Entrevista: Olavo Rocha (Lestics)

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2011

Por: Cleber Facchi
Fotos: Pedro Canales

Donos de um dos trabalhos mais importantes de 2010 (Aos Abutres), além de serem responsáveis pela criação de algumas das mais belas canções dos últimos anos, como Luz do Outono, Náusea, À espera de um Fantasma e Dorme que Passa, nossa entrevista de hoje é com Olavo Rocha, uma das partes do grupo paulistano Lestics e que nos atendeu via e-mail.

Depois de lançarem quatro ótimos trabalhos de estúdio e mais recentemente um documentário contando um pouco sobre a carreira do grupo, além da apresentação de algumas de suas faixas, o atual quinteto cresce a cada novo lançamento, seja pela beleza e simplicidade de suas letras, ou pela instrumentação melódica que toma conta de todos seus registros.

 

No primeiro disco – 9 sonhos (2006) – o som do Lestics fluía de maneira mais ponderada, simplista e até fria em alguns aspectos, porém no último álbum – Aos Abutres (2010) – a sonoridade da banda passou a funcionar de maneira mais acessível e bem mais detalhada. Posso dizer que dentro destes quatro anos o som do grupo se aproximou mais de uma linguagem pop? Como vocês da banda percebem esse processo de mudança dentro do trabalho do grupo?

O som ficou mais pop, mas não foi um movimento premeditado. As músicas novas saíram daquele jeito. Da mesma forma, não pensamos em fazer o 9 sonhos anti-pop. O disco simplesmente nasceu meio esquisito. A idéia de planejar (esteticamente) um disco antes de sair compondo é bacana e é tentadora. É o tipo de procedimento que “prova” que a banda tem uma proposta estética. Mas a gente não trabalha dessa forma, não é nosso perfil. As mudanças vão acontecendo de um jeito natural e não necessariamente apontam um caminho, por assim dizer, coerente. Enfim, pode ser que o próximo disco soe esquisito de novo, vai saber.

 

No começo de carreira eram apenas você e o Umberto Serpieri os responsáveis por dar vida ao som do Lestics. Mudou muito a forma de compor/gravar/tocar ao vivo de quando vocês eram apenas uma dupla e agora se apresentando como quinteto?

Mudou um pouco. Na verdade os métodos de composição nunca seguiram uma regra. A coisa pode começar com uma letra pronta que se encaixa numa música pronta. Ou com uma letra não tão pronta que vai se encaixando no esboço numa música. O legal é que agora tem o Patu e o Lirinha compondo também, e tem o Xuxa que é muito propositivo (e muito palpiteiro, haha!). Então somos cinco cabeças envolvidas no processo de composição, o que é ótimo. Na gravação também não muda muito. A gente gravou o disco novo quase inteiro num notebook, dentro da sala de ensaio do Nimbus Studios. Só as baterias foram gravadas num esquema pró, também no Nimbus. Ou seja, não muito diferente dos dois primeiros discos. E quanto aos shows, aí a mudança é simples: enquanto fomos uma dupla não fizemos shows. A idéia de completar a formação nasceu dessa vontade de tocar ao vivo como uma banda “de verdade”.

 

Como foi essa aproximação com o Lirinha (guitarra e violão), Marcelo Patu (baixo e violão) e Xuxa (bateria e percussão) até a entrada definitiva deles na banda?

A gente já se conhecia há muito tempo, bem antes de tocarmos juntos. Então não foi bem aproximação, foi convite mesmo.

 

De 2006 a 2010 o Lestics já lançou quatro discos, algo muito acima da média das bandas independentes do país. Aproximadamente quanto tempo a banda demora entre produzir, gravar, mixar e lançar um novo disco? Como o grupo se organiza dentro de estúdio? Seguindo essa mesma linha de tempo, já podemos esperar por um novo trabalho do quinteto?

