Disco: “Stinkin Like a Brazilian”, Rubinho Troll

/ Por: Cleber Facchi 01/06/2011

Rubinho Troll
Brazilian/Alternative/Pop
http://665ovizinhodabesta.blogspot.com/

 

Por: Cleber Facchi

Se com o passar dos anos o Pato Fu foi aos poucos substituindo a excentricidade pop alcançada em seus primeiros registros, abandonando o experimentalismo de álbuns como Rotomusic de Liquidificapum (1993) e Gol de Quem? (1995), substituindo tais sons por um pop mais compacto, (mas ainda assim brilhante) foi a figura de alguém externo a banda quem continuou trazendo a mesma esquizofrenia para dentro da carreira dos mineiros. O responsável em questão é o músico e compositor Rubinho Troll, que mesmo separado por um oceano de distância continuou presenteando os mineiros com suas ótimas bizarrices.

Antes de lançar seu primeiro disco de estúdio, Stinkin Like a Brazilian (2011), ou mesmo antes de fornecer ao Pato Fu clássicos como Mamãe Ama Meu Revolver, A Necrofilia da Arte, O Filho Predileto de Rajneesh ou Mamã Papá, Troll ao lado do parceiro John Ulhoa foi responsável por dar vida ao Sexo Explícito, um dos mais importantes (e obscuros) grupos do rock brasileiro dos anos 80. Juntos, os músicos construíram dois discos “de estúdio”, Combustível Para o Amor (1989) e O Disco dos Mistérios (1990), até que no começo dos anos 90 o projeto chegou ao fim.

Rubinho foi viver em Londres, onde continuou com suas composições e eventualmente enviava algumas pérolas do esquisito para o amigo Ulhoa, agora acompanhado de Fernanda Takai, Ricardo Koctus e dono de uma nova banda. Com material o suficiente para gravar um disco, Troll voltou ao Brasil e sob o aval do eterno parceiro condensou o que se revela em seu primeiro trabalho solo. Em 15 canções (tudo bem, a última é mais como um epílogo), o músico dá vida à uma sequência de faixas tão estranhas quanta aquelas exploradas por ele no fim dos anos 80, sem jamais se desvincular de sua veia pop.

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Ao dar play na primeira faixa do disco (Alma Turbinada) é como abrir as portas da mente distorcida do próprio Rubinho e ser empurrado para dentro dela. A sonoridade proposta pelo disco parece estagnada nos anos 90, com sons trazendo uma boa carga de referências do rock alternativo, sempre preenchido com uma nada ponderada dose de efeitos e distorções, que abrangem dos instrumentos aos vocais do cantor. Muito do que ecoa no álbum (talvez pela presença de Ulhoa como produtor) acaba lembrando o Pato Fu antes das aventuras pelo trip-hop, gerando um disco que mesmo radiofônico só seja realmente compreendido daqui alguns anos.

Assim como nas composições lançadas pelo Sexo Explícito ou mesmo nas parcerias com o Pato Fu, o bom humor e a ironia são as engrenagens que movimentam o trabalho de Troll. Enquanto em Você só quer Tocar o Seu Violão o músico representa uma mulher histérica (com direito ao uso de vocais modulados), em Hoje eu Me Vi Por Dentro o músico prepara uma música inteira sobre endoscopia e colonoscopia (!). Rubinho aproveita ainda para regravar Repelente, faixa do grupo gaúcho DeFalla, originalmente encontrada no álbum Volume 2 de 1988 e que na versão do músico mineiro se transforma em algo suingado e ainda mais estranho do que em seu formato original.

É bem provável que a estreia de Rubinho Troll passe despercebida por alguns ou renegada por outros. Afinal, a sonoridade instável do álbum, brincando com os instrumentos, ruídos, bips e vocais (sem contar com as letras nada convencionais elaboradas pelo músico) acabem soando de forma até “irritante” aos ouvidos despreparados. Entretanto, quem souber como se adequar ao gênio excêntrico do artista encontrará em  Stinkin Like a Brazilian um trabalho que renderá boas (e divertidas) horas de audição.

 

Stinkin Like a Brazilian (2011)

 

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Pato Fu, DeFalla e Ricardo Koctus
Ouça: Talvez Nesse Verão a Vida Vá Mudar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.