Disco: “The Rip Tide”, Beirut

/ Por: Cleber Facchi 04/07/2011

Beirut
Indie/Folk/Gypsy
http://www.myspace.com/beruit

Por: Cleber Facchi

Ao lançar The Flying Club Cup (Ba Da Bing!, 4AD) em outubro de 2007, o já não mais tão jovem Zach Condon não apenas entregava ao público um dos mais belos trabalhos daquele ano ou o melhor registro de sua banda até então, o Beirut, mas deixava ali uma série de dúvidas e questionamentos que botavam em xeque o futuro do projeto que coordenava. Parecia que todas as possibilidades musicais estavam lançadas, com o norte-americano já tendo experimentado um colossal agrupado de referências, tornando as predisposições aos sons do leste europeu algo já não mais tão tão revolucionário e criativo quanto fora em outras épocas.

O hiato de quatro anos que separa o músico de Santa Fé, Novo México de seu mais recente álbum, The Rip Tide (2011, Ba Da Bing!) deu à Condon a possibilidade de repensar a musicalidade e a validade de suas fórmulas, partindo para a construção de um som que mantivesse os elementos que trouxeram destaque ao seu grupo, porém, acrescentando novas possibilidades rítmicas e instrumentais. Antes, porém, que o terceiro álbum viesse à tona, o músico partiu para as experimentações em 2009, através de dois EPs que posteriormente seriam agrupados e difundidos como um trabalho único: March of the Zapotec e Holland EP.

Para o primeiro álbum, Zach deu continuidade aos já tradicionais aspectos instrumentais de sua banda, encontrando em novas tendências e países um acréscimo ao pequeno registro. Enquanto em seus anteriores discos, o músico trazia dos povos Balcãs a fluência necessária para sua obra, com o EP, Condon partia em busca da cultura e das sonoridades lançadas pelo povo Zapoteca, do México. Para isso, o músico contratou uma banda fúnebre mexicana, responsável por auxiliá-lo na condução do registro e evitar que o mesmo desabasse em sons demasiado superficiais ou excessivamente técnicos. O resultado se compreende em seis curtas faixas em que o músico mostrava ser possível trazer inovação à sua obra pouco alterando suas bases.

É com o segundo EP, entretanto, que Condon trouxe ao Beirut uma dose ainda maior de inovação e ineditismo. Se em todos os anteriores álbuns – singles, EPs ou mesmo os discos oficiais – Zach se mantinha dentro de uma produção genuinamente orgânica, em Holland ele quebra essa lógica, trazendo para dentro de sua banda uma carga mais do que significativa de sintetizadores e experimentações eletrônicas suaves. O que poderia soar de forma estranha dentro da curta, porém bela obra de Condon acabou se revelando de maneira agradável, além de uma saída mais do que coerente ao trabalho da banda.

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A partir do lançamento dos dois pequenos álbuns, Condon e seu Beirut abrandavam os medos lançados ao término The Flying Club Cup, mantendo o caminho livre para o que quer que fosse experimentado futuramente. Em The Rip Tide, o músico traz exatamente aquilo que já havia provado em seus dois últimos EPs, porém, condensando o dupla agrupado de novas referências de maneira sofisticada e melhor diluída. Os teclados, antes meros figurantes dentro da obra do grupo – em sua quase totalidade concentrada em instrumentos de sopro e arranjos de cordas -, agora crescem de forma mais do que perceptível, sendo eles os responsáveis por darem nova roupagem e boa condução ao disco.

Embora seja visível a presença da instrumentação eletrônica dentro do disco, o que mais torna agradável a apreciação deste terceiro álbum é a maneira natural com que Condon une todos os elementos musicais sem que haja uma mudança muito abrupta no formato. Na própria faixa de abertura, A Candle’s Fire, essa boa divisão entre o velho (a sonoridade regional) e o novo (os sintetizadores eletrônicos) já se torna algo bastante presente e bem diluído, como se fosse o bom e velho Beirut, sendo quase impossível perceber alguma mudança muito latente ou desconfortável ao longo da faixa ou do restante do álbum.

Mesmo que algumas faixas apresentem uma disposição maior ao uso de determinados aspectos sonoros – como a condução (quase) totalmente eletrônica em Santa Fe ou a musicalidade puramente orgânica em Goshen -, mostrando a dualidade instrumental do álbum, somente quando os dois caminhos que conduzem o disco se encontram é que The Rip Tide alcança seus melhores momentos. A própria faixa homônima traz exatamente isso, com Condon (e o corpo de instrumentistas que o acompanham) trançando uma atmosfera eletrônica com um apanhado de sons suavemente orquestrados.

Dentre todas as mudanças que edificam o álbum é provável que a condução mais “pop” e o vasto apanhado de singles acessíveis dentro do disco seja o aspecto que mais diferencie o Beirut de hoje daquele encontrado há quatro anos. Enquanto nos registros anteriores havia o esforço em produzir uma obra fechada, com todas as canções amarradas dentro de uma temática única, em The Rip Tide Condon quebra essa lógica, proporcionando um jogo de faixas avulsas, uma quase coletânea, algo que talvez cause estranhamento aos anteriores ouvintes do projeto, mas que apenas reforça o bom dinamismo do trabalho.

The Rip Tide (2011, Ba Da Bing!)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: DeVotchKa, Fleet Foxes e Arcade Fire
Ouça: East Harlem e Vagabond

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.