Entrevista: Silva

/ Por: Cleber Facchi 19/02/2014

Por: Cleber Facchi

Souza, Costa, Santos e Silva. Em meio a tantos nomes pomposos da música nacional, o cantor Lúcio Silva Souza, de Vitória, Espirito Santo, resolveu escolher justamente o nome mais comum deles para intitular o projeto que vem desenvolvendo desde o começo de 2011. A “simplicidade” do título, entretanto, desaparece por completo tão logo as melodias delicadas do músico ganham formas.

Dono de um dos grandes lançamentos musicais de 2012, o agradável Claridão (Slap), o jovem artista conseguiu em pouco tempo um lugar de destaque dentro da presente cena nacional. Pervertendo as redundâncias da MPB e se aproximando da eletrônica de forma pacata, Silva conseguiu amarrar as pontas entre o Indie e o Pop, resultado que deve se repetir com a chegada de Vista Pro Mar, segundo e ainda inédito trabalho de estúdio do cantor.

Com lançamento previsto para o dia 17 de março, o disco de 11 faixas e participação da cantora Fernanda Takai (Pato Fu) inaugura um novo caminho para o músico. Com apresentação agendada para a edição 2014 do Lollapalooza Brasil, e depois de ter música escalada em trilha sonora de novela da Globo – Além do Horizonte -, conversamos com Silva por e-mail para saber o que esperar do novo álbum, a transição entre o independente e o mainstream, além, claro, da boa repercussão do músico em Portugal.

Foi positivo o saldo em torno da turnê de divulgação do álbum Claridão? Até onde você conseguiu chegar com o disco?

Posso dizer que foi bem positivo. Fiquei impressionado como as coisas foram andando sozinhas. Não tenho nenhum grande empresário investindo rios de dinheiro na minha carreira. Eu escolhi o meu irmão para desempenhar esse papel justamente para ficar mais livre nas minhas escolhas e o trabalho cresceu assim mesmo. Consegui emplacar duas músicas nas rádios de Portugal e fazer uma turnê por aqui. Estou bem satisfeito com o resultado do Claridão. Não sei os números, mas pelo que recebemos acredito que as vendas foram boas, dentro da realidade do que se vende hoje.

Assim como Claridão, Vista Pro Mar será lançado selo SLAP, braço “independente” da Som Livre. Qual a real participação do selo na construção do álbum, existe algum tipo de interferência por parte dos executivos ou você tem total liberdade na construção das faixas?

Escolhi assinar com a SLAP porque eles me deram e continuam a me dar total liberdade para criar e confiam bastante no meu trabalho. Em geral é assim, depois que eu produzo tudo, isso passa pela aprovação deles e então eles me ajudam na parte mais comercial, como escolher os singles, por exemplo.

No texto de apresentação do novo disco, você afirma que deixou “um pouco de lado a pesquisa de timbres e as batidas, e foi trabalhar as melodias”. Isso quer dizer que podemos esperar por um disco ainda mais pop, algo na linha do single Amor pra depois?

Claridão foi um disco feito cem porcento dentro do quarto, com excessão da pós-produção, e eu estava numa fase um tanto melancólica. Não saía muito, não estava apaixonado, ouvia muito Burial e outros artistas mais obscuros. Vista Pro Mar já foi feito num momento diferente. Tive as primeiras idéias desse disco na Flórida com dias ensolarados, numa piscina, de férias, vendo gente bonita, ouvindo Poolside, João Donato, Cashmere Cat e Frank Ocean. Investi nas coisas que melhoram o meu humor e o disco absorveu um pouco disso. Sobre “deixar de lado a pesquisa de timbres”, foi só na hora de compor mesmo. Antes eu costumava produzir tudo antes de começar a compor a melodia e a letra. A produção era a coisa mais importante pra mim (e ainda é), mas resolvi caprichar mais na estrutura das canções. Primeiro vieram as melodias, as letras e depois comecei a brincar com a música do jeito que eu gosto.

Gostaria que você explicasse o processo de construção do disco em Portugal. Existe algum motivo específico em ter se mudado para as terras lusitanas? Quanto da essência do disco é “brasileira” e quanto é “portuguesa”?

