Disco: “Port Of Morrow”, The Shins

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2012

The Shins
Indie/Alternative/Indie Pop
http://mercerhouse.theshins.com/

A música pop dotada de arranjos essencialmente melódicos, reverberações brandas e funções instrumentais que caracterizaram boa parte da produção dos anos 50 e 60 não seria nem metade disso quando James Mercer e alguns parceiros de banda montaram o The Shins no final da década de 1990. A expansão do hip-hop e a banalização da música pop por conta de fabricados novos ícones da Indústria Musical fariam com que a banda vinda de Albuquerque, Novo Mexico passasse praticamente despercebida, quase como uma estranha em um ninho de figuras irreais, vozes vergonhosamente planejadas e letras indispostas de uma mínima fração de sentimentos.

Talvez por conta desse imenso paredão construído em cima de fórmulas garantidas e o constante apoio das grandes gravadoras, Oh, Inverted World, primeiro disco da banda lançado em junho de 2001 tenha levado certo tempo até cair no gosto de um público maior. O princípio tímido, entretanto, não impediu que a banda caísse imediatamente nas graças de uma pequena parcela do público – principalmente os atentos ao cenário alternativo norte-americano -, ouvintes estes que ao terem em mãos o segundo álbum do grupo em 2003 veriam que todas as apostas em relação ao trabalho da banda não foram em vão. Mais do que um cardápio de boas composições, Chutes Too Narrow o sucessor do suave debut traria de volta todas as sensações e temas há tempos esquecidos no mundo da música.

Harmônico e tomado por letras marcadas pela sensibilidade, o álbum faria da banda uma das mais queridas e elogiadas da nova cena independente, feito que Kissing The Lipless, Saint Simon e tantas outras composições presentes no disco acabaram justificando sem grandes esforços. O próprio Oh, Inverted World, antes conhecido de uma mínima parcela do público acabou ganhando novo significado e, consequentemente, seguidores, indivíduos dispostos a conhecer um pouco mais sobre essa estranha banda que acumulava criticas positivas em diferentes veículos de comunicação, citações em filmes e até a participação em diversas séries televisivas. Talvez sem querer, mas o The Shins havia se transformado em um fenômeno.

Mesmo com boa parte dos olhares voltados para Mercer (agora um respeitado compositor) e seus companheiros de banda, a fama em nenhum momento prejudicou a boa forma do grupo, que passados quatro anos desde o lançamento do segundo álbum voltaria com mais um conjunto de acertos musicados. Sob o nome de Wincing the Night Away, o terceiro registro oficial do grupo traria diluído mais um conjunto de 13 composições, músicas também marcadas pelo mesmo tom ensolarado e as melodias cantaroláveis de outrora. Um agradável composto de faixas, que contrariando banais definições esboçavam um honesto e já não mais tão esquecido retrato da música pop em seus melhores momentos.

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Embora amante de extensas pausas entre um trabalho e outro, ao longo dos últimos anos Mercer começou a dar sérias pistas de que talvez um quarto álbum do The Shins jamais fosse lançado. O afastamento de alguns membros fixos da banda, os experimentos ao lado de Danger Mouse no Broken Bells, além de alguns projetos que realizava aleatoriamente pareciam afastar cada vez mais o músico da banda que o tornou conhecido. A lacuna iniciada ao final de A Comet Appears, última canção do último disco, se estenderia até o começo deste ano, quando um anúncio do próprio Mercer de que estaria gravando o novo disco da banda acabou se concretizando.

Denominado Port Of Morrow (2012, Aural Apothecary/Columbia Records), o quarto álbum do The Shins é o resultado de todas as experiências acumuladas por Mercer ao longo dos últimos anos, além, claro, de referências melódicas típicas da banda que ajudou a criar. Menos místico que o último disco do grupo e composto por um corpo de novos instrumentistas, o trabalho apresenta em apenas 10 faixas toda a herança que The Beach Boys, The Kins e The Smiths deixaram na formação do vocalista, figura que utiliza de referências vindas do próprio cotidiano para construir o panorama lírico de todo o registro.

Básico e sem exageros, o trabalho de 40:13 minutos se conecta diretamente com o primeiro álbum do The Shins, com Mercer e os colegas incorporando guitarras de maneira suave, pendendo ora para a música folk, ora para o indie pop doce que o Belle and Sebastian pode promover durante a década de 1990. Tão convidativo quanto os anteriores registros do grupo, o disco amarra um bem produzido jogo de composições, faixas marcadas pela acessibilidade pop, mas que acabam contando com um tempero extra, nunca redundante ou limitado. Vem daí hits garantidos como Simple Song, It’s Only Life e For A Fool, músicas que possibilitam não apenas o desenvolvimento de uma instrumentação radiante, como a possibilidade de Marcer alcançar novos níveis de vocal.

Assim como nos álbuns anteriores, além da direção de James Mercer, Port Of Morrow conta com a colaboração de um novo produtor. Depois dos cultuados Phil Ek e Joe Chiccarelli, chega a vez de Greg Kurstin (que já trabalhou com Lily Allen, Beck e The Flaming Lips) deixar sua marca, apoiando a banda na construção de linhas instrumentais suaves e um bem explorado jogo de vozes, elementos que acabam contribuindo para a construção do clima acolhedor do registro. Estranho que mesmo depois de cinco anos sem nenhum novo lançamento, ouvir o recente álbum do The Shins faz parecer com que essa lacuna não pareça tão extensa. Talvez isso seja reflexo da capacidade dos norte-americanos em promover um som duradouro e sempre próximo do ouvinte, experiência que deve se repetir com o atual disco da banda ou mesmo com os próximos lançamentos do grupo – independente de quanto tempo levem para serem lançados.

Port Of Morrow (2012, Aural Apothecary/Columbia Records)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Broken Bells, Band of Horses e Modest Mouse
Ouça: Simple Song, It’s Only Life e Port Of Morrow

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.