Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 01/03/2013

Annie
Norwegian/Pop/Electronic
http://www.myspace.com/anniemusic

 

Por: Cleber Facchi

Annie

Enquanto a multiplicidade de lançamentos que tomaram conta do cenário musical em 2004 – entre eles Funeral do Arcade Fire e Sung Tongs do Animal Collective -, garantiram nova cara ao cenário alternativo, no outro extremo a música pop passava por um nítido processo de reformulação. Depois da avalanche de registros ruins que marcaram o fim da década de 1990, um catálogo de novos artistas trataram de assumir o estilo com inovação. Caso dos nova-iorquinos do Scissor Sisters, com o resgate da Disco Music, Franz Ferdinand e o tom descompromissado entregue ao Rock, e a mais importante deles, Anne Lilia Berge Strand, ou apenas Annie, cantora norueguesa hoje parcialmente desconhecida, porém responsável por um dos registros mais influentes do pop contemporâneo, Anniemal.

Se nomes como Icona Pop, La Roux, Charli XCX e demais artistas recentes passeiam com destaque entre o pop e a cena alternativa, parte disso vem da abertura iniciada por Annie e colega Robyn no começo da década passada. Enquanto a cantora sueca absorveu as pistas e a música eletrônica de forma sintética, assumindo um rumo exato para os trabalhos lançados a partir do álbum homônimo de 2005, a norueguesa manteve firme os acertos com o pop – marca que vez ou outra reverbera involuntariamente em trabalhos recém-lançados. Assumidamente influenciada por Madonna, Pet Shop Boys, Kate Bush e demais ícones dos anos 1980, a artista soube tratar das referências como um mecanismo para alcançar o ineditismo.

Habituada ao uso exato de vozes e melodias plásticas – fruto de diversas colaborações com outros artistas desde o começo dos anos 1990 -, Annie e os produtores que a acompanham no decorrer das 12 faixas tinham noção exata do que queriam alcançar. Basta uma audição de qualquer faixa (do começo, meio ou fim da obra) para perceber a capacidade que as canções tem de grudar nos ouvidos. Mais do que isso, hits chiclete como Chewing Gum, Helpless For Love e, principalmente, Heartbeat se mantém irretocáveis, mesmo passados quase dez anos de seu lançamento. Uma completa oposição da obsolescência programada de centenas de composições atuais diariamente despejadas em cima do público. Música pop, porém, sem deixar de ser inteligente.

 

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Se existe longevidade em Anniemal, parte disso vem dos versos que melodicamente se acomodam no decorrer da obra. Um jogo rápido de palavras que se sobrepõem, mexem com diversos sentimentos, simplificam o que poderia soar complexo e ainda servem para dançar. São versos que falam sobre amor, percepções mundanas e recortes simples do cotidiano, mas que estranhamente surgem como novos nas palavras assinadas (quase) individualmente por Annie. Enquanto Heartbeat parece ser uma das melhores composições já escritas sobre a descoberta do amor (e todos os sentimentos que o envolvem), No Easy Love aprece como um oposto, palavras que se transformam em tristeza.

Com base na riqueza dos versos, a cantora e os produtores trataram de absorver a música pop (e as referências que flutuam pela mente da artista) com foco na elaboração de um imenso cardápio de colagens instrumentais. Enquanto Helpless For Love transforma os ensinamentos de Björk em um material totalmente vendável, Anniemal (a música) brinca de forma grudenta com uma medida funkeada entre o pop e a eletrônica. Já em Chewing Gum, Annie se aproveita das batidas do R&B enquanto teclados cíclicos abrem caminho para os samples que posteriormente resultam no electropop épico de Always Too Late. Décadas de música pop e diferentes propostas diluídas em pouco mais de 40 minutos de duração.

Construído ao longo de cinco anos – tempo demais para um trabalho do gênero -, o cuidado que orienta cada instante de Anniemal não poderia resultar em nada além de uma obra recheada de composições vendáveis, duradouras e ainda hoje à frente de seu tempo. Contrariando boa parte das artistas da época, Annie escolheu romper com a linearidade, apostando em aspectos musicais tão distintos entre si, que simplesmente classificar o álbum como um mero exemplar da música pop parece um erro. Ainda que exista plasticidade na sonoridade, versos e no conceito que materializa a obra, o sentimento e as pequenas confissões da norueguesa são maiores, marca que ainda hoje parece insuperável, mesmo para a própria artista.

 

Annie

Anniemal (2004, 679)


Nota: 9.0
Para quem gosta de: Robyn, Sally Shapiro e Goldfrapp
Ouça: o disco todo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.