Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2011

3 Na Massa
Brazilian/Alternative/Experimental
http://www.myspace.com/3namassa

Por: Cleber Facchi

 

Imagine o seguinte cenário: três músicos embalados pelos ensinamentos de Serge Gainsbourg, construindo uma sequência de tramas instrumentais para que belas vozes femininas declamem, sussurrem, cantem e nos conquistem com uma coleção de faixas que passeiam pelo melancólico, o raivoso e o sedutor. Agora saia do campo da imaginação e entregue-se de maneira envolvente ao disco Na Confraria das Sedutoras, trabalho lançado em 2008 e que trouxe grandes vozes femininas da música brasileira interpretando inéditos versos, todos escritos por um pequeno batalhão de figuras masculinas.

O projeto encabeçado por Pupilo e Dengue, ambos da Nação Zumbi, além de Rica Amabis, um dos integrantes do Instituto, tem em sua abertura os vocais inebriantes da atriz Leandra Leal, que em meio a versos recitados em francês e português encaminham o ouvinte para dentro da atmosfera esvoaçada do disco, transmitindo todo o acalentador e envolvente clima que se desdobrará no decorrer do disco. Na sequência, Thalma de Freitas e Céu assumem respectivamente O seu Lugar e Doce Guia, duas canções que se dividem entre a conquista e a ausência.

Amorosa, Tatuí, cantada na voz da também atriz Karine Carvalho brinca com os jogos de olhares em seus versos, enquanto os vocais arrastados costuram suavemente a instrumentação que se utiliza de ritmos latinos, pequenos toques de psicodelia e boas guitarras, um quase contraponto à seriedade encontrada na canção seguinte, Estrondo. A música cantada por Geanine Marques (Stop Play Moon) subentende a criação de um ambiente obscuro, onde uma figura feminina prepotente humilha, seduz e se despede em meio a trechos fortes em um instrumental quase inexistente.

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Livre das tradicionais guitarras que marcam sua carreira solo, a baiana Pitty assume com elegância e destaque Lágrimas Pretas. Enquanto a cantora se perde em meio a lamentos e sussurros, o trio de músicos entra com uma boa instrumentação, onde a linha de baixo de Dengue revela-se como elemento de destaque. Enquanto Simone Spoladore declama versos quase ausentes de pudor em Pecadora, a carioca Nina Becker se entrega em meio a lamentos chorosos em O Objeto, demonstrando a variação de ritmos, temas e sensibilizações que tomam conta do álbum.

Dentro dessa mesma inconsistência de apontamentos dados ao disco, surgem Cyz, Nina Miranda e Karina Falcão, em uma tríade de canções que exploram as sensações femininas (Quente Como Asfalto), a mágoa do abandono (Morada Boa) e a instabilidade dos relacionamentos (Certa Noite). O fechamento do disco fica por conta de Lurdez da Luz (Mamelo Sound System), versando em Sem Fôlego, enquanto a atriz Alice Braga acrescenta o ponto final a obra com os curtos versos de Tarde Demais.

Na Confraria das Sedutoras conta ainda com a presença “invisível” de Rodrigo Amarante (Los Hermanos) Junio Barreto, Jorge Du Peixe (Nação Zumbi), Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), alguns dos responsáveis por construir os 13 poemas que vão aos poucos sendo musicados e cantados no desenrolar desse envolvente projeto.

Na confraria das Sedutoras (2008)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cidadão Instigado, Otto e Eddie
Ouça: Tatuí

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.