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Críticas

Jack White

: "Boarding House Reach"

Ano: 2018

Selo: Third Man / Columbia / XL

Gênero: Rock, Blues Rock, Folk Rock

Para quem gosta de: The Black Keys e The Raconteurs

Ouça: Corporation e What's Done Is Done

5.5
5.5

Resenha: “Boarding House Reach”, Jack White

Ano: 2018

Selo: Third Man / Columbia / XL

Gênero: Rock, Blues Rock, Folk Rock

Para quem gosta de: The Black Keys e The Raconteurs

Ouça: Corporation e What's Done Is Done

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2018

Jack White não precisa provar nada a ninguém. Perto de completar três décadas de carreira, o cantor, compositor e empresário original de Detroit, Michigan, fez da lenta desconstrução da própria identidade artística o principal componente para a formação de uma discografia versátil, marcada em essência pela renovação. Do garage rock minimalista que embala as canções no The White Stripes ao misto de blues, folk e country rock aprimorado em carreira solo, cada trabalho lançado pelo artista norte-americano parece transportar o ouvinte para um novo território. Isso sem mencionar a infinidade de canções assinadas em projetos paralelos, como The Raconteurs e The Dead Weather, além de parcerias com Loretta Lynn e Beyoncé.

Terceiro e mais recente álbum de White em carreira solo, Boarding House Reach (2018, Third Man / Columbia / XL) talvez seja o trabalho em que esse confesso desejo de mudança seja tratado com maior naturalidade pelo guitarrista. Do uso de referências eletrônicas e sintetizadores que invadem a inaugural Connected by Love, passando pela inserção de temas percussivos, como na “tribal” Corporation, faixa após faixa, o músico norte-americano se concentra em provar de novas possibilidades dentro de estúdio.

Não por acaso, White decidiu investir em um grupo renovado de colaboradores para a produção do álbum. São nomes como o percussionista Louis Cato, veterano que já trabalhou com Beyoncé e John Legend; o tecladista Neal Evans, parceiro de Talib Kweli e um dos membros do projeto de soul/jazz Soulive; o percussionista Bobby Allende, parceiro de longa data de David Byrne, além, claro, das vozes de apoio do coletivo gospel The McCrary Sisters. Um time seleto de músicos que garante frescor ao trabalho, porém, acaba se perdendo em meio ao completo desequilíbrio gerado pela estrutura torta do registro.

Diferente dos dois primeiros discos em carreira solo, Blunderbuss (2012) e Lazaretto (2014), em Boarding House Reach, White explora cada composição individualmente, tornando a audição do álbum confusa. Uma ausência de direção que se traveste de experimento, como na série de improvisos espalhados pelo disco, mas que apenas reflete o desleixo por parte do instrumentista. Soma-se a isso o fato de que diversas canções são entregues ao público como esboços esqueléticos, ainda incompletos. Excertos e vinhetas aleatórias, vide a semi-jazzística Hypermisophoniac e Everything You’ve Ever Learned. Composições que talvez pensadas para as apresentações ao vivo, sobrevivendo da euforia do público, porém, deslocadas no interior do trabalho.

Mesmo dentro desse ambiente caótico, o que mais desagrada não é ver White tropeçando na própria tentativa de reinvento, mas na incapacidade do músico em realmente abraçar esse novo posicionamento estético. Sempre que passa para o lado experimental da obra, o cantor logo regressa à mesma zona de conforto dos primeiros discos. Dessa forma, músicas como Corporation, Abulia and Akrasia e Hypermisophoniac parecem descartáveis, servindo apenas de passagem para faixas como Over and Over and Over e todo o bloco de canções comerciais tratadas como cópias baratas dos antigos trabalhos do guitarrista.

A própria fragilidade explícita nos versos reflete a construção de uma obra menor. São poemas rasos, como na tentativa de relacionar o comportamento humano e animal em Why Walk A Dog?; a permanente repetição dos versos em Connected By Love e até a estranha tentativa de White em emular um rap em Ice Station Zebra, uma das canções mais tenebrosas do registro. Ideias arremessadas sem ordem aparente, por vezes gratuitas, fazendo de Boarding House Reach um álbum talvez entregue ao esquecimento, oposto de qualquer outro trabalho já produzido pelo músico.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.