Disco: “Swing Lo Magellan”, Dirty Projectors

/ Por: Cleber Facchi 29/06/2012

Dirty Projectors
Experimental/Indie/Freak Folk
http://dirtyprojectors.net/

Existe uma linha musical invisível que define cada novo lançamento do coletivo Dirty Projectors. Em um dos lados dessa divisória funciona um universo de experimentos detalhados, cruzamentos entre afrobeat, freak folk e todas as predisposições que definiram o indie rock experimental da última década. Do outro lado temos uma variante de sons opositivos, com enquadramentos tradicionais, vozes delicadas e toda uma verve de referências sutis que aproximam o grupo de um som “convencional”. Entre um passo e outro além dessa linha, a banda encontra as ferramentas e inspirações adequadas para cada novo trabalho, sejam eles tratados antigos ou recentes na trajetória do grupo. Entretanto, é quando a banda se posiciona exatamente em cima dessa linha invisível, que o verdadeiro acerto se torna visível.

Ao manter os dois pés bem fixos no ponto exato que separa esses dois extremos musicais, o grupo comandado por David Longstreth estabelece a síntese perfeita entre a simplicidade e o que soa complexo, resultado visível durante a execução do anterior lançamento do grupo, Bitte Orca (2009), mas que se intensifica com a chegada do novo Swing Lo Magellan (2012, Domino). Visivelmente menos experimental e longe de desbravar os mesmos territórios do disco passado, o novo registro de 12 composições amarra com perfeição as estranhezas e tradições do grupo, resultando não em uma sequência do disco passado, mas em uma proposta renovada.

Swing Lo Magellan, diferente do registro de 2009, não é um álbum de conceitos ou limites instrumentais pré-definidos, mas sim de canções. Mesmo que a conexão entre as músicas seja constante e conscientemente coletiva, não há em nenhum momento do disco a preferência por uma estrutura específica que delimite tanto as letras como as melodias, resultado que bem definiu Bitte Orca. É como se o trabalho anterior fosse o ponto final de uma imensa obra acumulada ao longo de quase uma década, e se observarmos Slaves’ Graves and Ballads de 2004 (pela capa ou pelas letras) e Rise Above de 2007 (pela sonoridade), percebemos exatamente isso.

Se a jornada da banda foi concluída há três anos, então com a chegada do novo disco podemos observar o surgimento de uma nova e ainda mais inventiva proposta na carreira do Dirty Projectors. Com uma instrumentação mezzo acústica, mezzo elétrica, o álbum possibilita que o grupo se aventure em composições de ritmo instável (Unto Caesar), músicas que se acomodam em uma funcionalidade pop (Dance For You) e até toques de uma soul music modificada de forma intencionalmente experimental (Gun Has No Trigger),  proposta que há tempos lutava para se expandir nos anteriores lançamentos do coletivo nova-iorquino, mas que só agora toma forma e contornos bem definidos.

Ao mesmo tempo em que a banda se permite arriscar e provar de novas experiências musicais, Swing Lo Magellan soa incontestavelmente como o primeiro tratado realmente comercial do grupo. Da maneira como o disco se preenche de prováveis hits – sejam eles românticos, amenos ou expansivos – à forma como os vocais e letras parecem bem alinhados, tudo ecoa de forma radiofônica e agradável mesmo aos ouvidos mais exigentes. A proposta já era visível no álbum passado, entretanto, a instabilidade musical de faixas como Useful Chamber ou mesmo do single Temecula Sunrise impediam que a banda fosse realmente capaz de se apresentar aos mais distintos públicos, revelando um trabalho que por vezes soava hermético, embora rico em texturas, vozes e detalhamentos instrumentais.

Em um ano repleto de lançamentos primorosos que incluem Beach House, Grimes, Cloud Nothing e tantos outros registros que ainda estão por vir, a chegada de Swing Lo Magellan não apenas mostra que o Dirty Projectors conseguiu alcançar outro disco que surpreende, como entra no páreo dos grandes trabalhos lançados até agora. Talvez o leve distanciamento da proposta experimental que tanto conduziu os antigos álbuns cause desconforto aos velhos seguidores do grupo, entretanto, passado o inicial processo de adaptação, o disco não apenas entrega uma banda renovada como de fato parece dar início a uma nova e autêntica carreira.

 

Swing Lo Magellan (2012, Domino)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Tune-Yards, Vampire Weekend e St. Vincent
Ouça: Gun Has No Trigger, About To Die e Dance For You

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.