Resenha: “Arco & Flecha”, Iara Rennó

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2016

Artista: Iara Rennó
Gênero: Rock, Alternative, Experimental
Acesse: http://iararenno.com/

 

Três anos após o lançamento de Iara (2013), obra que cobriu com guitarras o trabalho de Iara Rennó, a cantora e compositora paulistana está de volta não com um, mas dois álbuns repletos de composições inéditas. De um lado, a crueza e feminilidade do elétrico Arco, obra de nove canções assumidas em parceria com um time de mulheres que ocupam os versos e instrumentos do trabalho. No outro oposto, o complementar Flecha, disco que abraça a MPB e mostra a colaboração entre Rennó e um grupo de cantores, músicos e compositores em uma sequência de outras nove músicas.

Com Mama-me como faixa de abertura do primeiro disco, Rennó indica a forte sexualidade e temática do empoderamento feminino que ocupa grande parte das composições em Arco. “Sonha que me despe / E a festa acontece / Sem roupa nem confete / Só carne“, canta enquanto as guitarras e um jogo sujo de sintetizadores crescem ao fundo da canção. Uma espécie de preparativo para o agressivo jogo de palavras que abastece músicas como Corpo Selvagem e Vulva Viva, fragmentos extraídos do livro de poemas eróticos Língua Brasa Carne Flor, estreia literária de Rennó, além músicas que dialogam de forma explícita com a sonoridade crua, essencialmente caótica, que abastece o último álbum da cantora.

De fato, a semelhança com o som produzido em Iara é enorme. Do uso pulsante da voz em Instante ao completo descontrole das guitarras em Meus Vãos, instrumento que passeia livremente durante toda a obra, Rennó faz de Arco uma madura continuação do trabalho entregue há três anos. São quase 30 minutos em que a cantora se desdobra na construção dos arranjos e vozes, abrindo espaço para a precisa interferência da dupla Mariá Portugal (bateria/mpc) e Maria Beraldo Bastos (clarone), principais colaboradoras do trabalho e personagens fundamentais para a produção de um som essencialmente cru, urgente, completo oposto do material que detalha as canções do complementar Flecha.

Livre do minimalismo que orienta as canções de Arco, Rennó faz da segunda metade do trabalho – o lado “masculino” -, uma obra marcada pelas texturas e ritmos. Em parceria com a cantora, um time formado por Curumin (bateria, teclado, mpc e produção), Maurício Badé (percussão), Lucas Martins (baixo e violão), Gustavo Cabelo (guitarra), Maurício Fleury (teclados), Daniel Gralha (trompete e fluguelhorn) e Cuca Ferreira (sax barítono). O resultado não poderia ser outro: uma explosão de cores, vozes, texturas e instrumentos. De forma autoral, um curioso regresso ao mesmo universo de referências exploradas nas canções do DonaZica, antigo projeto de Rennó em parceria com Anelis Assumpção e Andréia Dias.

A mesma pluralidade de ritmos que orienta cada uma das canções em Flecha também serve de incentivo para a rica formação dos versos. Músicas como Invento, parceria com Curumim, e a cativante Querer Cantar, composições que se distanciam da poesia erótica de Arco de forma a mergulhar em temas cotidianos, românticos e até mesmo referências religiosas. Sobram ainda rápidas interpretações como, Ritmo da moçada, música composta por Negro Leo e Quebra, dividida entre Domenico Lancellotti e Bruno di Lullo.

Dinâmico, Arco & Flecha segue o caminho oposto de grande parte das obras duplas. Trata-se de uma obra precisa, livre de possíveis excessos e composições descartáveis, como se cada canção apresentada por Rennó cumprisse uma função específica dentro do trabalho. Uma explosão controlada que tem início na urgência de Mama-Me, passa por músicas como Vulva Viva e Meus Vãos, respira na curtinha Sabiá Sabe e segue de forma segura até o último grito (ou palma) que se espalha ao fundo da derradeira Se Amanhece.

 

Arco & Flecha (2016, YB)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Karina Buhr, Curumin e Ava Rocha
Ouça: Mama-Me, Meus Vãos e Querer Cantar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.