Disco: “Unknown Mortal Orchestra”, Unknown Mortal Orchestra

/ Por: Cleber Facchi 23/06/2011

Unknown Mortal Orchestra
Lo-Fi/Indie/Psychedelic
http://www.unknownmortalorchestra.com/

Por: Cleber Facchi

As décadas de aperfeiçoamento tecnológicos em busca de métodos de gravação e reprodução acústica com qualidade, de nada adiantaram quando nos deparamos com o trabalho de estreia do Unknown Mortal Orchestra. A limpidez sonora que inúmeros softwares ou diversificados sistemas de captação vem buscando passam longe das rebuscadas nove composições que inauguram o trabalho do grupo norte-americano. Desenvolvendo uma sonoridade lo-fi digna de honrar mestres como Robert Pollard ou a psicodelia de Captain Beefheart, o grupo de Portland, Oregon transforma seu debut em uma das estreias mais agradáveis do ano.

Por mais sujas, rebuscadas e estranhas que sejam as faixas da homônima estreia do trio – composto por Ruban Nielson (guitarra e vocal), Jake Portrait (baixo) e Julien Ehrlich (bateria) -, o aspecto pop e as letras radiantes (quando compreensíveis) conseguem tocar o ouvinte de maneira fácil, bastando uma única audição do álbum para que ele se transforme em um registro amigo. Assim como Before Today (2010) do Ariel Pink’s Haunted Graffiti, o autointitulado registro se desprende de um tipo de som que possa soar excludente, se convertendo em um disco “comercial” mesmo dentro de suas reverberações sujas, vocais estourados e guitarras granuladas.

Se Dancer Equired! (2010) mais recente álbum dos também americanos do Times New Viking foi o disco que matou o Lo-Fi, então o trabalho do UMO surge para ressuscitar o gênero. Durante os trinta minutos em que a banda concentra suas criações acabamos nos deparando com composições guiadas por uma fluidez empoeirada, em que é possível visualizar a trinca de integrantes que dão vida ao projeto se amontoando em um quarto bagunçado para gravar suas canções em um velho toca-fitas.

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Oposto ao que um bom número de conterrâneos do estilo vem desenvolvendo (e ainda desenvolverão) em seus trabalhos, o destaque na estreia da banda de Portland não está em repetir o mesmo tipo de som exaltado pelo Guided By Voices, Sabadoh ou nos gloriosos álbuns do Neutral Milk Hotel (que embora seguidores de uma mesma “temática” seguem por outra vertente), mas em voltar ainda mais no tempo, para além de duas simples décadas atrás. Passando toda a massa de referências que se encontram na década de 90, Nielson, Portrait e Ehrlich encontram nas décadas de 60 e 70 influências substanciais para darem vazão ao seu primeiro disco.

Do catálogo ressaltado pelo trio surgem passagens pelo The Who, um pouco de Cream, Jefferson Airplane, além do essencial (e já mencionado) Captain Beefheart & His Magic Band, que proporcionam ao grupo um toque necessário de psicodelia, tendências à um rock ‘n’ roll nostálgico e um tipo de sustentação que parece inexistente em trabalhos similares atualmente. O resultado desse emaranhado de décadas e preferências instrumentais se traduz através de Jello and Juggernauts, Ffunny Ffrends e Thought Ballune, composições guiadas por rifes exaltados e acordes bem distribuídos em um tipo de frequência que apenas o trio parece reproduzir.

Em tempos em que construir um trabalho cada vez mais conceitual, maduro ou temático é o que traz aos grupos iniciantes os olhares da imprensa e do público, para o Unknown Mortal Orchestra esta é outra fórmula inválida e que parece se manter longe de sua estreia. Embora donos de um tipo de som sólido e montado de incontáveis referências é a formatação leve e a condução divertida do disco o que faz com que os olhos e os ouvidos se curvem diante da banda. Ruban Nielson não apenas provaram que o Lo-Fi não está morto, como deram ao gênero uma nova possibilidade de ser aproveitado.

Unknown Mortal Orchestra (2011)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Bass Drum of Death, Times New Viking e Ariel Pink
Ouça: How Can U Luv Me

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.