Disco: “Saint Heron”, Vários Artistas

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2013

Vários Artistas
R&B/Soul/Hip-Hop
http://saintheron.com/

Por: Cleber Facchi

Solange

O lançamento de True EP, no último ano, teve um efeito decisivo para a atuação de Solange Knowles dentro da cena musical recente. Cada vez mais distante da sombra da irmã Beyoncé, a cantora e compositora norte-americana foi em busca de um jogo de elementos que não apenas resgataram traços específicos da música negra, como buscaram revitalizar o gênero. Antecipando tendências que viriam a orquestrar os rumos do R&B, Soul e até mesmo da música pop, a artista fez da curta obra um curioso ensaio para o que parece traduzido em um melhor resultado com a chegada de Saint Heron (2013, Saint).

Primeira coletânea com curadoria da cantora e obra que abre as portas do selo de sua autoria, Saint, o trabalho se apresenta como um atento mosaico de referências – sejam elas antigas, ou recentes. Aos comandos de Knowles, nomes como Jhene Aiko, Cassie e Sampha brincam com décadas de preferências musicais, trazendo no manuseio específico das vozes e sons um catálogo de pequenas possibilidades. Aperitivo para aquilo que o próprio selo deve solucionar de forma específica em 2014, o registro de 12 faixas se desenvolve como um convite, uma espécie de passeio bem sucedido por todas as instâncias e preferências que regem o trabalho de cada artista envolvido.

Livre das redundâncias que marcam o Neo-Soul desde a última década, Saint Heron é uma obra que assume na letargia e no arranjo ponderado dos elementos o principal sustento das canções. São faixas que se esquivam da verve comercial do gênero para mergulhar de forma atenta nas pequenas arrestas, flutuando em um estágio entre a experimentação e a música pop – a mesma proposta há duas ou mais décadas. A medida praticamente obriga o ouvinte a manter as atenções em alta, como se cada faixa do álbum fosse encarada como um conjunto de detalhes a serem desvendados com plena atenção.

Sem esbarrar na mesma irregularidade de outras coletâneas, Saint Heron é uma obra que ecoa aproximação entre todas as faixas. Seguindo a linha dos trabalhos propostos pelo selo Italians Do It Better, ou mesmo pela organização/selo Red Hot – responsável pelos ótimos Dark Was The Night (2009) e Red Hot + Rio (2011) -, o álbum trata de cada composição como um objeto exclusivo do registro, imerso. A estratégia faz com que mesmo faixas já conhecidas do ouvinte, caso de Go All Night, da cantora Kelela, acabe surgindo como uma canção totalmente inédita, um mínimo recorte do conjunto atento de sons e vozes que se estendem por toda a construção do registro.

Por conta dessa “aproximação” entre as músicas, a coletânea involuntariamente acaba dividida em dois atos específicos. Até Beneath the Tree, faixa assinada pelo britânico Sampha, toda a conjunção de elementos ecoa em forte aproximação com a década de 1990, resultado explícito na forma como as batidas e vozes brincam com elementos quase caricatos do R&B. A partir de Noirse, remix de Pional para a já conhecida canção de Petite Noir, todos os elementos do disco prezam pelo uso de doses ponderadas de experimento. Músicas como Indo, de Cassie, ou mesmo Drinking and Driving, de Jhene Aiko que se apegam com detalhe ao minimalismo, posicionando o pop em segundo plano e trilhando um percurso sombrio, o mesmo seguido por Solange na faixa de encerramento, Cash In.

Com passeios assumidos pela eletrônica inglesa, transições labirínticas pelo R&B e um explícito afastamento de arranjos mais “acessíveis”, Saint Heron é uma obra que opta pelas possibilidades – sem conforto ou mesmo doses de comodismo. O time fechado de Knowles não apenas volta todas as atenções para o catálogo do selo Saint, como prova que as passagens pela música negra – tão em alta em 2013 – ainda estão longe de assentar, assumindo um novo conjunto de vias a serem exploradas pelos artistas e, consequentemente, pelo próprio público.

 

Saint Heron

Saint Heron (2013, Saint)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Solange, Kelela e Sampha
Ouça: Indo, I’m Alive e Bank Head

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.