Gravar em Portugal foi primeiramente uma questão de logística. Vim fazer uma turnê e logo depois do Vodafone Mexefest eu já voltaria para o Brasil para gravar o Vista Pro Mar no Rio. Mas achei Lisboa uma cidade tão inspiradora e fiz tantos amigos por aqui que resolvi ficar mais. As músicas já estavam todas compostas e eu já havia produzido boa parte delas em casa. O processo aqui em Lisboa foi mais técnico, como gravar os vocais numa boa sala num bom estúdio. E também os outros instrumentos que precisam de uma sala com acústica boa e microfones melhores. Fora isso, acho que o disco é de todo canto. É brasileiro, é lusitano, é até bem globalizado.

No último ano, Momo, Cícero e Wado, em parceria com Marcelo Camelo, lançaram três discos “em conjunto”. É possível interpretar Vista Pro Mar como parte desse mesmo projeto, afinal você tem andado muito próximo deles?

Não andei tão próximo deles porque não deu tempo, mas gostaria te ter passado mais tempo com eles. Cheguei a encontrá-los aqui em Lisboa umas quatro vezes e foi ótimo. Gosto de artistas com o ego bem resolvido e todos eles são assim, têm uma energia boa que contagia quem fica perto. Mas em Vista Pro Mar mais uma vez trabalhei sozinho, apenas com a colaboração do meu irmão, que é meu letrista predileto.

Sei que você gosta bastante de Youth Lagoon e outros nomes recentes do Dream Pop e Synthpop. O trabalho deles reverbera de alguma forma na sua música?

Gosto muito do Youth Lagoon e de várias bandas desse gênero, mas não só do Dream Pop ou Synthpop. Gosto dos produtores que fazem aquelas melodias e batidas que ficam reverberando na sua cabeça e te emocionam, independente do gênero. Como disse anteriormente, ano passado ouvi tantas coisas que me marcaram: as mixtapes do Poolside, o disco Quem é quem do João Donato, os vários projetos do Cashmere Cat, bandas como Blue Hawaii, CHVRCHES, John Wizards, Blood Orange e outras coisas que não caberiam aqui.

Entre as participações do novo disco está a cantora Fernanda Takai (Pato Fu) – na faixa Okinawa. Mas e na construção/produção do álbum, teremos algum outro nome de destaque?

Sim, Takai é uma das minhas cantoras brasileiras prediletas e fiquei muito honrado quando ela aceitou meu convite. Na pós-produção contei com a mixagem do engenheiro americano Patrick Brown, que mixou o último disco do Toro y Moi e trabalhou com artistas que eu admiro como Active Child e Main Attractionz. Depois desse processo o disco foi masterizado pelo Joe LaPorta, em Nova Iorque.

Além dos últimos retoques no disco, você está gravando os clipes que vão apresentar o novo álbum, pode revelar alguma coisa sobre eles? A parceria com Jorge Bispo, Secchin ou outros diretores dos primeiros clipes volta a se repetir?

Estou produzindo dois clipes no momento. Um vai ser rodado aqui em Portugal e o outro em Paris. Os dois vão ser feitos pelo Secchin, que é o diretor que mais tem me agradado ultimamente. Fora esses dois clipes tem mais um dirigido pelo William Sossai, um diretor capixaba que está morando em Lisboa. Esse último clipe foi rodado em Angola e é cheio de danças africanas.

Você é uma das atrações do Lollapalooza Brasil 2014, que acontece poucos dias após a estreia do novo disco. Vai ser o show de lançamento do novo disco ou teremos alguma outra apresentação específica?

O show do Lollapalooza vai ser o primeiro com a minha formação nova. Além do Hugo, que já tocava comigo, convidei dois músicos para comporem a banda e estou bem empolgado. O show vai ter algumas músicas do Claridão mas na maior parte serão músicas do Vista Pro Mar e um cover que ainda deve ser definido.

Recentemente você participou da edição portuguesa do X-Factor, gostaria que você contasse como aconteceu o convite e como foi participar do programa.

A Sony representa o meu trabalho aqui em Portugal e a minha música A Visita virou tema de uma novela portuguesa. Acredito que o convite veio por conta disso. Eles sabiam que eu estava em Lisboa e resolveram me convidar para me apresentar na final do programa. Foi uma honra e uma experiência nova pra mim.

Entrevista originalmente publicada no Brasil Post

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.