior de ouvintes, merecida sequência de prêmios no VMB de 2012 e, claro, a base para o que se revela em um efeito amplo na construção do terceiro registro em estúdio.

Intencionalmente dramático, Muito Mais Que O Amor (2013, DeckDisc) se aproveita do mesmo teor amargo dos trabalhos anteriores, porém, em um sentido intenso de confissão. O que antes era proposto de forma existencial e melancólica – principalmente em faixas como Semáforo, Para Abrir os Olhos e Cachaça -, agora dá lugar ao drama pintado de saudade e expectativa. Boa parte das faixas espalhadas pela obra refletem a carência do eu-lírico em um sentido vulnerável. Seja na antecipação por um novo amor (Sempre Que Eu Estou Lá), ou mesmo em um cenário recente e que aos poucos começa a se esfarelar (Pra Onde Eu Devo Ir?), a dor ainda é a principal constante para a banda.

Mesmo em um alinhamento de confissão, Hélio Flanders, principal letrista da obra, parece fugir a todo o custo de um resultado subjetivo, amenizando nos versos de cada faixa uma interpretação exageradamente acessível, até rasa em alguns aspectos. Por vezes falta beleza aos versos instalados de forma monotemática, caso de Meu Sol (o que é isso, Armandinho?), Mesmo De Longe e parte expressiva do eixo final do registro. Entretanto, nenhuma composição parece capaz de superar a redundância da O Que Seria de Nós, sétima canção do disco. “O que seria de você sem mim/ O que seria de Mim sem você/ O que seria de nós dois sem nós?”, arrasta a canção em (felizmente) pouco menos de um minuto de duração. Seria ironia ou apenas vontade de encher o disco com mais uma faixa? Onde estão os responsáveis por Enquanto Isso Na Lanchonete e demais canções dos primeiros discos?

Mesmo os exageros e a lírica falha em algumas das composições não subtraem a presença de boas faixas no decorrer da obra. A melhor delas talvez seja Pra Onde Eu Devo Ir?, canção que se esquiva das melodias programadas para fluir em um cenário de intensidade e dor real. Trabalhada em uma estética Country honesta, a música esbarra em vozes que curiosamente remetem ao trabalho de Chitãozinho e Xororó – entenda isso como um elogio sincero. Um aspecto caricato que não apenas potencializa o crescimento da faixa, como traduz de maneira eficaz a saudade que se acumula em doses pela obra. A mesma relação com o cancioneiro de raiz flutua de maneira coerente em Estive e Eu Sei Onde Você Está, faixas acessíveis, de versos duráveis e que não se perdem nos mesmos exageros e banalidades de outras canções do disco.

Outro aspecto positivo do trabalho se encontra de forma clara nos arranjos e bem aproveitados instrumentos. Mesmo que a banda tropece nas palavras, o amparo dos sons evita o tombo em diversas ocasiões. Das guitarras voláteis de David Dafré ao violino de Fernanda Kostchak, dos teclados de Luiz Lazzaroto ao bem acertado posicionamento dos metais, pela primeira vez a banda entrega uma obra ampla e límpida, fugindo dos acordes caseiros de violão que tradicionalmente acompanham o gênero. Rafael Ramos, produtor responsável pelo disco, parece trazer ao público tudo o que foi testado como um rascunho nos álbuns anteriores, agora encarado em um efeito de completude.

Com mais de uma década de atuação e uma carreira poucas vezes igualada por outros artistas “independentes”, é mais do que justo que a Vanguart abocanhe uma parcela maior do público. O problema está em alcançar isso excluindo elementos fundamentais e que serviram de alicerce para a banda, sendo o principal deles as letras de esforço sorumbático, mas de acabamento não convencional. Assim como aconteceu com os brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju, em De Lá Até Aqui, o grupo cuiabano parece ter acertado nos arranjos, no acabamento das vozes e sons, mas esquecido das letras. Até a sempre criticada voz de Flanders parece livre de exageros. Levando em conta o que foi conquistado previamente e algumas boas faixas que permeiam a obra, fica a sensação de que o conforto falou muito mais alto do que a invenção.

 

Vanguart

Muito Mais Que O Amor (2013, DeckDisc)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Phillip Long, Thiago Pethit e Banda Gentileza
Ouça: Estive, Eu Sei Onde Você está e Pra Onde Eu Devo Ir?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.