Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2012

The Darkness
British/Glam Rock/Rock
http://www.theactualdarkness.com/

Por: Cleber Facchi

Por vezes esquecido ou inutilizado por grande parte das bandas, o bom humor parece ser a principal marca e a engrenagem que movimenta o registro de estreia da banda inglesa The Darkness. Intitulado Permission to Land (2003, Atlantic), o álbum vai de encontro ao purpurinado universo do Glam rock que aflorou na segunda metade da década de 1970, incorporando elementos que por vezes beiram o hard rock operístico proclamado por bandas como Queen, e até se deixando conduzir pelos mesmos exageros que definem a obra do Aerosmith. O bom humor, entretanto, é apenas um caminho para uma sucessão acertos que da capa clássica aos versos definem a obra de estreia do grupo.

Formado no começo de 2000 na cidade litorânea de Lowestoft, no sudoeste da Inglaterra, o grupo traz nos vocais Justin Hawkins a principal característica da banda, que ao brincar com o tom escrachado das canções alcança um resultado que imediatamente cola nos ouvidos. Arremessando riffs e versos fáceis em todas as direções, o quarteto alcança um disco que mesmo tomado pelo caráter de comicidade, incorpora de forma criativa todos os elementos que definem de maneira fundamental o rock clássico e toda a variante de caminhos assumidos por ele.

Embora o grupo traga no arrasa quarteirões I Believe in a Thing Called Love a canção símbolo de todo o disco, quanto mais mergulhamos no interior do registro, mais a banda revela uma sucessão de faixas que assumem os mais distintos elementos de toda a produção do hard rock dos anos 70/80. De faixas embebidas por um romantismo tosco e incrivelmente encantador, como Love Is Only A Feeling, no melhor estilo Bon Jovi de ser, até criações mais aceleradas como Stuck In A Rut, a todo o instante o grupo nos arrasta para um labirinto gigante de exaltações nostálgicas.

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Completo oposto de tudo que predominava na música alternativa daquele momento, o álbum parecia servir como um respiro mediante a infinidade de grupos apoiados em referências diretas ao revival pós-punk. É como se em meio ao vasto número de registros inspirados por exaltações plásticas, versos matematicamente organizados ou composições tomadas por um lirismo maduro, os britânicos estabelecessem um verdadeiro caráter de anarquia e perversão sonora. Afinal, não há como não se encantar com os falsetes de Hawkins em faixas como Get Your Hands Off My Woman ou Givin’ Up, uma completa desordem em meio a seriedade que consumia a música do período.

Ao mesmo tempo em que o grupo atrai pelo tom carismático e bem humorado das canções, não há como descreditar a boa afinação do vocalista, bem como a instrumentação coesa que contribui para o tom assertivo do curto registro. Das guitarras crescentes que se concentram na faixa de abertura Black Shuck, indo pelo toque quase country de Friday Night, até os anseios românticos e dolorosos de Holding My Own, tudo funciona de maneira envolvente, com o grupo alcançando o mesmo desempenho que grandes representantes do rock clássico, como Queen, Led Zeppelin e AC/DC conseguiram apresentar em seus maiores trabalhos.

Praticamente contra os experimentos eletrônicos do Radiohead em Hail to the Thief, enfrentando as guitarras do segundo disco do Strokes e desviando da cena dance punk encabeçada por Echoes do The Rapture, Permission To Land talvez seja o único álbum do mais puro e verdadeiro rock lançado em 2003 – mesmo que o disco por vezes acabe satirizando uma série de marcas do estilo. Descompromissado ao mesmo tempo em que se movimenta de forma intencionalmente comercial, o álbum funciona como um tratado em que luzes, paetês e muitas camadas de maquiagem se misturam a riffs cativantes e versos que precisam ser cantados em coro.

Permission To Land (2003, Atlantic)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: T. Rex, King Tuff e Free Energy
Ouça: Givin’ Up, I Believe In A Thing Called Love e Love Is Only A Feeling

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.