Resenha: “99.9%”, Kaytranada

/ Por: Cleber Facchi 11/05/2016

Artista: Kaytranada
Gênero: Electronic, Experimental, Hip-Hop
Acesse: https://soundcloud.com/kaytranada

 

De composições feitas sob encomenda para Katy B (Honey) e Azealia Banks (Along the Coast), passando pela série de remixes para nomes como M.I.A. (Bad Girls), Disclosure (January) e até Janet Jackson (Alright), Louis Kevin Celestin passou a última meia década explorando diferentes campos da música eletrônica, pop e Hip-Hop. Produtor responsável pelo projeto Kaytranada, o artista de origem haitiana encontra no primeiro álbum de estúdio a possibilidade de expandir a própria sonoridade.

Com faixas produzidas entre 2014 e 2016, 99.9% (2016, XL) mostra a capacidade de Celestin em brincar com diferentes gêneros e até mesmo cenas musicais sem necessariamente perder o controle da própria obra. Em cada uma das 15 músicas que preenchem o disco, um curioso ziguezaguear de experiências, como se o produtor testasse os próprios limites. Canções que brincam com as rimas (Drive Me Crazy), vozes (Together) e arranjos (Weight Off) de forma sempre volátil, curiosa.

Frequentemente comparado com nomes como Flying Lotus, Teebs e outros produtores de peso do atual cenário norte-americano, Kaytranada usa do trabalho como uma ferramenta inteligente de construção da própria identidade musical. Em um sentido oposto ao som abstrato/etéreo produzido por diferentes representantes do estilo – principalmente Steven Ellison –, Celestin abraça de forma explícita a construção de um som linear, preciso, como se o disco todo fosse pensado como base para a voz de outros artistas.

Não por acaso, grande parte do disco se abre para a interferência direta de um time imenso de convidados. Nomes como AlunaGeorge (Together), Vic Mensa (Drive Me Crazy), Anderson .Paak (Glowed Up) e o grupo sueco Little Dragon (Bullets). Difícil escapar da assertiva colaboração entre Kaytranada e a novata Shay Lia em Leave Me Alone. Enquanto o produtor testa referências, indo de beats experimentais ao uso de temas dançantes, íntimos da cena britânica, a convidada parece ocupar todas as brechas da canção, espalhando um canto limpo, sedutor.

Até mesmo quando Celestin atua de forma solitária, a voz acaba se transformando em um componente fundamental para o sustentação do trabalho. Um bom exemplo disso está em Lite Spots. Próxima ao encerramento do disco, a composição que utiliza de samples da música Pontos de Luz – originalmente gravada por Gal Costa no álbum Índia, de 1973 – mostra a voz da cantora brasileira como um “instrumento”. Efeitos e pequenas manipulações que tornam a canção uma das peças mais delicadas do álbum.

Imenso, em 99.9% Kaytranada acerta justamente ao explorar diferentes conceitos, sonoridades e até mesmo novas mídias – no site do produtor, você encontra um jogo que utiliza a mesma arte e base instrumental do disco como estímulo para as ações. Uma colagem inusitada de de ideias, ritmos e vozes compartilhadas com diferentes artistas que dialogam com a mesma imagem colorida que estampa a imagem de capa do trabalho.  

 

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99.9% (2016, XL)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Flying Lotus, BADBADNOTGOOD e Shlohmo
Ouça: Leave Me Alone, Lite Spots e Bus Ride

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.