Resenha: “Blisters”, Serpentwithfeet

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2016

Artista: Serpentwithfeet
Gênero: R&B, Soul, Alternativa
Acesse: https://www.facebook.com/serpentwithfeet/

 

Original da cidade de Baltimore, Maryland, Josiah Wise passou grande parte da adolescência e início da vida adulta se aprofundando no estudo de canto clássico. “Eu realmente não acho que tenho uma vantagem sobre outros artistas. Sinto que estou sempre tentando encontrar a minha voz”, disse o artista de 27 anos em entrevista à Wonderland Magazine. O resultado de todos esses anos de aperfeiçoamento está em Blisters (2016, Tri Angle Records), primeiro registro de estúdio do cantor como Serpentwithfeet.

Claramente inspirado pelo trabalho de veteranos como Björk e ANOHNI, Wise fez do registro de apenas cinco faixas um delicado exercício de pura experimentação. Acompanhado de perto por Bobby Krlic (The Haxan Cloak), artista que trabalhou na produção de obras como Vulnicura (2015), o cantor norte-americano lentamente testa os limites da própria voz, transformando medos e confissões românticas no principal combustível da obra.

Mesmo com quase sete minutos de duração, a homônima faixa de abertura do disco parece refletir todo o potencial do trabalho em pouquíssimos segundos. Entre arranjos minimalistas e bases atmosféricas que poderiam facilmente ser encontradas nos últimos discos de Björk, Wise passeia livremente com a própria voz, detalhando sentimentos e sussurros intimistas que mudam de direção a cada novo movimento instrumental orquestrado por Krlic.

Em Flickering, segunda composição do trabalho, um ato de puro romantismo. Enquanto Wise se entrega do primeiro ao último verso – “Meu coração é forte / Minha vontade é forte / Tome este corpo como o seu / Não me deixe duvidar de você” –, Krlic utiliza da voz do cantor como um instrumento complementar. São pequenas inserções pontuais, conceito também assumido em Four Ether, música em que o produtor deixa crescer um precioso arranjo de cordas, reforçando ainda mais a carga dramática que rege o álbum.

Quinta faixa do disco, Penance talvez seja a composição em que a voz de Wise melhor se projeta no interior do trabalho. São pouco mais de dois minutos em que Krlic cria uma atmosfera claustrofóbica, efeito da guitarra climática que se estende do primeiro ao último instante da faixa. Difícil escapar da espiral de emoções criada pelo cantor, tão sensível e intenso quanto ANOHNI em obras como I Am a Bird Now (2005) e o recente HOPELESSNESS (2016).

Para o encerramento do disco, a melancolia de Redemption. Inicialmente livre de instrumentos, Krlic utiliza da voz do cantor como a base da composição, mergulhando em uma atmosfera silenciosa, intimista, típica dos trabalhos de Nina Simone – vide o clássico Feeling Good. Um fechamento livre de excessos, íntimo dos instantes iniciais do trabalho, como se Wise e o produtor convidassem o ouvinte a regressar ao começo do álbum diversas e diversas vezes.

Blisters (2016, Tri Angle Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: ANOHNI, Björk e The Haxan Cloak
Ouça: Blisters, Flickering e Penance

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.