Radiohead
Alternative/Experimental/Electronic
http://www.myspace.com/radiohead
Por: Cleber Facchi
H uma angustiante tensão que acompanha cada novo lançamento dos britânicos do Radiohead. É como se em todo recente trabalho produzido, os fãs e a crítica esperassem aflitos por um possível erro a ser cometido por Thom Yorke e seus parceiros, um erro que vem sendo esperado desde que The Bends (1995) foi lançado e que (felizmente) ainda não chegou. Mesmo com toda a tensão estabelecida após o lançamento do “revolucionário” In Rainbows em 2007 – disco que acabou conhecido até por quem nunca havia ouvido falar da banda, mas que se admirou pelo método intrigante de vender disco “pagando o que você quisesse” – esse oitavo trabalho da banda de Oxford faz um retorno ao hermetismo proposto em Kid-A (2000), ou seja, apresenta a banda em seu habitat natural.
De tempos em tempos o grupo que se completa por Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Phil Selway surge com algum trabalho que de alguma forma filtra seus seguidores e “dificulta” o caminho para aqueles que se aproximam de faceta mais pop da banda. Foi assim com aqueles que seguiram o quinteto graças à faixa Creep, mas que recuaram por meio da seriedade de The Bends. O mesmo aconteceu com quem se encantou pelo sucesso da banda através de OK Computer (1997), mas que teve de decidir se seguiam ou não o quinteto após o climático Kid-A. Para os que buscavam pela mesma sequência enérgica e repleta de elementos percussivos do último álbum (além de algum feito revolucionário nos moldes do processo de comercialização virtual) esse The King Of Limbs (2011) surge como mais uma pequena barreira.
Se ao lançarem seu quarto álbum em outubro de 2000 a banda se cercava por um ambiente obscurecido e através de camadas esvoaçadas de som, em que até os vocais de Thom Yorke se convertiam em uma espécie de instrumento excêntrico, com esse oitavo disco o grupo se orienta por um processo muito similar. Porém, enquanto Kid-A se firma pela construção de uma sonoridade abstrata, quase uma anti-música esse recente álbum se traduz em uma linguagem de som muito mais sintética e “palpável”, como se as faixas fossem dotadas de uma forma rudimentar e tátil.
Quem aguardava por um trabalho mais voltado ao rock como insinuavam as faixas Bodysnatchers e Jigsaw Falling Into Place no anterior lançamento, talvez encontre uma pequena decepção com esse disco. Afinal, há tempos que o Radiohead deixou de ser um grupo de rock para se converter em um laboratório experimental de sons, talvez abrindo uma pequena exceção em In Rainbows. A abertura do novo álbum com a faixa Bloom evidencia isso por meio da sobreposição de texturas, ritmos desconexos, batidas assíncronas e a predisposição aos elementos jazzísticos. Se com OK Computer a banda já buscava referência nos sons de Miles Davis e Krzysztof Penderecki (compositor vanguardista e que é uma das influências declaradas de Johnny Greewood), feito que se intensificaria nos lançamentos seguintes, aqui o quinteto assume de vez seu já claro interesse por esse tipo de som.
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A predisposição do grupo em um formato voltado à IDM também volta de maneira quase evidenciada dentro de The King Of Limbs. Se Autechre e Aphex Twin mostravam-se de maneira indiscreta através de faixas como Packt Like Sardines In A Crushd Tin Box e Idioteque em lançamentos anteriores, aqui eles fazem seu retorno, porém de maneira mais reclusa e quase imperceptível. As referências estão desde os loopings ruidosos de Bloom, passando pelo minimalismo fechado de Feral, até alcançar seu ápice nas nuances que solidificam Lotus Flower.
Apesar de boa parte do álbum se orientar dentro de um caráter eletrônico e sintético, algumas das faixas acabam se adornando por uma casca orgânica nada efêmera. Give Up The Ghost vai buscar no sampler de sons de pássaros e no detalhamento acústico para entregar o momento mais instintivo do álbum. Mesmo os vocais deformados de Yorke em contraposição com seus mesmos vocais em estado puro contribuem para o naturalismo dado à faixa. Em Little By Little esse mesmo tipo de sonoridade surge com um caráter deformado, o som nasce de maneira quebrada, como se os elementos sonoros fossem propositalmente deformados.
Se os vocais de Thom Yorke já foram trabalhados tal qual um instrumento musical em outras épocas, além de passarem por um extenso processo de reconfiguração e desconstrução eletrônica ao longo da carreira do Radiohead, pelo menos aqui ele se apresenta como um legítimo cantor. Os tradicionais falsetes e as notas elevadas que pontuam algumas das canções do grupo – Exit Music(For a film), Creep e Morning Bell, por exemplo – nesse novo álbum vem demonstrados de uma maneira mais natural e madura por parte do músico. Em Lotus Flower ele deixa que sua voz conduza a canção, se dividindo em pequenos momentos de sensibilidade extrema. Morning Mr Magpie por sua vez entrega Yorke em um momento mais cru, quase livre dos excessivos efeitos eletrônicos que em geral permeiam seus vocais, o que acaba de fato evidenciando-o como um vocalista.
O número reduzido de faixas e a curta duração do álbum são claramente um dos pontos positivos desse The King Of Limbs. As oito canções do disco funcionam de maneira exata e hermética, apesar do abrupto final em Separator e da ânsia por uma faixa seguinte é quase impossível imaginar o álbum diferente do formato atual. Esse oitavo disco talvez seja o trabalho mais recluso e comportado do grupo, não chega a ser minimalista, mas carrega claramente uma temática reducionista em sua essência. A percussão etérea, o groove excêntrico e a ambientação obscura do disco mostram que o Radiohead acertou mais uma vez – e está longe de cometer qualquer tipo de erro.
The King Of Limbs (2011)
Nota: 8.4
Para quem gosta de: Portishead, James Blake e Björk
Ouça: Lotus Flower
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.