Disco: “Stay Gold”, First Aid Kit

/ Por: Cleber Facchi 01/07/2014

First Aid Kit
Folk/Female Vocalists/Indie
http://www.thisisfirstaidkit.com/

Por: Cleber Facchi

Desde o primeiro álbum em estúdio, The Big Black and the Blue (2010), as irmãs Johanna e Klara Söderberg nunca pareceram se importar e promover um registro de fato transformador dentro do cenário em que estavam inseridas. Observadas atentamente, cada uma das canções lançadas pelo duo sueco sempre ecoaram de forma a reforçar os sentimentos da dupla, como se as faixas – confessionais, doces ou melancólicas – apenas precisassem existir. Longe de tropeçar em redundância, Stay Gold (2014, Columbia), terceiro álbum do First Aid Kit acerta justamente ao apostar nesse mesmo resultado.

Registro mais acessível da dupla até o momento, o novo disco segue a trilha Country-Folk do registro passado, The Lion’s Roar (2012), aproximando (mais uma vez) o duo dos conceitos lançados em solo norte-americano. Como um passeio pela música de raiz apresentada nos anos 1960/1970, o novo disco se acomoda em melodias simplistas, vozes delicadas e a saudade implícita nos versos de cada criação. Logo, as irmãs Söderberg estão mais uma vez em casa – e o ouvinte também.

Herdeiras da obra de Joni Mitchell e Judy Collins, além de todo o acervo de cantoras da vindas da cena musical de Nashville, Johanna e Klara utilizam do novo álbum como algo a mais do que uma simples homenagem ao passado. Trata-se de uma fina obra de criação, um exercício de amarrar as pontas com a sonoridade lançada há quatro décadas, sem necessariamente perder o senso autoral assumido no último disco. Dentro desse propósito, Stay Gold é uma obra de incontestável beleza nostálgica, mas que, ainda assim, segue de forma independente – exatamente de onde a dupla parou no disco passado.

Mais uma vez acompanhadas de Mike Mogis – produtor que atuou em obras como Rabbit Fur Coat (2006) de Jenny Lewis, além de álbuns do She & Him e Bright Eyes -, a dupla sueca encontra no novo álbum o cenário perfeito para o crescimento de cada composição. Livre da plasticidade que ecoa de forma artificial nas mãos de grupos como Mumford and Sons e Of Monsters and Men, Stay Gold brilha por soar justamente como um produto típico da década de 1970. Percepção reforçada nos vocais levemente empoeirados e arranjos acústicos que ecoam de forma artesanal – mesmo dentro da limpidez típica de um trabalho de estúdio.

Por falar no uso dos vocais, assim como em The Lion’s Roar, os arranjos musicais espalhados pelo registro servem apenas como complemento para as vocalizações detalhistas da dupla. Seja em faixas de evidente apelo comercial – Master Pretender, My Silver Lining – ou em canções encaixadas no eixo final do disco – A Long Time Ago, Waitress Song -, Stay Gold é um trabalho que sobrevive da voz bem explorada das irmãs Söderberg. Ainda que funcional, não seria um erro afirmar que o novo álbum do First Aid Kit teria o mesmo apelo caso a dupla abandonasse os instrumentos, tamanho acerto na disposição vocal de cada música.

Coeso e orquestrado com leveza música, após música, Stay Gold parece simplificar uma série de conceitos lançados por Laura Marling no denso (e excelente) Once I Was an Eagle, de 2013. Levando em conta a fluidez que orienta todo o eixo inicial do álbum, com o terceiro disco da carreira o duo sueco não apenas entrega seu exemplar mais “pop”, como resume de forma harmônica toda a complexidade instalada em outras obras do gênero. Um caminho doce, e não menos significativo que escapa da discografia de pequenos gigantes como Fleet Foxes, The Tallest Man on Earth e toda a soma de artistas inspirados na mesma temática. Passado que se confundo com o presente.

 

Stay Gold (2014, Columbia)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Laura Marling, Fleet Foxes e Joni Mitchell
Ouça: Shattered & Hollow, Master Pretender, My Silver Lining

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.