Disco: “You’re Nothing”, Iceage

/ Por: Cleber Facchi 08/02/2013

Iceage
Punk/Garage Rock/Rock
https://www.facebook.com/IceageCopenhagen 

Por: Cleber Facchi

Iceage

A raiva e toda a agressividade imposta pelo Iceage em New Brigade (2011) desde o começo nunca foi o suficiente para caber em um único disco. Logo, não seria nenhuma surpresa antecipar que o segundo trabalho do quarteto de Copenhagen, Dinamarca viesse orientado pelas mesmas reverberações caóticas iniciadas pela há dois anos, ainda mais se levarmos em conta os rasos 24 minutos que edificam os paredões de gritos, ruídos e distorções alicerçados pela banda. Entretanto, o que talvez ninguém fosse capaz de prever é que You’re Nothing (2013, Matador) visse consumido por uma carga ainda mais intensa e visceral que o registro antecessor, espancando o ouvinte com o mesmo vigor (ou talvez até mais) do que o último disco.

De natureza sombria, o mais recente álbum do grupo formado por Johan Surrballe Wieth, Dan Kjær Nielsen, Elias Bender Rønnenfelt e Jakob Tvilling Pless se desprende de maneira assertiva das rápidas passagens pelo pós-punk no melhor estilo Joy Division, uma das marcas do primeiro álbum. Com o distanciamento, a banda acaba por assumir uma relação muito maior com o Punk Rock em moldes nada comportados – seja ele o gênero proclamado de forma descompromissada ao final da década de 1970 ou mesmo se relacionado aos sons recentes que por vezes percorrem vias deveras obscuras. Surgem assim passagens instrumentais que vão do surgimento do Black Flag à consagração do Converge em All We Love We Leave Behind (2011), décadas de ruídos sintetizadas em avalanches constantes de distorção.

Não, You’re Nothing não é um disco fácil e muito menos fornece brechas aos ouvintes despreparados. Contrário do que tingia superficialmente algumas das faixas costuradas no primeiro disco, entre elas Broken Bone e a canção-título, nada do que conduz a sonoridade e principalmente os versos do novo álbum se relacionam com a leveza do punk californiano ou da atual cena norte-americana. Dessa forma, não espere por canções de amor embaladas por guitarras sujas, ou quem sabe instantes de aprazia ao visitante que chega sem conhecer previamente trabalho da banda. Do momento em que inicia até o executar da ameaçadora faixa de encerramento, o disco se apresenta como um bloco sombrio e único de som. Um soco direto que estraçalha o maxilar de que chega desprotegido.


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O mais curioso dentro dessa “nova” estratégia de agressividade e consequente desespero que impulsiona o Iceage, está no fato de que tudo se sustenta em um plano de completo despego comercial. Concentradas na porção inicial do álbum, Ecstasy e Coalition até passam em uma primeira audição uma forte relação de proximidade com o que fora criado no decorrer do álbum passado, entretanto, nada que a banda não seja capaz de desestabilizar em um contexto niilista e que se cobre com vestes rasgadas de pura distorção. A sujeira que acaba impregnando o álbum em sua totalidade cria em alguns instantes uma espécie de muro, firmando com os reféns aprisionados no lado de dentro da obra uma intensa relação de amor e ódio.

É justamente dentro desse recolhimento lírico e explosão de ruídos que mora a real proposta da banda com o presente álbum, um disco trabalhado na aceleração do punk (e por vezes até do hardcore), mas que se engrandece pela camada extra de sons claustrofóbicos que o quarteto insiste em derramar. A força do álbum atinge seu ápice a partir de Morals, música que até brinca com o shoegaze de maneira épica, mas em poucos instantes regressa à mesma raiva pós-adolescente instaurada desde o primeiro disco. A partir desse instante a banda se encaminha para uma sucessão de choques entre voz, guitarra e bateria que naturalmente amadurecem tudo o que fora testado há dois anos.

Diferente do que desgasta muitos dos trabalhos do gênero, You’re Nothing não é um álbum que acompanha os demais lançamentos ou representantes da mesma cena, pelo contrário, assume identidade por transformar referências outrora compartilhadas em algo próprio, em “apenas” ruído. Talvez uma rápida passagem pelo disco faça imperceptível as transformações que habitam a atual fase dos dinamarqueses, entretanto, quanto mais tempo passados dentro do registro, mais sufocante ele se torna, evidenciando de fato o que representa os recentes percursos do Iceage.

 

Iceage

You’re Nothing (2013, Matador)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Male Bonding, METZ e Converge
Ouça: Coalition, Morals e You’re Nothing

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.