Disco: “Something”, Chairlift

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2012

Chairlift
Electronic/Indie/Female Vocalists
http://www.chairlifted.com/

Por: Cleber Facchi

Por mais explorada, revista e reformulada que tenha sido a década de 1980 ao longo dos últimos anos, há sempre alguém capaz de encontrar algum tipo de novidade na música produzida naquela época, trazendo todas essas “novas” experiências para o presente. Só nos últimos dois anos Twin Shadow, Zola Jesus e Hooray For Earth foram alguns dos responsáveis por encontrar novos enquadramentos para a música ressaltada há três décadas, rompendo com estruturas possivelmente desgastadas e evidenciando projetos nostalgicamente inéditos.

Quando surgiu há sete anos na cidade de Boulder, Colorado, o trio Chairlift parecia fazer parte de um outro grupo de também revisionistas da música oitentista, impregnando suas composições com referências não atualizadas, mascarando cada composição com tonalidades desgastadas e consequentemente pouco atrativas. Como resultado, Does You Inspire You, primeiro trabalho da banda lançado logo no ano seguinte pouco agradou, tornando a tríade rapidamente esquecida se não descartada pelo pequeno público que já havia cativado.

Ao longo dos últimos quatro anos, entretanto, todos os prováveis rumos do grupo começaram a mudar. Agora sediados na região do Brooklyn, Nova York e ausentes de um dos membros – Aaron Pfenning, que abandonou a banda em 2010 para seguir em carreira solo -, a dupla composta por Caroline Polachek e Patrick Wimberly parecem finalmente ter encontrado a mistura exata entre os sons propostos há trinta anos e a pluralidade de referências atuais, resultando em Something (2012, Columbia/Young Turks), um trabalho intencionalmente comercial, cercado de bons singles e toda uma variedade de formas musicais que se encaixam coerentemente no interior do disco.

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Da abertura ao fechamento, Something é um disco de acertos. As mentes de Wimberly e Polachek parecem partilhar de um mesmo ideal, promovendo a execução de um som fácil, volátil e que cai bem logo na primeira audição. Os anos 1980, antes único foco do ex-trio agora surge impregnado por uma dose de renovação, algo que as passagens pelo indie pop e até alguns passeios por um Dream Pop mais despojado acabam revelando. Parte disso vem da participação de Patrick no trabalho de diversos outros artistas – como Acrylics e Washed Out -, tornando a sonoridade do Chairlift mais rica e menos comum.

Esse desenvolvimento de um trabalho multidirecional acaba resultando em uma proliferação invejável de hits. Da abertura com Sidewalk Safari, passando por Wrong Opinion, o grande hit I Belong In Arms até o encerramento com Guilty As Charged, tudo é desenvolvido de maneira a transformar batidas eletrônicas e sons sintetizados em criações acessíveis e totalmente comerciais. Até a voz de Polachek, outrora um mero acréscimo, se revela agora em algo essencial e renovado, cobrindo as quase imperceptíveis arrestas deixadas pelo parceiro.

Bem estruturado, o álbum é um trabalho que parece pronto para atender todas as exigências de um público mais comercial e que deve se identificar com os recursos dançantes do disco. Ao mesmo tempo, as tendências mais brandas – que transitam entre uma Björk do álbum Debut e Kate Bush em seus momentos menos mágicos – encaminham o registro para um novo patamar, menos aventureiro e mais sombrio. Independente do ambiente musical explorado, o casal acaba sempre esbarrando em acertos, transformando o álbum no que parece ser não uma sequência, mas um novo começo.

Something (2012, Columbia/Young Turks)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Twin Sister, Charli XCX e Class Actress
Ouça: I Belong In Your Arms

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.