Na real a banda foi “pensada” no final de 2006 e começou de fato no começo de 2007. O primeiro disco, de janeiro de 2007, foi composto e gravado em um mês. O segundo, de meados de 2007, demorou uns dois meses pra ser feito. O terceiro (Hoje, nosso único trabalho feito totalmente em estúdio profissional e o primeiro com a banda completa) levou mais tempo, uns 4 ou 5 meses. Já o Aos abutres foi um pouco mais complicado, até porque rolou a saída do baterista Felipe Duarte, depois um hiato até a entrada do Xuxa. O fato é que a gente gosta muito de compor e de gravar. De preferência rapidamente. Sobre o próximo disco, estamos começando a fazer músicas novas e tal, mas ainda pretendemos trabalhar mais o Aos abutres, fazer mais shows.

Percebo que a literatura tem um papel de extrema importância dentro dos discos da banda. Até o clipe de Travessia, por exemplo, conta com imagens das páginas de Moby Dick. Esses elementos literários eles vem até a banda durante as composições de maneira natural ou há uma busca por esses subsídios, há uma caça de palavras e referências?

Gosto muito de ler, mas as letras do Lestics tem pouco a ver com os livros que leio. Nem dá pra falar em influência, seria meio patético citar meus autores favoritos. Não estou aqui diminuindo o valor das minhas letras – eu me orgulho bastante delas. Mas é questão de ter noção mesmo. As letras são legais e são simples, é por aí. Quando coloco alguma referência literária nelas (o que é bem raro) costuma ser por senso de humor ou porque rende uma rima bacana (gosto de rimas), não é pra parecer mais “refinado” nem nada.

 

Gosto muito das capas e dos encartes dos trabalhos do Lestics. Há um responsável pela questão gráfica ou as ideias partem em conjunto?

Normalmente eu faço a concepção das capas e flyers, e então coloco as idéias em prática junto com amigos que conhecem mais a fundo o assunto direção de arte – como o Rodrigo Maragliano, o Guilherme Caldas, o Fabrício Kassick.

 

Há pouco tempo vocês apresentaram em Curitiba, escapando um pouco do território da banda que é São Paulo. Existe algum lugar onde o grupo gostaria de se apresentar ou que já tenha se apresentado, mas anseia por um retorno?

Muitos. Mais precisamente, todos! Mas por enquanto é complicado pensar em turnês e tal. Ainda não temos como viabilizar isso em termos de tempo, grana, estrutura.

 

Recentemente vocês lançaram um documentário contando um pouco sobre a história da banda, mesclando apresentações em estúdio, entrevistas e belas imagens. De onde partiu a ideia da produção desse material?

Do Pipol, que é responsável pelo site de literatura Cronópios. Ele deu a ideia, tocou a produção, dirigiu e montou o documentário. Um monstro! A gente amou o resultado, foi muito legal trabalhar com ele e com todo o pessoal que abraçou o projeto.

 

Alheio aos trabalhos com o Lestics, o que fazem os integrantes da banda?

O Umberto é professor de música, o Lirinha trabalha em estúdio e o Xuxa, com instrumentos musicais. Paralelamente à banda, só eu e o Patu temos trabalhos não ligados à música.

Rapidinhas:

Os cinco artistas/discos que você mais tem escutado nos últimos tempos?

Drive-By Truckers, aquele disco do John Legend com The Roots (Wake Up), Midlake, Spoon, Public Enemy.

 

Gosto, mas tenho vergonha de assumir: que música/artista te causa constrangimentos, mas você não consegue parar de escutar?

Não tenho isso não, todo mundo gosta de um monte de coisas que eventualmente são consideradas bregas, melosas, mal feitas. Foda-se, né? O negócio é se deixar tocar pela música. E tem outra: abaixo de, digamos, Beethoven, dá pra descer o cacete em qualquer um, certo? Dizer que é pobre, repetitivo, mal feito. O jazz já foi (e por alguns eruditos ainda é) considerado música de segunda ou terceira categoria… E se o cara só gosta de Beethoven pra cima, foda-se também, tá perdendo as delícias do pop  : )

 

Se pudesse convidar algum ídolo para gravar ou se apresentar ao lado do Lestics, quem seria?

Ídolo? O Prince!

Todos os discos do Lestics podem ser baixados gratuitamente na página da banda

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.