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Críticas

Vários Artistas

: "Black Panther"

Ano: 2018

Selo: Top Dawg / Aftermath / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West, Jay-Z

Ouça: All The Stars, Opps e Bloody Waters

8.0
8.0

Resenha: “Black Panther”, Vários Artistas

Ano: 2018

Selo: Top Dawg / Aftermath / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West, Jay-Z

Ouça: All The Stars, Opps e Bloody Waters

/ Por: Cleber Facchi 13/02/2018

Primeiro filme do universo Marvel protagonizado por um afrodescendente, Pantera Negra nasce como uma obra de inegável apelo revolucionário para a indústria do cinema. Do elenco composto essencialmente por atores negros, passando pela direção de Ryan Coogler e referências diretas à cultura africana, cada elemento da película parece pensado para exaltar o povo preto, esmero que se estende de forma explícita à trilha sonora do projeto, trabalho que conta com a produção e curadoria criativa dividida entre o rapper Kendrick Lamar e Anthony Tiffith, responsável pelo selo Top Dawg Entertainment.

Pontuado por elementos e citações diretas ao filme, a trilha sonora de Pantera Negra parece ir além do universo de Wakanda, onde se passa grande parte da ação da película. Trata-se de uma obra capaz de dialogar com diferentes núcleos do Hip-Hop/R&B espalhados pelos quatro cantos do planeta. De Londres à costa africana, de Los Angeles à Nova York, uma obra que se abre para a chegada dos mais variados representantes que marcam a recente fase da música negra.

Do momento em que tem início, em Black Panther, composição assumida individualmente por Lamar, até a derradeira Pray For Me, encontro musical com o canadense The Weeknd, cada fragmento do álbum se articula de forma a apresentar o trabalho de veteranos e novatos de forma sempre provocativa. Uma coleção de ideias que abraça a música pop de maneira inteligente, como em I Am, música entregue aos comandos de Jorja Smith, porém, a todo instante regressa ao uso de elementos e referências extraídas diretamente do continente africano, como em Redemption, de Zacari e Babes Wodumo.

Versátil, o trabalho de 14 faixas e pouco menos de 50 minutos de duração costura diferentes gêneros e possibilidades de forma a transformar cada composição em um objeto precioso. Sem necessariamente abraçar um gênero específico, cada composição se espalha em meio a camadas de criativo invento, décadas e referências tão distantes quanto próximas. Síntese dessa pluralidade ecoa de forma explícita na sequência formada por Bloody WatersKing’s Dead. Em um intervalo de poucos minutos, um time composto por Jay Rock, Kendrick Lamar, Future, James Blake, Ab-Soul e Anderson .Paak parece testar os próprios limites dentro de estúdio, colidindo diferentes fórmulas e conceitos que vão do soul/funk dos anos 1970 ao rap da década de 1990.

Interessante perceber em Black Panther uma espécie de continuação do material produzido por diferentes artistas no último ano. Exemplo disso está na parceria entre Vince Staples e Yugen Blakrok, Opps, música que parece ter saído do ótimo Big Fish Theory (2017). Em All The Stars, possivelmente a faixa mais comercial da obra, uma canção que parece ampliar parte do universo detalhado por SZA no elogiado Ctrl (2017). Mesmo o a homônima faixa de abertura do disco poderia facilmente ser encontrada no último álbum de Lamar, DAMN. (2017).

Pensado para além dos limites da tela, Black Panther pinta um curioso retrato da música negra e seus múltiplos aspectos dentro do presente cenário. São diferentes ritmos, vozes, conceitos e referências que se cruzam a todo instante, resultando em um trabalho de essência plural, amplo. Uma obra claramente guiada pela veia política de Lamar, vide composições como King’s Dead, X, Seasons e a própria faixa-título do disco, porém, acessível ao grande público, cuidado que se reflete mesmo nos instantes de maior complexidade da obra.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.