Cleber Facchi
Texto originalmente publicado na Freak! Mag #1
Formas límpidas e claras, sons construídos com o máximo possível de menos, delicadezas, discrição, inserções apenas quando necessário, todos elementos que compõem a estética minimalista, um movimento artístico e cultural que tomou conta das artes plásticas, música, arquitetura e literatura por volta dos anos 60 e 70, mas que estranhamente fluem com uma funcionalidade coerente nos dias de hoje. Em tempos irrequietos em que o “mais” prevalece na maioria dos casos a contra-resposta do “menos” parece como uma alternativa eficiente.
Embora estivesse durante anos presa à música eletrônica e a parcos artistas do cenário alternativo (principalmente os voltados para a música instrumental), o minimalismo aos poucos passou a se emancipar dentro do cenário underground, se apoderando de raros grupos de indie rock ou de figuras que circundassem em torno desse mesmo movimento. Gradativamente até artistas da cena eletrônica passaram a compreender seus trabalhos para além de loopings enfadonhos e masturbatórios. Um dos primeiros a perceber isso foi o produtor alemão Hendrik Weber, que atua sobra alcunha de Pantha Du Prince e fez do minimalismo de suas composições eletrônicas um trabalho vivo e essencial para compreender esse tipo de som.
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Porém nenhum trabalho contemporâneo conseguiu explorar tal gênero com tamanha precisão e versatilidade pop quanto o disco de estreia dos britânicos do The XX. Embebidos pela soul music da década de 1970 e se valendo do gerar de acordes simplistas e herméticos, o quarteto composto por Romy Madley Croft, Oliver Sim, Jamie Smith e Baria Qureshi (que mais tarde deixaria o grupo) conseguiu em menos de um ano abandonar a total obscuridade que os cercava para brilhar como um dos maiores nomes da música naquele nem tão longínquo ano de 2009.
Foi difícil não encontrar alguém que não houvesse se encantado com o brilho de faixas como VCR, Islands ou Basic Space. O uso de uma sonoridade deliciosamente planejada e que se dividia nas onze faixas do álbum fez com que o quarteto se sobressaísse mesmo em um ano onde artistas como Phoenix, Animal Collective, Grizzly Bear e Yeah Yeah Yeahs lançavam os melhores álbuns de suas carreiras até então. Foi estranho (e ao mesmo tempo interessante) ver a sempre excelente Karen O despejando seus vocais de maneira monumental em Heads Will Roll, mas ser categoricamente derrubada por Romy Croft cantando baixinho em Crystalized.
Quem também lançava um ótimo trabalho nesse mesmo ano e igualmente apoiado dentro dessa temática minimalista foi a dupla sueca jj. O casal Joakim Benon e Elin Kastlander debutava com o lançamento de Nº 2, que ao contrário do álbum dos britânicos se embrenhava por uma sonoridade muito mais esvoaçada e pensada dentro da música eletrônica. Fazendo alusões à maconha e outras substâncias ilícitas (a capa do disco é uma folha de cannabis) o disco flui como uma suave viagem lisérgica embalada por batidas discretas e os vocais abafados de Kastlander te guiando por dentro de um cenário esbranquiçado ou formatado em cores de tons pastel.
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Desde o final da década de 1990 que um estilo pensado em cima de composições minimalistas e reverberações controladas tem se espalhado pelo circuito eletrônico londrino, o chamado dubstep, outro ritmo que compactua dentro dessa mesma estética reducionista. Aqui os produtores dão preferência a faixas ecoando as mesmas climatizações do dub que se compõem com a inclusão de batidas no ritmo 2-step, um quase hip-hop um pouco mais sôfrego.
Nomes como Joy Orbison e Burial foram os grandes responsáveis por transportarem as batidas comportadas do dubstep para dentro do cenário alternativo, feito que a partir de 2009 (sim, esse foi o ano chave para a música minimalista) tomou um alcance muito maior. Gente como Mount Kimbie e principalmente James Blake (que acaba de lançar seu primeiro e belíssimo disco de estúdio) entregaram suas criações polidamente construídas e dotadas inclusive de uma aura um tanto quanto “sexual”. Mas se o sexo pode ser minimalista, isso já é assunto para outro texto.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.