Disco: “SYRO”, Aphex Twin

/ Por: Cleber Facchi 23/09/2014

Aphex Twin
Electronic/IDM/Experimental Techno
http://warp.net/records/aphex-twin

Por: Cleber Facchi

Poucas interpretações sobre o lançamento de SYRO (2014, Warp), sexto álbum do Aphex Twin, são tão contraditórias quanto encarar o novo disco como o simples “fim de um hiato” de Richard David James. Observado de forma atenta, poucos artistas estiveram tão presentes nos últimos 13 anos – período em que se manteve “recluso” – quanto o produtor escocês. Das melodias letárgicas da Chillwave, aos beats assíncronos de Four Tet, Burial e outros gigantes da cena britânica, cada registro lançado na última década trouxe um pouco da essência do veterano; interpretação que faz de Drukqs (2001) apenas a abertura da maior obra do produtor.

Primeiro lançamento oficial desde a compilação Chosen Lords (2006), parte da série Analord, SYRO está longe de ser encarado como um disco oportunista – desenvolvido apenas para “pagar as contas” do produtor. Trata-se de uma obra que precisa existir. Ainda que as batidas secas e arranjos bruscos de cada composição logo identifiquem a “persona” de Aphex Twin, pouco do que surge pelo álbum pode ser amarrado ao conceito original do artista, distante do som atmosférico de Selected Ambient Works, como da estrutura matemática de …I Care Because You Do (1995) e Richard D. James Album (1996).

Embalado pelos conceitos da Deep Web – espaço (virtual) encontrado pelo produtor para anunciar as primeiras informações sobre o trabalho -, SYRO é uma obra de nítida comunicação com o presente. Se por um lado a construção sintética dos arranjos imediatamente transporta o ouvinte para a década de 1990, por outro lado, a estrutura hiperativa de cada música extermina qualquer traço de aproximação com os primeiros lançamentos do produtor. Recheado por vozes robóticas (de James e dos próprios filhos), ruídos ambientais, além, claro, da constante mudança de direção, o presente álbum de Aphex Twin se espalha como um imenso labirinto, propositadamente feito para que o ouvinte possa se perder dentro dele.

Mesmo que tenha “esculpido” o trabalho a partir de 138 equipamentos diferentes, além de registrar grande parte das composições ao longo da última década em estúdios distintos, James mantém firme a coerência e forte aproximação instrumental em cada porção da obra. Contrariando o aspecto “avulso” que parece explícito no título de grande parte das faixas – meros “rascunhos” -, todas as bases, batidas, vocalizações e arranjos jamais se distanciam de uma mesma estrutura. Uma imposição que converte o presente álbum na obra mais homogênea e segura já assinada pelo produtor.

Todavia, ainda que parta de uma base musical pré-determinada, SYRO carrega em cada composição uma peça instrumental autônoma, essencialmente mutável. Canções fragmentadas em uma estrutura versátil – caso de XMAS_EVET10 [120] (thanaton3 mix) -, ou mesmo faixas curtas – como PAPAT4 [155] (pineal mix) -, que parecem fatiadas em pequenos frações rítmicas.

Versátil, James revela ainda faixas “acessíveis” ao público não iniciado, vide a “pop” 180db_ [130] e a inaugural minipops 67 [120.2] (source field mix). No mesmo acervo é possível encontrar uma variedade de faixas auto-referenciais, aspecto evidente na derradeira aisatsana [102], quase uma extensão da melódica Avril 14th – faixa lançada em Drukqs, de 2001 e, como revelam os charts de Last.fm, Spotify, a música mais executada do produtor.

Tão imediato quanto o material apresentado em Richard D. James Album, de 1996, ou mesmo em EPs como Come to Daddy (1997) e Windowlicker (1999), SYRO carrega na constante ruptura dos arranjos o mesmo acerto da série Selected Ambient Works: os detalhes. Assim como é fácil “se perder” no labirinto desenvolvido para o trabalho, notória é a capacidade de James em surpreender o ouvinte com uma variedade de referências e estruturas sutis encaixadas em cada fresta do disco. São vocais “ocultos” em XMAS_EVET10 [120] (thanaton3 mix), ruídos claustrofóbicos no interior de 4 bit 9d api+e+6 [126.26] e até um solo de sintetizadores maquiado em CIRCLONT14 [152.97] (shrymoming mix). Fragmentos, colagens e acertos minuciosos que validam de forma satisfatória o tempo reservado pelo produtor para a (longa) construção do disco.

 

SYRO (2014, Warp)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Four Tet, Caribou e Boards Of Canada
Ouça: minipops 67 [120.2], XMAS_EVET10 [120] (thanaton3 mix) e aisatsana [102]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.