Disco: “Volume 3”, Mopho

/ Por: Cleber Facchi 21/05/2011

Mopho
Brazilian/Psychedelic/Alternative
http://www.myspace.com/mophobrasil

Por: Fernanda Blammer
Colaboração: Tiago Vasconcelos

 

Mais de uma década se passou e a habilidade da alagoana Mopho em nos presentear com faixas marcantes, construídas pelo extensivo uso de sintetizadores viajados e letras melancólicas apenas se intensificou. Depois de um clássico disco de estreia lançado em 2000, e um agradável segundo disco entregue em 2004 (mesmo mal divulgado), o grupo criado em meados da década de 90 retoma suas atividades com Volume 3 (2011), uma bela aula de como se afundar nas climatizações do rock psicodélico, construindo uma gigantesca cadeia de sons, que satisfatoriamente tragam o ouvinte para dentro de suas esvoaçadas reverberações.

Os mais dez anos que separam a estreia do grupo de Maceió desse terceiro álbum fazem com que a palavra “aprendizado” ganhe traços bem visíveis. Tanto instrumentalmente quanto dentro da poética do disco tudo soa de forma melhor resolvida, com a dualidade de elementos que dão forma ao registro atuando de maneira coesa, amarrados em um conceitual diálogo. A banda que chegou bem perto de seu fim em meados dos anos 2000 hoje encontra em se quarteto de integrantes – João Paulo, Hélio Pisca, Junior Bocão e Dinho Zampier – uma harmonia perfeita e que estende sua atuação à todas as faixas desse novo álbum.

Se durante a estreia a banda encontrava inspiração nos Beatles das fases Rubber Soul (1965) e Revolver (1966), além de algumas claras referências aos primeiros anos dos Mutantes, com o presente álbum ocorre uma intensa aproximação com o trabalho da britânica Pink Floyd, além de alguns caminhos que os levam a percorrer as vias do rock progressivo. O lado viajado que a banda expunha anteriormente parece (felizmente) deixado de lado, com o quarteto apresentando um trabalho mais maduro, instrumentalmente límpido e que retira o máximo de todos os mecanismos aplicados no conteúdo do disco.

A maior sutileza do novo álbum está nos contornos límpidos com que as faixas se desenvolvem, algo completamente oposto da sonoridade quase lo-fi dos primeiros discos, em que as canções vinham protegidas por uma pequenas camada de poeira, algo que mesmo dando um charme especial ao som acabava comprometendo a real e delicada musicalidade do grupo. Tanto as boas guitarras, como o apurado uso dos teclados chegam sofisticados aos ouvidos, dentro de um frequência doce e calma, despojada, porém ainda assim precisa. O mesmo vale para os vocais de João Paulo, fluindo de maneira tranquila e dando a entonação necessária às faixas.

Se faixas como Nada Vai Mudar, Não Mande Flores e A Carta despejavam versos de um sofrimento tímido e sincero, em Vol. 3 a dor parece diminuta, com a banda se apoiando na criação de faixas mais existencialistas e que retratem uma temática cotidiana. Parte disso se deve da divisão entre os letristas, não sendo apenas Paulo o principal compositor, com Bocão assumindo grande parte das canções. Entretanto, velhas e sofridas composições ainda se fazem presentes, como a melancólica Quanto Vale Um Pensamento Seu, que com a participação do “conterrâneo” Wado se transforma em um trabalho de puro agrado e que lembra indiscutivelmente o que era proposto no primeiro álbum.

Com o passar do disco torna-se perceptível as distinções da Mopho atual para aquela encontrada anteriormente. Tudo parece construído de forma mais resolvida, clara e ainda tão intensa quanto fora há mais de uma década. Enquanto boa parte das bandas nacionais de garagem ainda insistem em se apoiar nos sons dos anos 60 de maneira clichê e carente de inovações, o quarteto alagoano faz de sua experiência um prato cheio para que novas formas se apliquem em suas canções, dando vida a um trabalho que foge da plasticidade sintética explorada no rock nacional atualmente, fazendo do disco um trabalho que porte sensibilidade, beleza e inovação. A Mopho está de volta e dessa vez é para ficar.

Volume 3 (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Os Mutantes, Cidadão Instigado e Wado
Ouça: Quanto Vale Um Pensamento Seu

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.