Apparat
Electronic/Experimental/IDM
http://www.apparat.net/
Por: Cleber Facchi
Talvez aos não iniciados, ouvir The Devil’s Walk, mais recente lançamento do produtor alemão Sascha Ring (ou Apparat) seja apenas o encontro com mais um trabalho de algum ativo representante da IDM ou agora um singelo transeunte pelos campos do etéreo e da música experimental. Entretanto, aos que acompanham o trabalho do artista desde seus primeiros registros, talvez seu novo álbum se apresente como algo novo, um registro de puro impacto e surpresas. Perdido em alguma dimensão, que não a nossa, Ring transforma seu recente trabalho em um projeto instigante, atmosférico e facilmente capaz de tragar o ouvinte para junto de suas densas texturas instrumentais.
Quem nunca ouviu qualquer registro do Apparat talvez sinta dificuldades em ligar comuns rótulos como “ambient music”, “experimental” ou “intelligent dance music”, costumeiramente destinados ao trabalho de Ring, porém incoerentes ao que o músico apresenta em sua atual fase, afinal, para além de um mago da música eletrônica, o alemão é capaz de fazer com que suas composições ganhem vida e talvez formas para além de seus registros. Seguindo os passos do demônio, o disco se revela como um retrato sombrio, um trabalho controlado, porém extenso e diversificado na mesma medida.
Enquanto seus trabalhos anteriores – principalmente as parcerias geradas com a dupla Modeselektor e a produtora Ellen Allien – havia um constante explorar das batidas, uma busca pelo encaixe certeiro dos bips, ou o desenvolvimento das frequências sintetizadas exatas, o que tornava a obra do Apparat um reduto de sons essencialmente sintéticos. Com seu atual projeto Sascha parece buscar pelo novo, um som quase oposto aos seus anteriores trabalhos. Dividido em dez composições, o disco surge como um produto único dentro da cena eletrônica convencional, um álbum de muitas faces, mas capaz de manter sua distinção e uma linguagem própria.
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Herdeiro de Thom Yorke e de tudo que fora propagado no clássico Kid-A (embora soe também próximo dos sons quase palpáveis de Amnesiac), The Devil’s Walk é um disco que se vale de texturas brandas, pequenos redutos instrumentais lentamente posicionados em algum canto específico do trabalho e que aos poucos vão gerando a totalidade do registro. Um disco capaz de soar grande e pequeno na mesma medida. Um ambiente hermético e essencial para que músicas aos moldes de Black Water e Escape possam crescer em pequenas doses, agregando distintos elementos, sejam eles sintéticos ou orgânicos, mas todos de profunda beleza.
Embora carregado de referências e transições pela música eletrônica, o disco está longe de ser um trabalho do gênero, soa muito mais orquestrado, vivo e natural. Mesmo que as batidas, samplers e as programações puxem o álbum em diversos momentos para aquilo que que já fora anteriormente desenvolvido pelo Apparat, em sua quase totalidade o disco se manifesta como um trabalho de uma banda, como se Ring estivesse o tempo todo acompanhado de um sem número de músicos, indivíduos responsáveis por arquitetar cada batida, inclusão dos arranjos de cordas ou mesmo acompanhar os vocais de seu idealizador.
É inegável o quanto as primeiras audições do trabalho o fazem soar como um registro tradicional ou pouco inventivo, entretanto, à medida em que vamos nos acostumando aos sons retratados pelas composições somos lentamente absorvidos, hipnotizados e, obviamente, acabamos maravilhados com a totalidade do que é exposto em The Devil’s Walk. Mesmo incapaz de apresentar um tipo de resultado inédito (a semelhança com o Radiohead pós-Kid-A é inegável), a maneira delicada e melancólica como o disco é desenvolvido não apenas chama as atenções, como transformam o álbum em um projeto essencial.
The Devil’s Walk (2011, Mute Records)
Nota: 8.2
Para quem gosta de: Radiohead, Four Tet e Sigur Rós
Ouça: Black Water
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.