Disco: “WIXIW”, Liars

/ Por: Cleber Facchi 05/06/2012

Liars
Experimental/Alternative/Indie
http://liarsliarsliars.com/

Por: Fernanda Blammer

Poucas bandas se transformaram tanto ao longo da última década quanto o trio nova-iorquino Liars. De um princípio construído em cima de aproximações com o noise rock, experimentações típicas do que fora testado pelo Sonic Youth em começo de carreira e até algumas doses de dance punk, o grupo formado por Angus Andrew, Aaron Hemphill e Julian Gross aos poucos foi se aproximando de uma sonoridade mais amena e introspectiva. O que antes era ruído, distorção e gritos desordenados, logo enveredou para algo mais brando, com uma proposta de som muito mais voltado para um resultado atmosférico, definição que passou a imperar de maneira bastante evidente desde a homônima obra lançada em 2007.

Se o toque experimental passou a se manifestar de forma mais delicada a ambiental nos recentes trabalhos do grupo, a chance da banda soar óbvia (pelo menos por enquanto) parece longe de se manifestar. Seguindo a mesma medida assumida no trabalho anterior, Sisterworld (2010), a tríade transforma o recente WIXIW (2012, Mute) – pronuncia-se “wish you” – em um colosso de composições climáticas. Uma soma de 11 bem elaboradas canções que se deixam consumir por uma proposta ora banhada por um doce toque de psicodelia em preto e branco, ora consumida por um teor ambiental denso e complexo.

Com uma estrutura inicialmente lenta e arrastada no decorrer das primeiras audições, o disco aos poucos revela uma variedade de texturas e transformações que parecem filtradas e disponíveis apenas aos velhos ouvintes da banda ou apenas àqueles que de fato se deixam conduzir pelos atmosféricos ensinamentos da banda. Lembrando muito um Deerhunter do álbum Halcyon Digest (2010), claro, sem qualquer chance de soar comercial ou minimamente vendável ao grande público, a banda parte em busca de uma sonoridade que por vezes toca a mesma psicodelia suja do grupo de Atlanta, algo que as guitarras suaves de His And Mine Sensations ou os loopings de distorção de No. 1 Against The Rush evidenciam a todo o momento.

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Talvez o que mais caracterize e por vezes distancie o recente lançamento do trio norte-americano de suas anteriores obras seja a tonalidade minimalista que costura todas as 11 canções do álbum. Como se evitassem a todo o momento os excessos que antes guiavam brilhantemente os primeiros registros em estúdio, a banda passa a consumir uma sonoridade intencionalmente controlada, referência que define cada mínima manifestação que preenche o álbum em sua totalidade. Dos vocais, passando pelas batidas, teclados, até chegar às guitarras, tudo é moldado de maneira controlada, com acordes minuciosos se encontrando com vozes econômicas, aspecto que parece transformar todas as faixas presentes em uma única e extensa composição.

Embora assertiva e capaz de manter a mesma proposta experimental que tanto define a carreira da banda, o teor excessivamente controlado de WIXIW bem como a incapacidade do trio de mais uma vez romper limites acaba por impedir que o álbum alcance um melhor desempenho. Mesmo os pequenos flertes com a eletrônica, algo bem visível em Brats e em doses menores nas demais faixas do álbum não conseguem proporcionar um melhor desempenho à obra, que em diversos momentos se deixa influenciar por uma força segura e que afasta a banda do mesmo caráter desafiador de outrora.

Por mais aparentes que os erros estejam, os acertos ainda prevalecem e acabam por proteger parte da obra, algo que o grupo corresponde com sonorizações instáveis (Octagon), pequenas sutilezas (His And Mine Sensations) e alguns apontamentos do que a banda pode vir a se transformar em um futuro próximo (Flood To Flood). Mesmo que o álbum não alcance o mesmo desempenho dos anteriores lançamentos do trio, WIXIW parece marcar uma nova fase dos nova-iorquinos, como se estivessem em véspera de apresentar algum tratado ainda maior e mais audacioso do que fora definido em outras épocas. Entretanto, pelo menos por enquanto, apenas a calmaria e uma dose leve de experimentos prevalecem.

WIXIW (2012, Mute)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Deerhunter, No Age e Women
Ouça: Brats, WIXIW e No. 1 Against The Rush

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.